Órfão

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Piper McLean Grace estava grávida. Tinha certeza absoluta disso, mas não estava em clima de festejo. 

Calipso estava morta. Realmente perdera a imortalidade ao sair da ilha e agora deixara um filho órfão de pai e mãe. 

Houve uma discussão tremendamente grande quando Hefesto anunciou que queria levar o menino. 

Apenas Afrodite o apoiou afirmando que Sammuel era uma gracinha. 

O menino não entendia bem o que acontecia, perguntava pela mãe a cada segundo que passou sob guarda de Piper. 

Até mesmo Bianca esqueceu-se de tentar matá-lo quando os pais lhe explicaram a situação. 

Piper não tinha motivos para comemorar a possível chegada de uma filha. Naquele dia, decidiriam o destino do pequeno Sammuel. 

-Não é justo que crie seu neto mortal, nenhum olimpiano teve autorização para tanto -Zeus bufou. 

-Mas meu neto é órfão!- Hefesto rosnou- Eu perdi um filho, querem que eu abandone minha descendência também? 

-Deixe a criança no chalé de Hefesto, no acampamento -Atena sugeriu. 

-Ele só tem quatro anos! -Hefesto contestou.

-Eles cuidaram da minha Annabeth bem no acampamento, portanto, podem cuidar do menino também -Atena replicou. 

-Não esqueçamos que o menino herdou o dom do fogo -Zeus os lembrou- deve ser destruído, isso sim. 

-Ah, cale a boca, Chuvisco -Hefesto bufou. 

-Certo, Hefesto, mas o que faria com uma criança em sua forja? -Atena o questionou em seu raciocínio inabalável. 

-Bom... -Hefesto começou a dizer, mas não sabia o que falar. 

-Deixe a criança no abrigo, junto com os demais órfãos -Atena falou -Todos tivemos perdas, depois designamos quem se responsabilizará pelas crianças. 

-Todos tivemos perdas... -Apolo repetiu para si mesmo, suspirando pesadamente. 

-E a profecia, Apolo? -Poseidon, até então calado, perguntou. 

-Temos duas profecias, as duas envolvem os primeiros legados de Poseidon e Atena, a primeira está apenas se aquecendo, a segunda demorará um pouco para tomar forma. -O deus explicou. 

-Qual é a outra? -Poseidon perguntou, confuso. 

-Não está completa, tudo que sabemos é que começará quando a escuridão e conflito se apaixonarem pela luz e pureza. Algo assim -Apolo comentou em um tom que mais pareceu um resmungo, fazendo uma careta. 

-Certo, mas isso quer dizer o tártaro, ou algo assim? -Ares perguntou, parecendo ansioso. 

Atena encarou o deus da guerra, em silêncio. 

-Pode ser. Talvez seja -Apolo disse, franzindo a testa. 

-Ainda acho que devíamos pegar as crianças envolvidas para o Olimpo -Afrodite disse, olhando as unhas (fazia muito isso). 

-É! -Demeter concordou, acenando com a cabeça em um ritmo frenético -Assim poderíamos dar cereal para elas comerem. Cereais são muito importantes para futuros heróis, porque... 

-Certo, Demeter -Zeus a interrompeu. 

-Falando em crianças, Piper está grávida -Apolo comunicou em tom quase entediado. 

-Ah! -Afrodite soltou um gritinho de euforia. 

-De novo? Me diga: Esse já é o último? -Atena perguntou, suspirando cansada para então comentar quase que para si mesma- Essas meninas só vivem grávidas. 

-Não, ainda falta -Apolo a respondeu -Tudo só vai começar mesmo quando a última criança dos sete nascer. 

-Vou visitar Piper! -Afrodite comunicou, empolgada, saltando do trono e desaparecendo. 

Piper estava na casa de Annabeth, que por sua vez, tinha problemas com Claire, que estava doente. 

-Pipeeeeeer! - a deusa chegou em um redemoinho de pétalas de rosas. 

-Presente... -Piper a respondeu, desanimada. 

-Não me contou que está grávida -Afrodite disse, fazendo biquinho. 

-Talvez eu estivesse ocupada, em luto por minha amiga -Piper disse em tom irônico. 

-Ah... -Afrodite fez, lembrando-se. 

-É... -Piper fez, infeliz. 

-O que decidiram para as crianças órfãs? -Annabeth perguntou, ninando Claire em seus braços. 

-Ficarão no abrigo. Pelo menos por enquanto -Afrodite contou. 

-E o menino ruivo? -Bianca perguntou. A menina estava tão quieta, encostada na porta, que sequer notaram sua presença. 

-Acho que se chama Andrew -Afrodite disse, passando batom nos lábios diante do espelho -Neto de Apolo e Demeter, está na casa de um tio que é casado com uma de minhas filhas, mas você não vai querer saber toda essa coisa de parentesco, lindinha -Afrodite tagarelou mais para si mesma que para Bianca. 

-Ah -Bianca fez, então informou-Mamãe, vou brincar com Ares. 

A menina saiu, saltitando. 

-Como estão as reconstruções?-Piper perguntou para Annabeth. 

-Está indo bem rápido, mais da metade já está em pé. Atena está ajudando -A loira respondeu. 

-Piper, temos que falar de sua gravidez -Afrodite insistiu. 

-Falar o que, mãe? Estou grávida, só -Piper disse, ameaçando aborrecer-se com a deusa. 

-Mas, Piper... - Afrodite ia dizendo, as duas se retiraram, discutindo o assunto. 

-O que houve? -Percy perguntou, entrando no quarto e dando um beijo no pescoço de Annabeth. 

-Afrodite dando crise de avó por Piper estar grávida -Annabeth contou. 

-E qual é a novidade? -Percy perguntou em tom entediado e Annabeth deu um tapa estalado em seu braço, o fazendo rir. 

-Claire ainda está com dificuldade para respirar -Annabeth contou, mais séria. 

-Já chamou Apolo? -Percy perguntou. 

-Ele está em luto. Se recusa a atender meus chamados -Annabeth comentou -Como todos, aliás. 

-Ah... -Percy fez, com um suspiro infeliz. 

-Frank ainda está brigado com Reyna? -Annabeth perguntou.

Reyna estava aborrecida por Frank ainda sustentar a revolta pela morte de Hazel, não permitindo que o relacionamento dos dois evoluísse. 

-Reyna está ameaçando pendurar as tripas dele como enfeite no chalé de Ares -Percy fofocou, rindo. 

-Uoou... -Annabeth suspirou, então ouviram murmúrios. 

Percy e Annabeth moveram-se lentamente ate a janela, onde avistaram Sarah sentada na terra.

A menina estava de costas para a janela, mas os pais podiam ver o corpo da menina sacudir em soluços e a terra subindo por suas pernas. 

-Eu não quero... -Sarah sussurrava incessantemente -Não posso... Não quero... 

Percy preparou-se para resgatar a filha, mas Annabeth segurou-o pela camisa. 

-Atena -Annabeth sussurrou.

De início Percy não entendeu, claro, mas avistou a direção do olhar de Annabeth em um galho em uma árvore próxima, onde uma coruja alva observava a cena com seus olhos sábios. 

A ave soltou um pio de advertência para Percy quando viu que este o localizara. "Não toquem na menina" fora o aviso transmitido e eles sentiram um frio congelar suas veias enquanto ouviam a terra sibilar, enroscando-se como uma cobra no corpo magro de Sarah.

Depois Que O Mundo Não AcabouOnde histórias criam vida. Descubra agora