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Já passava das 13hs quando Harry tocou a campainha da casa de Ariane. A casa era uma das poucas naquela rua composta por um único andar, cercada por altos e compactos prédios de locação, idênticos ao que Harry alugava com o tio.

Ele ouviu um grito de "Eu atendo!" e passos rápidos vindos de dentro da casa. Logo depois, Ariane abriu a porta. Ela usava um shorts jeans curto e uma camiseta laranja sem estampa. Seus cabelos estavam presos em uma trança única que lhe caía sobre o ombro. O penteado era quase idêntico ao que Genna Labart usara no dia anterior, Harry pensou.

- Oi - Ariane sorriu.

- Oi.

- Entre! - Ela abriu passagem e Harry entrou.

Como a casa não tinha segundo andar, ela não precisava de Hall. A porta de entrada dava para uma pequena sala de estar, mobiliada com um sofá grande e uma poltrona reclinável de frente a uma enorme TV embutida na parede. Embaixo dela, uma prateleira comprida continha dezenas de porta-retratos com fotos de Ariane criança. Harry se aproximou delas e apontou uma em que uma garotinha loira lia um livro enorme, sentada em uma poltrona de couro.

- Essa é você? - Ele perguntou.

- Sim, com cinco anos - Ariane olhava para a foto absorta - Nunca entendi, mas sempre gostei de livros com muitas páginas. Acho que é porque a história demora para acabar e você evita a depressão pós-término.

Harry assentiu. Era um tanto peculiar a garota dizer isso, já que seu livro favorito não tinha muitas páginas, pelo contrário. O restante da casa era aprofundada por um longo corredor, com duas portas de cada lado e uma abertura no fim, onde duas portas de vidro davam para o quintal. Ariane seguiu pelo corredor, parando na primeira porta à direita, onde ficava a cozinha.

- Quer beber alguma coisa?

- Claro - Harry se sentou no pequeno balcão de mármore,enquanto a garota pegava duas latas de refrigerante na geladeira - Onde está seu pai?

- Lá atrás - Ela lhe entregou a latinha - Cuidando do jardim. Ele faz muito isso quando não está escrevendo. Vamos, ele está louco para conhecê-lo.

Eles seguiram pelo corredor e saíram no quintal: um grande gramado, cercado por muros altos, com canteiros de flores bem-cuidadas separados simetricamente no lado esquerdo. Nos fundos, uma casa de bonecas cor-de-rosa era ladeada por pequenos pinheiros recém-plantados. À direita, um balanço de ferro, azul e vermelho, sacudia lentamente com o vento. No meio dos canteiros, usando botas de borracha e avental de jardineiro, um homem mexia distraidamente em pequenas orquídeas. Ao notá-los, ele se levantou e se aproximou.

- Você deve ser o Harry. Eu apertaria sua mão, mas... - Ele ergueu as mãos sujas de terra e Harry sorriu.

- Muito prazer, senhor.

Igor Hoffmann era o típico homem de meia-idade: cabelos grisalhos penteados para trás, rugas de riso ao redor dos óculos retangulares e olhos cinzentos como uma tempestade. Sua aparência era muito parecida com a de Robert Labart, porém sua postura indicava ser de um homem caseiro e não a de um empresário.

- Anne fala muito de você - Ele sorriu. O mesmo sorriso de lado que a filha tão bem herdara.

- Sério? - Harry ergueu as sobrancelhas para Ariane que corou levemente. Era a primeira vez que ele a via corar.

- Ah, pai - Ela disse, mudando de assunto - Nós vamos começar o trabalho. Vem, Harry.

Ela entrou na casa rapidamente. Harry acenou com a cabeça para Igor que retribuiu. Ele parecia se divertir.

O quarto de Ariane era totalmente o contrário do que ele imaginara. Como ela era filha de escritor, ele pensou em estantes de livros por todos os lados, como uma espécie de biblioteca. Mas a simplicidade do cômodo o surpreendeu: apenas uma cama de solteiro junto à janela, um criado-mudo com um abajur ao lado da cabeceira, uma pequena escrivaninha e um guarda-roupas com um espelho de corpo inteiro.

Na Flor da JuventudeOnde histórias criam vida. Descubra agora