Capítulo 32

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Gabriel.

Estávamos a caminho de Búzios. Foi muito foda deixar a Rocinha pois Caio ainda estava se recuperando e não teria condição nenhuma de ficar cuidando do morro, ele era uma das únicas pessoas que eu confiava alí mas acabei cedendo e deixando nas mãos do Dimenor aliás, ele está alí a anos e eu nunca dei uma oportunidade dessa para ele demonstrar sua esperteza.

- Ih alá chefe, deu ruim, RR armou para nós. - P2 gritava desesperado olhando pelo retrovisor.

Eu dirigia e não podia olhar para trás.

- O que é caralho?! - Gritei curioso, olhei para o o retrovisor central e vi o carro dos vermes nos perseguindo. - Fudeu.

Acelerei o carro mas eles nos alcançaram e atiraram nos dois pneus de trás, atiramos de volta mas não conseguimos acertar o carro.

Peguei o meu radinho e liguei para Dentinho que estava no outro carro com o resto dos meus soldados.

- Dentinho, deu ruim para nós... Tu que está no comando agora, segue o fluxo e salva minha mulher. - Eu disse e desliguei o rádio sem esperar a sua resposta.

Como isso aconteceu? Eu tinha uma ficha limpa na polícia mas pelo pau no cu que o RR é, armou direitinho para mim.. mas de uma coisa eu tenho certeza, x9 vai cair! Eu estando na cadeia ou não.

Parei o carro na rua sem saída. Abri a porta e saí do carro vendo que a minha única saída era me entregar.

- No chão. - O verme disse e assim fizemos.

Jade.

Já era meu terceiro dia naquele inferno e ninguém havia ido me buscar. Octávio usava e abusava de mim, eu já não tinha forças para ficar de pé. Ele deixava a Laura comigo todas as noites e pelo menos isso, ele deixou a minha filha ilesa de toda a sua loucura.

Eu estava morrendo de fome e sede, a última vez que ele me deu comida foi ontem pela manhã. Suspirei fundo e fiquei brincando com a ponta do meu cabelo que já estava mais do que sujo. Ouvi alguns barulhos altos vindo de lá de cima e fiquei aflita.

Tiros e mais tiros..eu já chorava de desespero, minha filhinha, o que esse desgraçado fez com ela?
Vi a porta se abrir e um homem alto e moreno adentrou correndo até mim.

- Quem é você?! - Perguntei e ele murmurou um sh, me puxou e saiu comigo daquela casa.

Minha boca fez formato de "O" quando vi Octávio morto por cima de uma poça de sangue, haviam acertado  um tiro na sua cabeça. Fiquei parada tentando assimilar, pus as mãos na boca assustada. Por mas que ele tenha feito todas as merdas comigo, eu não desejava isso a ninguém, nem ao meu pior inimigo.

- Bora logo! - O tal homem disse e me puxou para fora daquela casa.

Vi muitos carros na porta e entrei em um deles. Vi minha filha no colo do Dentinho e a peguei dando inúmeros beijos por todo o seu rosto aliviada de ver ela bem e com saúde.

- Meu Deus, tu tá toda machucada. - Dentinho disse e eu desabei o abraçando.

- Me desculpa. - Funguei me recompondo e me soltando do seu abraço acolhedor.

- Que isso madame, precisa se desculpar não. - Falou engraçado me fazendo sorrir.

O carro começou a andar e a Laura acabou dormindo com o balancê. Encostei minha cabeça no vidro da Janela e tirei um cochilo longo, tentando esquecer de tudo que eu passei nos últimos três longo dias.

Acordei com Dentinho me chaqualhando. Abri os olhos lentamente e vi que já estávamos com o carro estacionado na garagem de casa. Sorri feliz e aliviada. Entramos em casa e não tinha um movimento se quer, estranhei.

- Foi poucos dias mas senti tanta falta daqui. - Sorri amarelo e sentei no sofá.

- Pode crê, patroa. - Franzi o cenho.

- Patroa? - Ele assentiu debochado.

- A mulher do patrão é a patroa ué... - Ele disse obviamente e eu ri.

- Cadê o Gabriel, Dentinho? - Sorri abertamente e ele abaixou a cabeça.

- Jade... - Fez uma pausa. - Não sei como te contar isso. - Suspirou.

- Para de encher linguiça e fala logo. - Eu disse curiosa.

- O chefe foi pego pelos vermes, já era. - Eu arregalei os olhos.

- Isso é brincadeira né Dentinho? Que eu saiba o Gabriel é ficha limpa na Polícia... - Exclamei desesperada.

- Sim ele era mas o filha da puta do RR armou feio para ele! Implantou droga na merda daquele carro e ainda por cima encontraram as armas que usariamos para te tirar de lá. - Tentou me explicar.

- Mas o que RR tem a ver com isso tudo?Octávio não seria tão inteligente a ponto de se aliar a RR.

- Sim, concordo, só que tem x9 nessa porra que provavelmente avisou ao RR que o chefe saiu do morro e ficou mais vulnerável. - Eu assenti ainda chocada.

Me despedi do Dentinho, entrei dentro do quarto com a Laura, deitei ela na cama e fui para o quarto do Gabriel. Sentei na cama e chorei durante horas. Toda vez que eu me lembrava do ocorreu e de onde o Gabriel estava, meu coração apertava.
Sabia Deus quando eu iria reve-lo novamente. Me senti culpada, talvez se eu não tivesse insistido de ir ao mercado isso tudo não tivesse ocorrido. Ele já perdeu tantas fases da vida da nossa filha e agora perderia muito mais.

Ricardo.

Eu sabia que um dia o Gabriel iria cair em uma de minhas armadilhas mas nunca pensei que seria tão fácil assim. Com ele preso, tudo mudou, as chances de nós invadirmos a Rocinha aumentou para 99%. Mas não posso comemorar muito porque pelo que eu conheço o GT, nem estar dentro de uma cela vai parar ele, por isso tenho que ser sagaz.

- Copo para o alto minha ruiva, nós conseguimos. - Selei os meus lábios nos de Júlia.

- Me sinto mal comemorando a cadeia dele, aliás, eu era de lá. - Bebericou a sua caipirinha.

- Ah qual foi, Júlia? Eu lutei para caralho para conseguir isso. O Gabriel já teve suas inúmeras vitórias, eu também mereço né? - Ela sorriu indecisa e acabou assentindo.

- Parabéns amor. - Sentou no meu colo e eu apertei a sua cintura. Pus uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, analisando aquele rosto angelical, que só ela tinha. - O que foi, hein? - Perguntou com as bochechas coradas.

- Nada, só estava pensando aqui. - Eu disse e ela beijou o meu pescoço.

- Vou roubar teu perfume para mim. - Ela diz e eu ri.

- Meu cheiro é único bebê, só eu posso usar. - Ela revirou os olhos e levantou do meu colo.

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