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Manhattan, NY, 30 de maio

Querida mãe,

Perdoe-me por não escrever antes contando as novidades, é que os últimos dias têm sido extremamente corridos. Praticamente não paro em casa desde o dia de meu aniversário, que, por sinal, foi um dos melhores dias da minha vida. Não só por eu ter feito dezessete anos e finalmente ter a permissão de John para tirar a habilitação, mas por poder ver de perto a família Labart aumentar.

Sim! O bebê de Diana nasceu. Ou melhor, a bebê. É uma menina. Pequena e loirinha, assim como a mãe. E eu sei o que você está pensando, pois foi o mesmo que pensei quando recebi a ligação de Matt. Ela nasceu no mesmo dia que eu. Não é demais?! Daqui pra frente vamos comemorar dois aniversários num mesmo dia, o que, diga-se de passagem, será ótimo. Não gosto de receber tanta atenção, então é bom ter alguém para dividir isso. Ou até mesmo para receber a atenção total, o que eu realmente não ligo.

Mas essa não foi a única surpresa do dia. Depois que vimos a recém-nascida e saímos do quarto para Diana descansar, Law me puxou pelo corredor para o lado oposto ao da sala de espera do hospital. Eu via que ele ainda estava extasiado e seu olhar tinha o mesmo brilho orgulhoso que eu notara em Diana. Mas ainda assim fiquei meio preocupado por ele querer falar em particular comigo.

- Preciso te dizer uma coisa, mas ainda não quero que os outros escutem - Ele foi dizendo, o que me deixou mais nervoso - Diana e eu passamos muito tempo pensando no nome do bebê. E também ficamos um bom tempo decidindo sobre outra coisa importante.

- E o que seria? - Eu perguntei, impaciente com aquela embromação.

- Bem... Nós tínhamos que escolher um padrinho, não é? Então nos perguntamos: quem seria a pessoa ideal para isso? Pensei em Matt, que é tio de sangue, mas que se fosse padrinho seria ainda mais babão do que já está sendo. Pensei em meu pai, mas tanto ele como o Sr. Labart já serão vovôs grudentos e cairiam na mesma questão que Matt. Daí pensei em um dos gêmeos, mas acredito que se eu tenho dificuldade em distingui-los, a criança também terá. Então só sobrou uma pessoa que, apesar de não ter o mesmo sangue, com certeza terá grande participação na vida da nossa filha, além de ser um grande amigo e o responsável por fazer os pais dela se entenderem num momento tão complicado.

Fiquei um tempo encarando o sorriso e o olhar esperançosos dele até absorver suas palavras. Então era isso e eu aqui me preocupando à toa? Ele só queria me falar que... Espera aí. Ele estava falando sério? Ele realmente...

- Quer que eu seja o padrinho da sua filha? - Foi essa a pergunta tola que eu fiz, porque só agora a ficha tinha caído. Abri um sorriso ao mesmo tempo surpreso e feliz.

- Eu quero saber se você aceita antes de anunciar pra todo mundo - Law colocou a mão em meu ombro, agora o sorriso tão largo quanto o meu - E então?

Nem preciso dizer minha resposta, não é? Só posso afirmar que nunca estive tão feliz em toda a minha vida. E, acredite ou não, eu ainda não contei o melhor. O nome da bebê é Mayra. Isso mesmo! A filha de Diana terá seu nome. Confesso que quase caí para trás quando isso foi anunciado. Encarei Law e Diana que sorriam com a cara de surpresa de todos e só consegui rir. Diferente de tia Genna que começou a chorar ainda mais do que já estava. E John, bem... Seus olhos marejados eram mais do que significativos.

Diana está em casa agora, sob os cuidados de tia Genna que ainda não voltou a trabalhar. Ela cuida do jardim e passa na floricultura de vez em quando, mas fica a maior parte do tempo em casa, apesar da insistência de tio Rob em dizer que "Diana não está doente, Gen. Apenas está de resguardo". Mas você conhece tia Genna. Seu ímpeto super protetor se ativou no momento em que a filha e a neta saíram do hospital.

Falando em hospital, hoje fui ao médico para um último exame no meu pulso esquerdo. O gesso foi retirado semana passada, mas precisei voltar lá já que estou treinando incansavelmente para o jogo da final. A final! Meu Deus!, como estou ansioso. Algo que estou esperando há tanto tempo e amanhã será o grande dia. A escola toda estará lá, assim como os parentes e as pessoas da outra escola. E, quem sabe, não tenha alguém mais escondido no meio da torcida. Não que eu esteja esperando que os olheiros de alguma universidade famosa vá nos assistir, mas, como eu disse, quem sabe?

Voltando a falar da minha habilitação, eu já passei no exame escrito e agora só me falta o teste de direção. É claro que eu já sei dirigir, pois mesmo não tendo permissão de pegar o carro, John me deixava dar umas voltas vez ou outra, sempre com ele ao meu lado. Principalmente quando íamos ao shopping e ele me ensinava a estacionar. Por isso, acho que não terei dificuldades no teste. Não serei mais o único da turma a não ter habilitação. Vou parar de ser motivo de piada de Matt e Ariane.

Ariane... Eu não sei bem como está o nosso "relacionamento intrincado" como Matt gosta de dizer. Às vezes acho que ela tem o interesse em ser minha namorada ou algo assim - principalmente pelas demonstrações de carinho em público -, mas sempre bato naquela mesma tecla, lembrando do que ela disse há um tempo sobre não querer se envolver com ninguém. Veja bem, nós nunca mais nos beijamos desde aquele dia na sua casa. O que eu deveria pensar disso? Ela age como se aquilo não tivesse acontecido. Mas ao mesmo tempo age como se esperasse uma atitude minha. Mas ao mesmo tempo parece indiferente a um relacionamento. É impossível saber o que se passa naquela cabeça. Uma droga, eu sei, mas não quero acabar com... O que quer que tenhamos. Eu sou um idiota.

Mas tem um lado bom em ser amigo de Ariane Hoffmann: ela realmente se importa com você. Quando passeamos pela cidade, eu vi em uma loja de discos um quadro que me chamou a atenção e prometi a mim mesmo que o compraria. Para a minha surpresa, um dia depois do meu aniversário eu recebi uma encomenda e uma mensagem de Ariane no celular: "Mantenha as boas memórias e, se possível, lapide-as com sua felicidade vigente". Eu sabia que aquela era uma citação do epílogo que ela escrevera no livro do pai, e quando abri a encomenda, não pude deixar de sorrir com a visão daquele quadro que ocupa agora a parede acima da minha escrivaninha.

Estou olhando para ele agora e baixando a música que você tanto cantava para me fazer sentir bem, mãe. A sua música favorita dos Beatles. Aquela canção que parecia inaudita em sua voz. Esse quadro contém a capa daquele disco que tanto ouvimos. E agora será uma lembrança a mais de você, uma memória a ser lapidada com toda a felicidade que estou sentindo neste momento e a que sentirei de agora em diante.

Enfim... Isso é tudo por hora. Espero que esteja bem, mãe. Dê um abraço no papai.

Com amor,

Harry

***

Na Flor da JuventudeOnde histórias criam vida. Descubra agora