A voz

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As coisas não estavam fáceis. Nem um pouco fáceis.

Cerca de seis meses após o quase homicídio na casa de Sally, os semideuses caiam em situação inusitadas.

A cada dia uma confusão inexplicável era imposta a eles. Estavam exaustos!

Naquele dia, porém, o maior perigo que Piper enfrentava era cair nas mãos da própria mãe. Afrodite insistia em arrumar o cabelo de Piper, que fugia, andando pelo acampamento com a expressão mais irritada que poderia existir naquele lugar.

-Mãe, você não tem outros filhos pra incomodar não? -ela disse pisando duro ao andar com uma Afrodite saltitante atrás.

-Eu sou uma deusa, queridinha, estou cuidando de todos vocês -Afrodite disse, esticando os "os" em "todos" andando atrás dela- eu posso fazer isso o dia todo Piper, melhor você deixar logo.

-Não! -ela bufou.

-Corujas! Ai! Ai! Ai! -gritava uma Annabeth que passava por elas correndo de corujas que a bicavam na cabeça. Afrodite a parou, suspirando.

-Atena, deixe a menina em paz -ela disse para as corujas, acenando com a mão fazendo as corujas saírem- Nunca esteve tão infantil... tststs.

-Obrigada -Annabeth agradeceu, ofegando, passava a mão na barriga já um tanto grande -estou cansada de correr das corujas.

-Ela ainda não se cansou depois de todo esse tempo? -Perguntou Piper e Annabeth acenou que não ainda afegando.

Afrodite olhava os cabelos de Annabeth com um tique nervoso nas mãos, pois a menina, que raramente se dava ao trabalho de pentear o cabelo hoje estava com este parecendo um ninho de ratos.

-Percy ontem foi bicado da Casa Grande até nossa casa. Ficou todo arranhado e só as despistou quando se jogou no lago. -Annabeth contou, torcendo o lábio, irritada.

-Mãe tire as mãos do meu cabelo! -Piper reclamou se afastando de Afrodite- Arrume o de Annabeth, vá lá, vai.

Afrodite sorriu animada para Annabeth, que suspirou, murmurando algo sobre isso ser melhor que ser bicada.

-E o bebê, Annie? -Perguntou Piper, sentando na grama, um sorriso satisfeito no rosto por ter se livrado da mãe.

-Agitado. E Percy está agindo feito um louco. Ele insiste que o quarto do bebê tem que ser azul e preciso lembrá-lo a cada quinze minutos que não sabemos o sexo do bebê e pode ser uma menina. -Annabeth comentou, fechando os olhos enquanto a deusa mexia em seu cabelo. Ela não podia simplesmente fazer uma mágica e pronto?

-Uma menina seria maravilhosa para comprar roupas e enfeitar -disse Afrodite, sorridente- Mas acho que um menino de vocês seria perfeito para namorar uma de minhas filhas, no futuro.

Annabeth virou-se para olhá-la com uma expressão chocada. Seu filho nem nasceu e já estavam definindo até quem ele iria namorar. Fora o fato de todo dia Poseidon aparecer com um brinquedo de barquinho e bichos marinhos e Percy e os amigos não pararem de chamá-lo de Aquaman.

-Por que vocês insistem tanto que é um menino? -ela perguntou, fechando a cara.

-Annabeth! -chamou Percy se aproximando acompanhado da cambada toda de amigos- achei que tivesse sido sequestrada por corujas outra vez, estávamos te procurando.

-Afrodite me resgatou -ela explicou com simplicidade enquanto Hazel dizia oi para o bebê em sua barriga.

Hazel era mesmo um amor.

-Oi, bebêzinho! -ela disse afagando carinhosamente a barriga, olhou para Annabeth e sorriu- está bem agitado. Tudo bom, Annie?

-Poderia estar pior -disse Annabeth, dando um meio sorriso.

-Como vai o Aquaman? -Perguntou Leo rindo da cara que Annabeth fez em menção ao nome.

