21

1K 121 12
                                    

O Dia de Ação de Graças é realizado na quarta quinta-feira de Novembro, mas para Harry, ele começou muito antes.

O convite para jantar foi aceito por Igor e Ariane. A garota ficou feliz, pois finalmente iria conhecer John e teria a chance de perguntar sobre os privilégios de ser arquiteto. Então, já na Segunda-Feira pré-feriado, Harry estava sentindo o nervosismo aumentar. Porém, Matt bufava sempre que ele tocava no assunto.

- Você convive com ela todo santo dia! Por que ficar nervoso?

Eles se apertavam no corredor lotado se encaminhando para a aula de Física. Matt usava o velho boné virado para trás e uma blusa de touca azul-escura. Ele passara o dia inteiro reclamando de dor de cabeça, e sempre que Harry tocava no nome de Ariane, ele respondia com irritação.

- Bem - disse Harry - É que ela nunca foi na minha casa.

- Mas você já foi na casa dela.

- Sim, até terminarmos o trabalho de História.

- Então, qual a diferença? Vocês ficaram sozinhos um tempão e não rolou nada. Nem mesmo quando estavam bêbados na casa da Hellen. Por que iria acontecer alguma coisa agora?

- Não estou preocupado com isso.

- Então com o quê?

Harry se calou. Na verdade, ele não sabia o que o estava preocupando. Depois da noite em que eles ficaram cara a cara, ele mantinha acesa uma esperança para com Ariane. A própria garota tinha demonstrado algo, quando seu coração acelerou na hora em que ela estava deitada em seu peito, ou quando ela ficara vermelha ao se despedir dele antes de entrar em casa. Porém, na escola ela estava totalmente diferente. Ela era... Ela! Não demonstrava nada de diferente em relação a Harry, conversava com ele normalmente, como se nada tivesse acontecido.

De início Harry estranhou esse comportamento. Achou que as coisas mudariam entre eles depois do que rolou. Ou quase rolou. Mas, depois se um tempo, ele preferiu reprimir seu pensamento. Resolveu deixar as coisas como estavam, apesar de sentir uma pontada de desapontamento toda vez que os amigos comentavam sobre aquela noite e Ariane mudava de assunto, dizendo coisas como: "Tudo bem, foi legal, mas já passou".

Eles foram os primeiros a chegarem na sala de aula. Se sentaram nas carteiras de sempre, no meio da classe. Apesar de a maioria dos alunos estarem na escola a mais tempo, aquele se tornou um lugar exclusivo de Harry em todas as salas. Mesmo quando ele chegava atrasado, a quarta carteira da terceira fileira da porta sempre estava vazia.

- Eu poderia ficar horas dizendo o que acho dessa sua crise de adolescente desiludido. Mas estou convalescente, então, com licença - Matt cobriu a cabeça com a touca e a afundou entre os braços, abraçando a mochila.

Harry revirou os olhos. Sabia que o amigo tinha pego um resfriado e passara o fim de semana todo com dores na garganta e cabeça, o deixando de muito mal-humor. Então apenas aguardou os alunos entrarem lentamente na sala, seguidos por Brad Lester.

As aulas e os treinos rolaram normalmente até o feriado. Harry não sabia quando seria o próximo jogo de basquete, mas estava convencido de que o time estava muito bem entrosado. Até Oliver o tratava melhor quando estavam jogando, mas nada que mudasse seu jeito valentão de ser. Ele ainda mexia com todo mundo pelos corredores, mas sempre evitando arrumar confusão. Talvez o medo de ser expulso o tivesse afetado.

De qualquer forma, nem mesmo os maiores mistérios da mente humana faziam diminuir o nervosismo de Harry.

***

Na quinta, John ganhou folga no emprego. De manhã, eles saíram para comprar os tradicionais ingredientes de um jantar de Ação de Graças: macarrão com queijo, batatas para o purê e um peru para ser assado. Harry sempre gostou de cozinhar, apesar de não ter tanta variedade em seu menu de opções, que era restrito a apenas o necessário. Mesmo assim, ele nunca precisou de ajuda para preparar as refeições. Na verdade, nunca precisou de ajuda em nada. Sempre aprendeu tudo sozinho, muito pela necessidade, já que John trabalhava muito mais depois que ficou com a guarda de Harry. Não que o tio não fosse presente em sua vida, pois o garoto passava o dia quase todo na escola de período integral. Só ficava sozinho depois que chegava em casa e mesmo assim só por umas duas horas, até que John chegasse do trabalho. Mas, fora isso, o homem tentava ao máximo participar de sua vida, sempre perguntando sobre a escola e tudo o mais.

Na Flor da JuventudeOnde histórias criam vida. Descubra agora