Capitulo 80

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Maasser

Vejamos agora a opinião do judaísmo ortodoxo naquilo que diz respeito ao dízimo e a oferta. O que é interessante é que a "oferta" é chamada de "justiça". A explicação para isso está logo abaixo.

Só que antes de mais nada é preciso explicar um conceito judaico básico que faz parte da Torah, um dos preceitos primordiais de nosso dia-a-dia, o qual jamais perdemos de vista e o qual inspira outras pessoas a seguir nosso exemplo: a tsedacá, ou ato de justiça.

Tsedacá

A tsedacá é um dos 613 preceitos dados por D'us no Monte Sinai ao povo judeu.

"Tsedacá" não é caridade, mas como já citamos acima, justiça.

D'us permitiu que existissem pobres e ricos para que os seres humanos exercerem bondade e justiça uns com os outros transformando seu livre arbítrio em ações positivas.

Qual a origem da mitsvá de Tsedacá?

A Torah declara: "Se houver um carente entre seus irmãos, numa de suas cidades, na terra que D'us deu a vocês, não endureçam seus corações nem fechem a mão a seu irmão carente. Vocês definitivamente devem abrir suas mãos e lhe emprestar o suficiente para o que lhe faltar (Devarim 15:7,8)"

Ela difere da caridade pois esta é definida como "um ato de generosidade ou de auxílio a um pobre". A Tsedacá não é meramente um ato de caridade: toda vez que alguém proporciona satisfação a outros - mesmo aos ricos - com dinheiro, comida ou palavras reconfortantes ele cumpre esta mitsvá. Existem muitas mitsvót englobadas dentro da mitsvá de Tsedacá, que por sua vez está englobada dentro do mandamento mais amplo de imitarmos as características do Todo-Poderoso. Da mesma forma que D'us cuida de nós, devemos nos esforçar para ajudar o restante da humanidade.

Desde a época do Templo Sagrado era visível para os judeus que levavam seus sacrifícios, que não importava qual fosse, tanto um sacrifício representado por um animal de porte como um boi, uma ovelha, até uma certa quantidade de farinha, (dependia da posse de cada um), ambos eram aceitos e queridos por D'us. Assim, a pequena doação de um pobre equivale para D'us como a maior doação de um rico.

Aprendemos de nosso patriarca Avraham o dom da generosidade. Assim como sua tenda possuía quatro aberturas que davam para as quatro direções do deserto afim de visualizar qualquer estrangeiro que passasse próximo ao seu caminho para convidá-lo a usufruir de sua hospitalidade, da mesma forma, devemos ser reconhecidos como seus legítimos descendentes: estender a mão para quem se encontra em nosso caminho e sempre procurar ajudar nosso semelhante.

Há um versículo que diz: "Não endureça seu coração e estenda sua mão ao seu irmão necessitado". Devemos sempre nos colocar em seu lugar, pois da mesma forma que nos dirigimos humildemente ao Criador em busca de bênçãos de saúde, alegrias materiais e espirituais, somos carentes, ocupamos a mesma posição daquele que se encontra diante de nós e pede para que estendamos nossa mão.

O Gaon de Vilna (Lituânia, 1720-1797) explicou que o critério para darmos Tsedacá está indicado no versículo descrito acima. Quando uma pessoa fecha sua mão, seus dedos parecem ficar todos com a mesma altura. Quando ela os abre, entretanto, percebe que cada dedo tem uma altura diferente. O mesmo se dá com a Tsedacá: Cada individuo carente tem necessidades diferentes e nossa obrigação com cada um varia conforme sua necessidade. O versículo 7 diz: "Não feche sua mão", ou seja, não dê a mesma quantia a todos os que lhe pedirem. O versículo 8 continua: "Vocês definitivamente devem abrir suas mãos", significando: 'Perceba que cada pessoa é diferente da outra e contribua conforme o caso'.

Devemos pensar que através das gerações poderemos também ter descendentes que um dia necessitem da ajuda de outros e portanto, nos sensibilizar que todos nós poderíamos estar em seu lugar. Devemos pensar que não nos encontramos em sua situação para que através de nossa ajuda possamos lhe fornecer mais conforto e dignidade, sendo justo com os bens que recebemos de D'us, para usá-lo da maneira que Ele espera que façamos. Nossos bens é como um penhor que um dia deveremos devolver e restituir ao seu legítimo Dono.
Maasser

A idéia de dar o dízimo não apenas existe no judaísmo, como é uma prática genuinamente judaica, conforme estabelecido na Torah, que orienta que todo judeu separe um décimo, maasser, de seus lucros para a caridade e a fonte da lei que apóia a idéia de doar até um quinto de nossa renda é o Talmud, Tratado de Ketubot 50a.

Tudo o que possuímos é um empréstimo de D'us. Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torah não quer que nos esqueçamos disto. Por isso, instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem. A Torah nos ordena dar um décimo de nossa renda líquida. É meritório dar 20% (Shulchán Aruch Yore Dea 249:1).

Existem muitos exemplos na Torah onde nossos antepassados deram seu maasser (dízimo), como com Avraham Bereshit (Gênesis 14:20) e Yaácov (Bereshit 28:22), bem como em Vayicrá (Levítico)27:30-31 e Devarim (Deuteronômio) 14:22, 14:28. E sobre a mitsvá de darmos 10% de nossas entradas aos Leviim (membros da tribo de Levi) Bamidbár (Números 18: 21,24) e outros 10% aos pobres da localidade (Devarim 26:12).

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