O Sol ainda ostentava seu brilho morno quando Harry desceu a rua em direção a casa de Ariane. A ligação não tinha lhe passado tantas informações, mas ele sabia que a garota queria ajuda para cuidar do bebê que a tia provavelmente havia deixado com ela.
Enquanto caminhava, Harry sentiu o coração acelerar. Porém, ele percebeu com um susto que não era por causa dos olhos cinzentos que iriam lhe encarar em alguns instantes, ou por causa dos cachos dourados que balançariam num ritmo lento e encantador enquanto eles conversariam sentados no sofá da sala. Ele só estava nervoso com essa ideia de cuidar de uma criança, assim como estava nervoso mais cedo na hora do jogo.
Outro susto! Quer dizer que ele não tinha ficado tenso com o sorriso de Ariane naquela hora, mas sim porque o início da partida simplesmente se aproximava. E não estava tenso agora porque ficaria frente a frente com a garota que ele jurara estar apaixonado a poucos dias, mas sim porque concordou com uma coisa que não tinha a mínima ideia de como fazer. E, pensando bem, sua pulsação não aumentava como antes desde que ocorrera a tal discussão com Ariane. Mesmo quando ela estava por perto, nas salas de aula ou nos corredores, seu estômago não formigava e sua respiração não acelerava como faziam a pouco mais de um mês. Era como se esse tempo afastado estivesse abalando gradativamente o que ele sentia por ela, principalmente depois que conhecera Cat. Contudo, ao mesmo tempo ele sentia um remorso, uma pontada de angústia por ficar longe da pessoa por quem ele assumira sentir algo tão forte para chamar de paixão.
Droga! Por que foi pensar nisso agora? Sua mente era uma avalanche de incertezas que podiam lhe soterrar ali, neste momento, no meio da rua. Pensou em voltar correndo para casa. Porque, afinal, ele tinha concordado em ajudá-la? De repente ela o telefonava e ele saía correndo? Devia ter dito um não na hora, fazendo jus ao orgulho que tanto zelava. Podia ter dito para ela se virar, ficar sozinha, do mesmo modo como decidira ficar nas últimas semanas. Podia ter dito para ela ir se ferrar!
- Que bom que veio!
Harry sobressaltou-se quando Ariane lhe deu um sorriso tímido. Não tinha percebido que durante seu devaneio seu corpo agira em modo automático, chegando à porta da frente e tocando a campainha. Mesmo assim, não conseguiu continuar com a raiva que lhe apossara a poucos segundos, pois o rosto corado e avidamente compungido da garota lhe atingia como uma flecha, derramando um poço de indulgência em sua consciência pesada de amargura.
- Oi - Sua voz saiu exageradamente doce. Os pensamentos ainda pulsavam em sua cabeça, mas ele os empurrou para o canto mais longínquo de seu subconsciente, enquanto cruzava a soleira da porta. Podia resolver os embates de sua juventude outra hora. Neste momento, o ímpeto mais forte de sua vida lhe dizia para ajudar, independente de qualquer acontecimento anterior. Afinal de contas, a garota já tinha sido sua amiga. Ou, talvez, ainda fosse.
Ariane fechou a porta e parou no meio da sala, de frente para ele. Ela usava tênis, uma blusa de touca fechada de cor alaranjada e uma calça moletom cinza escuro, que combinava involuntariamente com seus olhos. Os cabelos soltos sobre os ombros, com a costumeira franja jogada para o lado direito. Harry tinha se esquecido de como aqueles fios dourados podiam ser tão luminosos, e por um momento ele ficou calado, apenas observando as ondas volumosas que refletiam sem pudor a luz do Sol que entrava pela janela. Mas então percebeu como era estranho ficar encarando desse jeito e balançou a cabeça, voltando os olhos para o chão. Ele notou que Ariane batia o pé em nervosismo, quase imperceptivelmente. Após um minuto de silêncio constrangedor, a garota resolveu falar.
- Desculpe te incomodar a essa hora - Ela levou a mão a cabeça e começou a mexer na franja - Eu não faria isso se não precisasse. Eu pensei que passaria o fim de semana na casa da minha tia que é bem grande, mas ela resolveu deixar o filhote aqui. E ele é meio... Hiperativo.
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Na Flor da Juventude
Teen FictionHarry Denver começa a vida em uma nova escola. Órfão e criado pelo tio, Harry segue o legado da mãe, traçando o próprio caminho de conquistas através da infinita vontade de ajudar a todos. O medo de ser novato no colégio logo dá lugar a popularidade...