Jade.
Eu estava tensa. A troca de olhares entre eu e Gabriel era impossível de não perceber. Ele me encarava fixamente e eu retribuía. Realmente queria saber qual era a dele. Joana já estava ficando incomodada.
- Gostou da comida? - Joana me perguntou.
- Sim, muito gostosa, obrigada jô. - Sorri.
- Tu é toda educadinha, nem parece que mora aqui na favela, mó cara de mina da zona sul. - Disse me fazendo rir. - Não é, Gabriel? - Ela perguntou.
- Sim, ela tem cara de ser essas engomadinhas nojentas...
- Pois eu não sou, meus pais me deram educação o suficiente para eu não ser mal educada ou soberba. - Cuspi as palavras.
- As santinhas são as piores. - Ele disse.
- E quem disse que eu sou santinha? - Pergunto me levantando da mesa. - Tu mal me conhece e quer opinar sobre minha vida. - Suspirei.- Obrigada, Joana, amei o dia de hoje! A comida estava maravilhosa, até amanhã.
Sai daquele cômodo e dei um beijinho na testa de Lara que dormia tranquilamente em seu carrinho.
Gabriel.
Quem essa filha de uma puta acha que é para falar assim comigo? Quem ela pensa que é para se crescer assim para cima de mim?
Não aguentei e fui atrás da mesma, a puxei pelo braço e ela se esquivou.
- Em que dia eu te dei a porra da intimidade para você falar assim comigo? - Aperto seu braço.
- Você está me machucando. - Disse entre dentes.
- Me responde porra. - A imprensei na parede, colando nossos corpos.
- Em que hora tu me deu intimidade... Ham, vamos ver... Quando você transou comigo e fingiu que nada aconteceu?! - Respondeu óbvia.
É incrível como essa garota me atraía de uma maneira doida. Atrevida do caralho.
- E o que você queria que eu fizesse? - Sussurro chegando mais perto dela. - Te pedisse em casamento, gatinha? - Ri irônico mordiscando a ponta de sua orelha.
- Para com isso, Gabriel. - Disse de olhos fechados, me fazendo sorrir cafajeste.
- Vai dizer que tu também não quer? - Pergunto e ela fica calada.
- Eu não sou suas putinhas não. - Disse baixo.
- Está se achando demais, gatinha. - Beijo seu queixo.
- Que bom, pois você recebeu seu primeiro não hoje. - A encarei confuso. A filha da puta me deu uma joelhada e saiu correndo, que maturidade.
- Puta que pariu! - Gritei arriado no chão.
Jade.
Desci voada para minha casa, olhando a todo momento para trás. Nem eu sabia de onde surgiu essa de desafiar ele! Mas porra, esse babaca nunca me notou nessa droga de favela e agora quer bancar o fodão comigo? Vamos ver.
Joana Tavares: O que aconteceu entre você e meu primo?
Joana Tavares: To chocada com a tensão de vocês até agora, entendi nada.
Eu: Amanhã eu te explico com mais calma.
Eu: Desculpa ter saído daquela forma.
Joana Tavares: Suave.
Tomei um banho rápido, pus um conjunto de lingerie e caí na cama assim mesmo.
Acordei com o despertador vibrando, fiz minha rotina matinal e me vesti, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e desci para a cozinha. Adentrei e encontrei Rosa.
- Filha, minhas férias acabam hoje, infelizmente. - Diz e eu assinto, mesmo contra gosto.
Ela trabalhava em Belford roxo, que por sinal era bem longe de nossa casa, então ela fica a semana toda lá e volta nos finais de semana
- Tem comida pronta para hoje e amanhã, mas no resto dos dias você se vira, come miojo, nuggets, essas coisas. - Diz o de sempre me fazendo revirar os olhos.
- Tudo bem, Rosa. - Beijei sua testa e ela me abraçou.
- Vou indo, juízo. - Diz e saí.
Pela primeira vez na vida eu comi um pão com queijo e presunto junto com café com leite, escovei meus dentes novamente e parti para a escola.
***
Eu estava a espera da Júlia e da Malu, e adivinha? Elas estavam atrasadas novamente. Nada diferente.
- Desculpa, cheguei. - Júlia grita. - Tu não me olha com essa cara não que tu também está me devendo uma. - Não consegui ficar séria, acabei gargalhando.
- Já soube da maior? - Júlia pergunta e percebo que Malu fica vermelha. - Malu está pegando o Caio.
- Mentira?! - Encaro Malu chocada.
- Não fica com ciúmes, por favor. - A morena espremeu os olhos aflita.
- Que ciúmes o que?! Caio é meu irmão. - Sorri e a abracei.
Eu realmente estava feliz pela Malu e pelo Caio. Eles eram meus melhores amigos e eu nunca ficaria brava por ver os dois juntos. Muito pelo contrário, eles eram extremamente compatíveis e acredito que eles poderiam dar muito certo juntos.
- Vou indo gente, vai dar o horário para eu ir para loja. - Suspirei cansada.
- Esqueci que agora você é trabalhadora. - Júlia disse e Malu concordou.
- As vezes até eu me esqueço disso. - Revirei os olhos.
Me despedi das duas e caminhei até o ponto, fazendo meu trajeto de todos os dias até o morro.
***
Depois de chegar do trabalho, tomei um banho e fiz uma janta rápida para mim. Me sentei no sofá e pensei algumas vezes antes chamar Joana para vir até a minha casa. Ela precisava saber o que se passava entre mim e Gabriel. A cena que tivemos na sua casa foi constrangedora e imatura. Fora isso eu não queria começar a nossa amizade mentindo, precisava contar a verdade para ela.
Eu: Joana vem aqui em casa rápido.
Joana Tavares: Já colo ai bb.
Não deu nem dez minutos e ouço uma voz aguda me gritar, abro a porta e dou espaço para ela entrar.
- Sua casa é tão aconchegante amiga. - Diz me fazendo sorrir. - Eai, o que mandas?
- Assim, eu... - Balbuciei.
- Fala logo, porra. - Disse, me fazendo criar coragem. - É tão ruim assim?
- Eu queria contar tudo que existe entre eu e seu primo. - Digo.
- Desembuxa. - Contei toda a história e ela fica de boca aberta.
- Como meu primo pode ser tão babaca assim?! - Pergunta com fúria. - Ele acha que você é as piranhas que ele pega. Ai que ódio dele!
- Não entendo a cisma dele comigo - Dei de ombros.
- Quando ele cisma com algo é difícil tirar da cabeça dele... Gabriel é assim. - Respondeu e eu assenti. Joana pegou na minha mão e olhou nos meus olhos. - Cuidado com ele, Jade. Querendo ou não meu primo é um bandido, isso pode ser perigoso para você. - Disse me fazendo engolir seco.
- Eu sei. - Suspirei. - Obrigada por se preocupar, Joana, mesmo.
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Traficante.
Teen FictionEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...