Manhattan, NY, 01 de Janeiro
Querida mãe,
Estar apaixonado é uma droga! E não estou dizendo isso da boca para fora. Eu realmente odeio essa sensação de não poder tirar a pessoa da cabeça mesmo que você tente obstinadamente esquecê-la. Odeio ver o rosto dela todas as vezes que fecho os olhos. Acima de tudo, odeio ter que odiá-la.
Estou em casa, são duas da manhã e estou meio bêbado. O jantar de Ano-Novo foi na casa dos Labart. Aliás, até a ceia de Natal foi lá. Tia Genna não ia hesitar em nos arrastar pelos cabelos se não comparecêssemos, já que passamos a Ação de Graças aqui. Mas, no fim, foi muito bom. No Natal, a ceia foi enorme, com tudo o que se pode imaginar. John e eu levamos as sobremesas, mas o prato principal era um peru gigante, que eu fiquei surpreso de ter cabido no forno. Já hoje foi mais simples, mas mesmo assim com muita comida. Além de nós, tia Genna convidou a mulher que trabalha com ela, Scarlet. Ela é tia de Jonah e como os dois moram sozinhos, foram comemorar conosco a virada de ano. Por falar nisso, acho que John está começando a gostar dela, mas isso é assunto para outro dia. O fato é que Matt, Jonah e eu acabamos com as três garrafas vinho. Ninguém soube da nossa festinha particular, mas todos perceberam que nosso gosto para bebida aumentou consideravelmente.
Enfim, após comemorar a virada, viemos para casa, afinal, John trabalha cedo e amanhã também começam as aulas. E é isso que está me incomodando. Com que cara eu vou aparecer na escola? Eu perguntei isso ao Matt e sabe o que ele disse? Que eu sou um bobo. Um bobo! Com tantos anos de amizade e na primeira vez que eu peço um conselho, ele me chama de criança orgulhosa! Tudo bem, talvez eu seja orgulhoso, mas eu não posso simplesmente chegar na escola e dizer: "Oi, Anne! Como foram suas festas?" Afinal, ela é quem parou de falar comigo. Ela que não me ligou para desejar um bom Natal. Ela é quem sofre de uma bipolaridade extraordinariamente irritante, que faz qualquer um ficar nervoso.
Bem, não posso negar que estou ansioso para ver sua reação amanhã. Não que eu ache que vai mudar alguma coisa, se depender de mim continuaremos sem nos falar, pelo menos até ela resolver pedir desculpas. Porque eu sei que estou certo. Droga! Lá vamos nós de novo.
Acho que orgulho é uma palavra meio estrambólica. Sabe, seu significado é circunstancial. Normalmente é um sentimento egoísta, como um excesso de amor-próprio. Mas às vezes é a mais pura arrogância. E eu não sei o que eu estou sentindo. Eu estou disposto a manter minha dignidade, mas por outro lado eu não quero falar com ela. Digo, não é como se eu não quisesse me rebaixar, mas por que eu deveria me desculpar por ser sincero? Apenas coloquei para fora algo que estava me enfadando a um bom tempo.
Droga! Eu devo estar maluco. Estou apaixonado por uma garota que eu nem mesmo conheço! Porque eu não conheço a verdadeira Ariane Hoffmann. Conheço a garota divertida que me faz sentir completo apenas com um sorriso. Não a pessoa frígida e implacável que torna tudo um momento desagradavelmente enfadonho quando bem quer. Mas acho que é assim mesmo não é? É o que chamamos de paixão. Nos apaixonamos por aquilo que nos faz bem, o estereótipo que criamos das coisas e das pessoas, uma espécie de paradigma banal. Não importa se você conhece a verdadeira índole da pessoa, pois acho que aí já é outro sentimento. Algo que não se pode ser traçado como adjetivo, já que ninguém fala que está "amorado". Mas o que eu estou dizendo? Isso nem faz sentido! Devo estar muito bêbado.
Droga, não consigo parar de pensar nela! Eu queria muito parar de pensar nela! Mas ao mesmo tempo eu não quero parar de pensar nela! Estou enlouquecendo. Não sei o que pensar! Freud estava certo: apaixonar-se te implica a servidão, te faz deixar de pensar por si só e consome seu próprio ego. Embora eu não ache que o ego de um adolescente já exista por inteiro nesta fase, por isso a paixão abala tanto essas mentes inexperientes.
Meu Deus! Outro devaneio. Estou cansado, com sono, minha cabeça dói, e eu não paro de pensar nela! Não sei como me portar numa situação dessas, eu nunca fiquei assim por uma garota antes. Queria que você estivesse aqui mãe. Só você poderia me ouvir. Só você poderia me auxiliar.
Pois nada neste mundo, nem mesmo meu orgulho, nem mesmo a raiva que sinto por ser tão parvo, nem mesmo o tormento de ficar esse tempo todo sem ouvir aquela voz doce e encarar aqueles olhos sublimes que me fazem sentir completamente afortunado, podem mudar a realidade: Eu sou completa e irreparavelmente apaixonado por Ariane Hoffmann!
E tem algo que eu não te contei antes: ela descobriu sobre as cartas. Porém isso não afetou em nada nossa relação. Mesmo ela descobrindo meu maior segredo, continuamos na mesma. E isso me incomodou de tal modo que não sei se irei lhe escrever novamente. Me desculpe por isso, mas preciso de um tempo. Não acho que tenho coragem de continuar, a menos que fique bêbado de novo em alguma outra noite.
Não sei se esta é a última carta, mas espero que fique muito bem, mãe. Dê um forte e longo abraço no papai por mim.
Com absoluto e infinito amor,
Harry
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Na Flor da Juventude
Teen FictionHarry Denver começa a vida em uma nova escola. Órfão e criado pelo tio, Harry segue o legado da mãe, traçando o próprio caminho de conquistas através da infinita vontade de ajudar a todos. O medo de ser novato no colégio logo dá lugar a popularidade...