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O dia amanheceu mais rápido do que o normal.

As longas cortinas escuras das três grandes janelas da sala conseguiam refrear a maior parte da luz do Sol, mas uma pequena fresta deixava o brilho incandescente da manhã bater bem no rosto de Harry.

Ele abriu os olhos devagar. Seus cílios estavam colados por causa do sono inquieto e profundo. Por um momento ele encarou o lustre de cristal que pendia preguiçosamente no teto. Até que ele sentiu uma respiração no pescoço e se lembrou de que Ariane dormia, aconchegada no canto do sofá, mas com a perna em cima da sua, além do braço que repousava sobre seu peito magro. Durante alguns minutos, ele permaneceu sem se mexer, apreciando aquele momento e torcendo para que ele nunca acabasse. Mas, depois de cinco minutos, o desconforto o venceu e ele afastou delicadamente Ariane que se enroscou como um filhote e continuou a dormir.

Na hora em que ficou de pé, Harry sentiu os efeitos da noite anterior. Sua cabeça rodou e ele sentou-se devagar na mesa de centro. Fechou os olhos e apertou as têmporas. Uma dor aguda o atingiu, parecia que alguém atravessava seu crânio com uma furadeira. Depois que se sentiu melhor, se levantou e caminhou até a cozinha. Jonah estava estirado no tapete, de bruços, num sono pesado. Law e Diana se abraçavam na grande poltrona, ainda dormindo.

Harry passou pelo relógio do corredor, 7h30, e entrou na cozinha. O cômodo era grande como todos os outros e iluminado por janelas do lado direito, além de duas portas de vidro no canto oposto. Ele demorou um tempo para assimilar a mobília, até que conseguiu focar na geladeira prata de duas portas, onde pegou uma garrafa d'água. Avistou uma pequena caixa de remédios em cima do microondas que ficava bem no canto da comprida pia de mármore. Se aproximou e a abriu, retirando uma cartela de analgésicos. Colocou um na boca e um pouco de água num copo antes de beber tudo em três longos goles.

Esfregou os olhos e lavou o rosto na água morna da pia. Nada higiênico, mas não se daria ao trabalho de subir até o segundo andar. Só de pensar, as pernas já doíam. Colocou um pouco de água na cafeteira, pegou o pó de café no armário de cima e depositou três colheres no filtro, antes de ligá-la na tomada da pia. Depois abriu a geladeira como se fosse sua e ficou olhando por alguns segundos. Essa era uma de suas manias, não saber o que vai pegar na geladeira antes de abri-la. Decidiu então por fechá-la e tomar mais água.

Estava depositando mais um pouco no copo quando ouviu passos atrás dele. Matt, de rosto lavado e cabelo totalmente bagunçado, caminhava a passos lassos enquanto apertava as têmporas.

- Tem analgésico? - Ele perguntou. Harry lhe entregou a cartela e ele tomou um. Ao engolir, ele se encostou na pia e fechou os olhos. Então franziu o nariz - Preciso escovar os dentes. O vinho ainda está na minha garganta.

Harry riu. Matt bebeu mais água e olhou pelas janelas, para o imenso gramado que se estendia até altos pinheiros. Então sorriu.

- Está rindo de que? - Harry perguntou.

- Nada. Da noite anterior.

- Foi bem louca - Harry coçou a cabeça. Seu cabelo não estava melhor do que o de Matt. Ele ia contar sobre ter dormido junto com Ariane, mas o amigo o interrompeu.

- Aquilo jogado no chão da sala é o Jonah?

- É - Harry riu - Acho que ele nunca bebeu tanto na vida.

- Pelo menos ele está se divertindo. O cara merece, depois do que aconteceu com a irmã. E nós que achávamos que ele era depressivo.

Harry riu de novo. O cheiro do café sendo coado lhe invadiu as narinas. Para ele, esse era um dos melhores cheiros do mundo. Sua garganta secou e ele depositou mais água no copo que Matt largara sobre o balcão. A ressaca de agora nada se comparava com a do primeiro dia de aula. Talvez porque Whisky era bem mais forte do que ponche.

Na Flor da JuventudeOnde histórias criam vida. Descubra agora