Visita de cortesia

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Cecilia olha pela janela do apartamento do subúrbio.

Tudo naquele apartamento é tão simples, tão normal... Contrasta com o luxo que tem visto nos últimos meses, em suas visitas de desculpas as famílias dos mortos.

Foi xingada, algumas vezes ameaçada, mas, na maioria das vezes, sua visita trouxe algum conforto a familia.

Estava consolidando seu papel como a Mãe da Ordem Negra.

Véurr estava certo, ele parecia sempre estar certo.

Aquelas visitas lhe trouxeram um apoio, uma força inesperada. Muitas vezes quem mais a tratava mal durante as visitas, passava a apoiá-la.

Véurr disse que isso aconteceria:

"_ Deixa desabafarem, cuspirem, baterem e vomitarem. Por pra fora o veneno é cura. Vão te xingar mas vão te respeitar."

Essa visita a incomodava em especial, era a pessoa que mais a desafiava abertamente.

Sempre a questionava, era contra tudo que ela queria e quando podia, a humilhava durante as reuniões.

Era a casa de um dos mais respeitados conselheiros da Sociedade da Sacerdotisa, José.

Ele colocou uma xícara de café e um simples bolo de laranja a sua frente. Os dois comeram sem dizer uma palavra. Por fim, Cecilia resolveu quebrar o silêncio.

_ Obrigada por me receber.

José assentiu com a cabeça. Era hora de falar.

_ Sabe que eu vim para me desculpar pela morte do seu irmão, Mateus.

_ Nadia matou meu irmão na frente da filha, estourou a cabeça dele debaixo de um pneu, a funerária teve de fazer milagre para o caixão ficar aberto. Como você vai se desculpar por uma coisa assim?

_ Eu realmente sinto que sua família tenho passado por isso, e que sua sobrinha tenha visto o pai morrer. Ela se lembra?

_ Não... Acho que não, ela tem um pesadelo estranho que se repete, mas não lembra da cena.

_ Eu sinto por isso José. Sinto que ela tenha visto, e acho que ninguém sente tanto quanto Nadia, ela ficou muito mal depois que matou seu irmão.

_ Eu soube.

_ Mas tem que entender que o que ele fez com ela não tem perdão, especialmente ele, que foi o arquiteto dessa barbaridade.

_ Todos fazemos coisas que nos arrependemos.

_ Jose, seu irmão era pai, e pai de uma menina! Digo isso como mulher.

_ Meu irmão não era pai na época.

Cecilia respira fundo, não era hora de brigar.

_ Eu vim aqui para pedir desculpas, agradeço por ter me recebido, agora preciso ir.

Ele faz que não com a mão.

_ Eu não entendo você, mas te respeito. Essa sua visita pode ser uma cortesia, uma firula, ou podemos aproveitar a primeira vez que nos encontramos fora do conselho, e conversar de verdade.

Cecilia pensa por um momento. Olha nos olhos dele e fala:

_ Prefiro a verdade.

_ O que você pretende?

_ O que você está me perguntando?

_ Você tem de ter um plano, um objetivo! O que você quer de verdade?

ImperatrixOnde histórias criam vida. Descubra agora