Como não adiantava discutir com o amigo brincalhão, simplesmente perguntou:

-Você não tem uma mulher te esperando na cidade?

-Acabei de sair de casa porque o maluco aqui disse que você tinha sumido de novo -ele deu de ombros- devia agradecer que eu me solidarizei em arriscar meu físico gostoso para te achar.

-Prontinho! -Afrodite disse soltando Annabeth e virando-se para a filha que fingia ser invisível- Vamos lá, Piper...

-Meus deuses! Não! -ela saiu praticamente correndo da deusa, como se isso adiantasse alguma coisa.

-Ficou bonito -disse Percy abraçando Annabeth e passando uma mão em seu cabelo recém arrumado- mas tenho uma novidade que você não vai gostar... Poseidon pintou o quarto do bebê de azul e ainda colocou uns... desenhos...

-Meu Zeus! Não! -Annabeth resmungou.

Jason, Leo e Grover riram.

-Acho melhor aceitar que meu afilhado é um menino, Annabeth. Todo mundo já sabe -Disse Grover, pegando uma latinha e comendo.

-Com certeza é um menino- afirmou Jason. Percy ia falar algo como "Aquaman!", mas calou-se sob o olhar de Annabeth.

-Ainda acho que são gêmeos -disse Leo e Annabeth o encarou, carrancuda - Que foi? Sua barriga é enorme, tem bem uns cinco bebês aí dentro.

-Hã... Leo, vamos ali na cidade ver se achamos uma ferramenta que estou precisando -Disse Frank, desconversando, claramente em uma tentativa do amigo não ser morto por uma grávida psicopata.

-Ah, vamos -e saiu falando algo sobre tipos de ferramentas. Hazel deu um sorrisinho e disse tchau para os amigos. Ela nunca largava Frank, afinal.

Annabeth virou-se, resmungando algo sobre o comentário de Leo e Aquamans.

-Annabeth! -chamou Percy, mas achou melhor ficar longe quando ela não olhou para trás. Se insistisse, sobraria tudo pra ele.

Annabeth caminhou, resmungando, até chegar na casa do lago. Ela e Percy tinham se mudado há três meses e ainda estava uma bagunça de caixas jogadas. O bebê estava agitado e ela tinha quase certeza de que nasceria tremendo de medo de corujas. Ela foi direto para o quarto com o pensamento de tirar um bom cochilo.

Quando entrou no quarto a primeira coisa que reparou foi a bagunça, corujas haviam deixado suas marcas ali. Ela encostou na parede escorregando até sentar no chão. Pensou em todo o problema que havia se metido nos últimos 7 meses.

Atena já havia mandado corujas a perseguirem, mas se fosse só isso estava bom. Vacas deixavam seus rastros no caminho fazendo Annabeth escorregar enquanto corria de corujas. Havia caído em armadilhas, sido engolida pela lama, galhos de árvore despencavam em sua cabeça e aranhas a aterrorizava quando estava sozinha em casa...

Se Apolo não tivesse dito que o bebê estava destinado a nascer ela estaria surpresa que não o tivesse perdido. Annabeth chorou, pensando na expressão de Atena dizendo que ela não era mais sua filha. Por mais que pensasse que não se importava com isso, estava aterrorizada. Já não aguentando mais, ela gritou no quarto vazio.

-O que você quer?! -e escondeu o rosto nas mãos.

-Apenas o que me pertence -uma voz arrastada pelo vento se manifestou, Annabeth olhou, esperando encontrar Atena em seu quarto, mas aquela não era sua voz e não havia ninguém além do velho poeirão.

-Venha até mim, será muito mais fácil para você -a voz disse, e Annabeth sentiu o extinto de correr bater em seu peito.

-Percy! -ela gritou, chamando-o enquanto saia de casa, mas quando se pôs para fora tropeçou e foi engolida pela escuridão da terra fria.

Depois Que O Mundo Não AcabouOnde histórias criam vida. Descubra agora