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Harry abriu os olhos assustado enquanto era sacudido por duas mãos pequeninas e uma voz que lhe chamava.

- Harry! Harry, acorde!

Depois de um segundo de susto, ele notou que estava deitado numa cama bem menor do que a sua. Na verdade, o quarto todo estava diferente. As paredes eram de uma cor clara e cheias de prateleiras lotadas de brinquedos. Uma mesinha estava a um canto com dezenas de revistas em quadrinhos e peças de montar. Uma pequena cesta de basquete estava pregada na parede ao lado da porta e uma bola largada preguiçosamente no chão. Era um lugar diferente, é verdade, mas ao mesmo tempo era extremamente familiar. Aquele era o quarto em que Harry dormira até os seis anos de idade.

Mas não foi a visão do lugar que o deixou surpreso. Dois olhos azuis o encaravam através da luz do Sol que entrava pela janela, deviam ser umas nove horas, e ele então reconheceu o dono da voz que o chamara.

- Matt? O que está fazendo aqui?

O loiro tinha uma aparência bem mais nova: seus cabelos estavam bagunçados como sempre, mas um pouco mais escuros; o corpo pequeno e as roupas coloridas estampadas com desenhos, idênticas as que ele usava quando tinha seis anos.

- Nós chegamos agora de manhã. Pegamos um voo de madrugada - A voz de Matt era aguda, como a de uma criança.

- Nós? A família toda? - Harry perguntou. Sua voz também era mais infantil. Foi então que ele percebeu que tinha seis anos de novo. Mas nada disso importava, pois a aparição repentina de Matt era muito mais estranha. Por isso ele insistiu - O que está acontecendo?

O loiro se sentou no pé da cama e olhou para o chão. Imediatamente Harry sentiu um início de pânico invadir seu peito. Não era comum os Labart aparecerem em Londres no meio da semana sem avisar. Muito menos quando faltavam alguns dias para o fim das aulas. Alguma coisa estava errada.

- Matt, o que houve?

- John nos telefonou ontem, por volta da meia-noite - Matt tinha a voz um pouco embargada, como se tivesse chorado recentemente - Minha mãe me acordou e pediu que eu arrumasse uma mochila com roupas. Meu pai correu e conseguiu passagens na primeira classe para hoje cedo. Saímos de lá por volta das cinco da manhã e chegamos agora a pouco.  Eles pediram que eu te chamasse. Todo mundo está reunido na sala lá embaixo. Eles precisam... Te contar uma coisa.

Robert Labart comprar passagens na primeira classe para a família toda? Alguma coisa estava muito, muito errada. Mas, por que eles viajaram até lá afinal? E por que Matt precisava acordar Harry desse jeito? O que todos queriam contar que o próprio Matt não poderia? Um incômodo formigamento tomou conta do estômago de Harry, mas não era de nervoso. Era algo mais voltado para o medo.

- Matt - Ele disse afastando as cobertas e encarando o amigo - Para de enrolar e conta logo. O que você veio fazer aqui?

O loiro o fitou e Harry teve certeza de que a voz embolada de antes era de choro. Os olhos azuis estavam marejados, vermelhos, e o garoto sentado ali não parecia em nada o Matt Labart extrovertido que era desde criança. Ele parecia desolado e acima de tudo, muito assustado. E isso foi provado em seu tom de voz quando ele respondeu.

- Harry... A-Aconteceu um acidente... Com seus pais...

Aquelas palavras afundaram o peito de Harry numa aflição impiedosa. Sua respiração falhou e sua cabeça começou a pender, como se alguma força invisível a tivesse sugando para dentro de um buraco negro. E ele se viu caindo. Em direção a um abismo tão sombrio e assustador quanto a voz chorosa de Matt pronunciando o que viria a ser a pior notícia de sua vida.

***

Harry acordou com o coração disparado e encharcado de suor. Estava novamente em seu quarto em Manhattan e a luz fraca do início manhã começava a adentrar, embora ainda estivesse um pouco escuro.

Na Flor da JuventudeOnde histórias criam vida. Descubra agora