- Você só pode estar brincando.
Harry ficou surpreso com a voz calma com que Ariane disse essas palavras. Não que ele esperasse gritos ou coisa assim. Na verdade, ele não sabia bem o que esperar. Já Laurel deu um passo a frente e sorriu gentilmente.
- Você está linda - Ela disse.
Mas Ariane não esboçou nenhuma reação. Nem mesmo se mexeu. Laurel parou de sorrir e continuou a falar, parecendo escolher com cautela cada palavra. Seus olhos tremiam levemente, como se estivesse nervosa.
- Eu sei que você não esperava por isso. Sei que foi repentino...
- Repentino? É sério? Acha que foi repentino? - Ariane disse num tom seco, que fez a mulher hesitar.
- Não era a minha intenção aparecer assim. Me desculpe.
- Desculpas - Agora o tom de Ariane era desdenhoso - É mesmo por aí que você vai começar?
- Querida, eu só...
- NÃO me chame de querida.
A mulher vacilou por um momento, mas se recompôs logo em seguida. O batom que ela usava era de um vermelho mais claro e leves rugas se destacavam ao redor dos olhos. Ela era uma perfeita imagem do que Ariane poderia se tornar daqui uns anos, tirando o fato de que suas íris eram de um azul intenso, enquanto que as da filha eram cinzentas. Harry, que estava próximo a porta com as mãos nos bolsos, sentiu que era o momento de dar-lhes um tempo.
- Vou deixá-las a sós.
- Não. Você fica onde está - Ariane ordenou sem se virar. Harry parou e, após um segundo de hesitação, voltou-se para ela.
- Anne, eu realmente acho melhor...
- Você fica, Harry. Não vai querer saber até onde esse seu joguinho vai dar?
Harry olhou para Laurel que apenas assentiu com a cabeça, então fechou a porta e encostou-se em uma mesa. Ariane, que continuava com o olhar impassível, cruzou os braços. Laurel tentou manter a voz suave e não ficar tão na defensiva, coisa que não estava funcionando muito bem.
- Não o culpe. Ele apenas estava tentando ajudar.
- Ajudar quem? Você?
- Confesso que pedi ajuda ao Harry, mas só porque eu não sabia como fazer isso - A mulher deu outro passo a frente - Eu queria... Eu precisava te ver.
- E demorou cinco anos para perceber?
A pergunta pairou no ar por alguns segundos. Era a mesma que Harry fez a si mesmo na primeira vez que conversou com Laurel no Bitter Coffee, no dia em que ela fizera o pedido. "Gostaria de falar com minha filha", ela dissera. "Preciso saber que ainda existe chance de ela me perdoar". Se queria perdão, talvez fosse um pouco tarde para isso. Mesmo assim, ele acabou se convencendo de que a mulher realmente sentia falta da filha. Ela afirmara não saber o porque de Ariane estar tão magoada. Apenas o relacionamento com Igor é que não estava mais dando certo. Esse foi o argumento que Laurel usou insistentemente. E Harry não podia simplesmente dizer não a um pedido daqueles. A mulher parecia estar sendo sincera. E também... Digamos que ele tinha alguns outros motivos.
- Por que agora? - Ariane perguntou quando o silêncio começava a incomodar - Por que aparecer justamente quando as coisas estão melhorando para mim? Sabia que hoje à noite será o primeiro baile que irei na vida?
Aquilo fez Harry franzir a testa. Não sabia disso. Mas Laurel não pareceu surpresa.
- Eu sei. Já disse que não era a minha intenção.
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Na Flor da Juventude
Teen FictionHarry Denver começa a vida em uma nova escola. Órfão e criado pelo tio, Harry segue o legado da mãe, traçando o próprio caminho de conquistas através da infinita vontade de ajudar a todos. O medo de ser novato no colégio logo dá lugar a popularidade...