Capítulo 12

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Henrique na mídia.

Gabriel.

Ver minha cria naquela tela me fez repensar em muita coisa. É difícil para mim, nunca tive pai e mãe presente em minha vida e agora assumir esse papel é frustrante. Se eu dissesse que gostei dessa notícia estarei mentindo mas sei que terei que arcar com as consequências.

Espero que com o tempo eu saiba assumir esse papel da forma certa. Sei que não será fácil... Não é fácil nem para aquele que quer ser pai, quanto mais para mim.

Eu quis dar um momento de paz para mim e a Jade, por mas que eu esteja cansado com toda a sonsidez dela. A respeitarei a partir de agora como mãe da minha cria, dando tudo que ela precisar ou pedir para mim.

Darei tudo para a criança, dinheiro, fralda, roupa, tudo o que precisar, acho que fazendo isso cumprirei meus deveres e Jade não vai ter nada do que reclamar.

Não terei nada com a Jade, até porque ela só é mãe da minha cria, fora isso, nada mais. Tô correndo de laço.

- Qual foi, tuninho? - Chamo ele no radinho.

- Eai chefia, o que mandas?

- Manda aquela loira gostosa lá para o meu barraco.

- Tu é foda... - Gargalhou. - Jae po, marca cinco minuto ae. - Desligou.

Ouvi alguém bater na porta e murmurei um entra. Jennifer entrou e puta que pariu! Essa mulher não larga do meu pé, eita porra, pior que carrapato!

- O que tu faz aqui? - Perguntei e ela sorriu maliciosa tirando todos seus trajes, ficando apenas de calcinha e sutiã.

- Vai dizer que não está com saudades? - Perguntou e apertau meu pau coberto pela calça. Suspirei fundo.

- Tu vai ficar de cama hoje. - Sussurrei em seu ouvido e puxei seu cabelo.

Jade.

Gabriel me deixou em casa e saiu catando pneu. Sentei no sofá e suspirei pesado, era muita coisa para uma pessoa só ingerir.

Pensei em todas as palavras que Gabriel me disse, nunca imaginei essa atitude dele para falar a verdade. Se estão achando que eu gostei, estão completamente errados pois eu preciso de um pai presente, que dê amor, que sinta amor. E tudo que o Gabriel provou até agora é que ele só quer um herdeiro para a Rocinha. Isso me deixa extremamente triste pois eu queria ter um filho com uma pessoa que o amasse incondicionalmente.

Ouvi a porta tocar e estranhei, logo tratei de ir atender tendo uma grande surpresa.

- Henrique? - Murmuro confusa.

- Surpresa. - Sorriu e me abraçou, derramei algumas lágrimas e o apertei ainda mais contra mim.

Meu melhor amigo de infância tinha voltado para mim...Como eu precisei dele todo esse tempo que esteve fora! Com certeza Henrique é uma das pessoas mais importantes que passou pela minha vida.

Infelizmente ele foi para Flórida por uma bolsa de estudos que ele havia ganhado aqui. Foi muito difícil para nós nos despedirmos, foi um chororô que só, lembro como se fosse ontem das minhas semanas depressivas querendo meu amigo de volta.

- Meu amor, que saudades. - Gritei entrelaçando minhas pernas em sua cintura.

Nós sempre tivemos uma relação assim, de intimidade mas nunca nos estranhamos e isso só fortaleceu mais ainda nossa amizade.

- Pequena... Você mudou. - Ele me roda. - Que bundão. - Gargalhei e bati em seu ombro.

- Não deixou de ser idiota. - Sequei minhas lágrimas e baguncei seus cabelos.

- Vamos entrar que estou morrendo de fome e quero saber as novidades. - Ele diz e vai direto para a cozinhama. Muito abusado.

- Senti tanta sua falta... - Abracei sua cintura.

- Eu também pequena... - Sorriu.

Henrique sempre foi lindo demais. Alto de cabelos castanhos escuros e olhos castanhos esverdeados, seu físico era de dar inveja para outros homens, ele é o sonho de toda garota.

