Manhattan, NY, 22 de Março
Querida mãe,
Sei que falei que demoraria a escrever novamente. Mas um homem sábio me disse uma vez que eu deveria ter uma espécie de saída para meus problemas, alguém para contar meus segredos mais profundos. Este mesmo homem sábio me aconselhou a voltar a escrever. E assim eu fiz.
Quero que saiba que muita coisa aconteceu entre esta e a última carta, e minha mente não podia estar mais embaralhada. Se bem que alguns problemas estão se resolvendo bem depressa atualmente. Como por exemplo, o fato de eu não ter de me preocupar tanto com a minha amizade com Catherine. Ainda não tivemos um diálogo longo depois daquela noite - que eu prefiro não entrar em detalhes -, mas já tivemos um minuto de conversa depois do jogo de sexta. Para alguém que estava sendo ignorado há um mês, eu fiquei mais do que satisfeito com isso. Espero que voltemos a ser amigos, pois ela é realmente uma das pessoas mais incríveis que conheço.
Outro fato que agitou bastante as coisas foi a descoberta do namoro de Brian e Stuart. Todos na escola ficaram sabendo e é claro que isso afetou o problema de Brian com as drogas. Eu não sei se ele continua usando, mas dava para perceber que ele precisava de algo em que se apoiar para fugir da realidade já que ele e Stuart parecem ter dado um tempo no relacionamento. Pena que tenha sido a escolha errada de apoio. De qualquer forma, ele continua treinando e sexta ele acabou com o jogo. Confesso que foi muito bom vê-lo sorrir ao ouvir seu nome sendo gritado pela maioria dos alunos da New Station. Quem sabe assim ele consiga sair desse caminho inadequado.
E apesar de agora a história ter sido deixada de lado, mal pude resistir o impulso de tentar falar com Stuart, saber se está tudo bem, se ele precisa de algum tipo de ajuda. Ou mesmo alguém para conversar, sabe? Ele não é do tipo extrovertido e posso dizer que ele não tem muitos amigos. O que é uma pena para as outras pessoas, pois ele é legal. Mas talvez seja assim mesmo. As pessoas mais legais tendem a ser menos notadas. É um saco, mas assim é a vida. Mas não vou desistir de tentar ser amigo dele. Tenho certa aptidão para fazer amizades com pessoas deslocadas. Acho que puxei isso de você.
Falando em amizade, Matt está trabalhando. Não, não é brincadeira. Tio Rob conseguiu um estágio para ele no escritório. Basicamente é só atender telefones e anotar recados, mas ele ganha um salário. Tentamos conseguir algo para mim, mas tio Rob disse que por enquanto o banco não precisava de mais ninguém. Eu fiquei chateado, mas pelo menos posso aproveitar os fins de semana enquanto ainda tenho tempo.
Falando em tempo, Diana está quase entrando em trabalho de parto. Quer dizer, faltam algumas semanas, mas ela está enorme - não diga isso a ela, por favor -, e extremamente ansiosa. Na verdade, todos estamos. Law está trabalhando nos fins de semana também e vive me falando que não consegue dormir algumas vezes. Achei um tanto exagerado, mas afinal, não sou eu quem vai se tornar pai em pouco tempo. O aniversário de Diana está chegando e talvez eu compre algo de mãe para ela, como um calmante para ela tomar quando o bebê começar a espernear a noite toda. Brincadeira. Eu não sei o que comprar. O último presente que dei para alguém foi comprado com a ajuda dela. Não sou bom com essas coisas.
Mas isso não é o que eu mais queria te contar. Aconteceu algo esta tarde. Algo que, confesso, eu estava esperando há um bom tempo. Mas não posso culpar ninguém pela demora de isso acontecer, a não ser eu mesmo. Acho que minha insegurança atrapalha minhas aspirações. Como John disse, devo me ater às minhas escolhas infindavelmente, ou poderei perder as coisas mais importantes da juventude: as amizades e as paixões. E nessa última, posso dizer que relutei, mas não consegui evitar. Disse tudo o que sinto para a pessoa responsável por esses sentimentos. Feliz eu fiquei ao descobrir que a recíproca é verdadeira. Depois que a beijei, Ariane não ficou abalada. Foi como se ela esperasse aquilo, assim como eu. Ela me contou mais sobre a mãe e desta vez não chorou. E posso estar enganado, mas juro que consegui notar uma suavidade em seus ombros, como se o desafogo tivesse tirado um peso de suas costas. Espero fielmente que isso continue assim.
Não sei como será daqui para frente. Acabei de sair da casa dela e já quero voltar para lá. Quero continuar a beijando, a abraçando, a consolando nos momentos de fraqueza. Quero realmente que ela queira algo mais entre nós. Eu poderia dizer isso a ela, mas não sei como lidar com uma resposta negativa. É melhor deixar as coisas rolarem e ver se a vida dá um descanso a essas mentes tão tumultuadas. Quem sabe, finalmente eu consiga uns pontos extras nesse jogo da vida, não é?
Então, é isso. Só queria dizer que voltarei a escrever. Estamos na Primavera agora, na semana do recesso escolar. As flores começam a exibir seus primeiros botões pelos jardins de tia Genna, o que é um alívio, já que os negócios estavam difíceis no Inverno. Enfim, sempre que puder a mantenho informada. Sei que, se estivesse aqui, você daria algumas respostas concretas ou completas para essas minhas perguntas. Sei que, onde quer que você esteja, estará torcendo por mim nessa longa busca pelo caminho de virtudes. Como Cat me disse uma vez: Precisamos pintar nosso próprio céu de felicidade! E eu estou começando a colorir o meu à minha maneira.
Espero que esteja bem, mãe. Dê um abraço no papai por mim.
Com amor,
Harry
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Na Flor da Juventude
Teen FictionHarry Denver começa a vida em uma nova escola. Órfão e criado pelo tio, Harry segue o legado da mãe, traçando o próprio caminho de conquistas através da infinita vontade de ajudar a todos. O medo de ser novato no colégio logo dá lugar a popularidade...