- Por que voltou? - Abri a geladeira, peguei uma coca de dois litros fechada e enchi os copos.

- Vim só de passagem mesmo para falar com você. - Sorri e dei sua coca.

- Por que você viria da Flórida só para falar comigo, Henri? - Perguntei desconfiada.

Era fácil de decifrar quando Henrique mentia, o conheço como a palma da minha mão, tem caroço nesse angú.

- Eu não sei mentir para ti mesmo. - Bebericou sua coca. - Vim aqui te fazer uma proposta, Jade. - O olhei confusa.

- Qual seria essa proposta, Henrique?

- Quero que venha morar comigo. - Arregalei os olhos. - Não na Flórida e sim em Portugal. A empresa onde trabalho irá montar uma franquia em Portugal, então eles acabaram decidindo de me chamar para ser o gerente de lá. - Mordi os lábios. - Não entenda isso como uma obrigação Jade, entenda como uma boa escolha que você pode fazer. Sei que seu sonho é estudar e trabalhar fora, não vi pessoa melhor para ir comigo.

Era uma oportunidade e tanta, sempre tive o sonho de morar em um lugar diferente e conviver com pessoas diferentes. Difícil de saber o que fazer, aliás só tenho dezesseis anos e mal cuido de mim mesma.

Por mas que tenha todas essas circunstâncias, é tudo o que eu preciso... Criar meu filho longe do Gabriel, longe dessa vida e dessa realidade. Tirar ele desse pai troglodita e sem coração que nunca irá dar atenção para seu filho.

Não quero ser mais uma dessas jovens que engravidam cedo e o pai caga e anda para o crescimento da criança, Gabriel não merece ser pai do meu filho e nem meu filhinho merece o pai que tem.

- Pode me dar um tempo para pensar? - Perguntei e ele assentiu.

- Ficarei por aqui durante cinco dias, tem que me dar a resposta até terça-feira pela manhã, tudo bem? - Concordei.

- Você pode ficar aqui já que estou sozinha agora. - Eu disse cabisbaixa e ele me olhou com curiosidade.

- Onde está Rosa, Jade? - Meus olhos se encheram de água. - Não me diga que ela.. - O interrompi.

- Não, Henri, ela não morreu... Só me abandonou, foi embora daqui. - Solucei e ele me abraçou.

- Meu Deus... - O apertei sentindo minhas lágrimas molharem sua camisa branca. - Qual foi o motivo?

- Henrique. - Segurei em seu rosto com minhas duas mãos. - Eu estou grávida. - Ele arregalou os olhos e pôs as duas mãos na cabeça.

- Você? Conta outra Jade... Tu sempre foi na tua, quieta, nunca gostou de sair por aí e ficar com qualquer um. - Abaixo a cabeça.

- Estou grávida do GT. - Digo e ele tranca o maxilar.

Henrique morava na Rocinha antes de ir para a Flórida, ele era aviãozinho. Entrou nessa vida suja para ajudar sua mãe que sofria com câncer... Mas para a nossa alegria sempre estudou e se dedicou á escola, era um aluno exemplar... Henrique sempre amou estudar. Alguns anos depois chegou o sinônimo de seu esforço, graças a Deus ele conseguiu uma bolsa no exterior e vive lá a exatos cinco anos. Hoje com seus vinte anos de idade ele já pode dizer que venceu todas as sua limitações e o admiro muito por isso.

- Aquele filho da puta. - Henrique murmura e puxa seus cabelos.

- Shhh, calma, eu já estou bem. Tô sabendo lidar com isso aos poucos, todos estão me ajudando... A não ser Rosa que virou as costas para mim, mas não tenho do que reclamar, só tem sido muito difícil conviver com essa responsabilidade. - Eu disse e ele assentiu ainda cheio de raiva.

- Eu vou falar com ele Jade, isso não pode ficar assim. - Henrique levantou.

- Por favor Henrique... - Suspiro. - Se eu for com você para Portugal, você desiste dessa idéia louca de ir até Gabriel? Você pode se machucar feio!

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