Peço que ouçam a música maravilhosa da mídia acima, tema do capítulo, boa leitura, seus lindos.
Júlia.
Eu estava sentada na poltrona de frente para Ricardo. Eu não conseguia me conformar em vê-lo assim. Eu admirava sua beleza, seus traços finos e seus lábios carnudos. Eu tinha muita sorte.
Ouvi baterem na porta e murmurei um entra. Logo a imagem da médica se formou, ela estava com um sorriso no rosto, olhava sua prancheta a todo instante. Eu já estava ficando nervosa.
- Boa noite, venho com uma ótima notícia. - Arregalei os olhos.
- Não diga que... - Ela assentiu.
- Conseguimos um doador para o tipo sanguíneo do seu namorado. - Eu abri um sorriso de orelha a orelha e derramei lágrimas de alegria.
- Não sei nem como te agradecer, meu Deus. - Mordi meus lábios e pus a mão sobre a minha boca desacreditada. - Alguma informação sobre o doador? - Perguntei curiosa.
- Ele estava muito confuso, desde o início até o final da doação mas no final deu tudo certo. - Ela sorriu.
Meus pensamentos foram até Gabriel. Eu tinha certeza absoluta que tinha sido ele. Pelo que convivi com ele na Rocinha pude notar sua semelhança com Ricardo. É difícil conviver mas depois que os conhecemos de verdade podemos olhar com outros olhos e ver o coraçãozão que eles tem.
Eu estava radiante, era impossível explicar o misto de sentimentos. Eu não tinha como retribuir Gabriel, ele simplismente trouxe a minha alegria de volta, a minha única razão de começar uma vida diferente.
- Bom... Começaremos a transfusão agora mesmo, peço que se retire que iremos transfiri-lo para outra sala. - Eu assenti ainda emocionada.
Saí daquela sala saltitando, a felicidade exalava.
- Obrigada meu Deus. - Murmurei olhando para o céu.
Jade.
Eu estava com um enjoo absurdo. Gabriel não chegava em casa e eu não ousava meter os meus pés fora dali. Eu estava indisposta e cansada, meus pés latejavam e estavam enxados.
Estou mal desde de manhã, comecei apenas com uma dor de cabeça fraca que resultou a tudo isso. Pedi para Malu cuidar da minha filha pois eu estava muito cansada e não poderia dar toda a assistência necessária que uma criança merece. Sei que isso não existe para mãe mas foi só hoje, nunca faço isso, até pq ninguém é obrigado a cuidar da minha filha.
Suspirei cansada e criei forças para levantar daquele sofá macio. Calcei meus chinelos e caminhei até a instante que estava meu celular, chave e carteira. Peguei todos os meus pertences e saí de casa, pronta para ir direto para o médico, o mal estar estava insuportável.
Caminhei até a portaria da Rocinha, cumprimentei Capivara que estava na guarda com alguns vapores que eu não conhecia.
Chamei um uber para me buscar mas o mesmo demorava muito, já estava a uns dez minutos dizendo que chegaria a cinco. Vi um carro preto vindo em minha direção e suspirei aliviada.
Não entendi o porque dele estar vindo tão rápido, parecia que o seu pé não saía do acelerador. Me assustei e acabei gritando vendo o carro chegar perto em alta velocidade.
Lembrei da pior noite da minha vida, do grito da minha mãe de desespero, dos últimos olhares e do farol do caminhão colidindo com o nosso carro. As lágrimas ja desciam.
- Patroa. - Ouvi um último grito.
Senti o impacto do carro contra o meu corpo, caí no chão e bati com a cabeça. As estrelas do céu ficaram cada vez menores formando uma imagem negra.
Gabriel.
Eu estava em um bar qualquer na Rocinha, tomando um gelo com os moleques e jogando conversa fora. Fazia muito tempo que eu não me divertia assim, deveríamos nos reunir mais vezes.
Eu ria das palhaçadas de Caio em um Karaokê velho que tinha lá, ele cantava e dançava sofrencia com a garrafa de cerveja nas mãos. Provavelmente ele e Maria Luiza tinham brigado, o filho da puta fazia eu engasgar de tanto rir.
Tomei um gole do meu gelo e peguei um base que estava no meu bolso, acendi o mesmo, inalei e soltei na cara de P2 que estava ao meu lado.
- Que vacilação. - Ele bufou e eu gargalhei.
Vi uma aglomeração na porta do bar e uma gritaria que só. Caminhei em passos rápidos até lá e vi Capivara tentando passar pedindo licença, ele estava desesperado.
- Que porra é essa aqui? - Gritei afastando as pessoas. - Passa a visão. - Ele arregalou os olhos.
- A patroa chefe, ela, ela foi... - Ele gagueijava.
- Ela foi o que? Porra! - O peguei pelo colarinho de sua camisa. - Em capivara, ela o que? - Gritei.
- Ela foi atropelada chefe, levaram ela as pressas para o hospital mais próximo. - Ele disse fazendo meu coração disparar. Meu peito subia e descia descontroladamente.
- Como isso aconteceu, caralho? - Perguntei puxando os meus fios de cabelo. - Eu preciso ir até lá.
- Tu não pode ir lá chefe, deixa comigo. - Ele apertou o meu ombro.
- Foda-se, é a minha mulher. - Eu disse e ele assentiu. - Me manda o endereço por mensagem.
Montei na minha CB600 saindo voado, parei em casa. Peguei a minha pistola e pus a mesma na minha cintura. Abri as mensagens do celular e vi o endereço do hospital onde Jade está. Saí novamente de casa, rumo ao hospital.
No caminho só conseguia pensar no quanto minha morena estava sofrendo. Eu me corroia por dentro só de pensar na possibilidade dela estar em risco.
Me livrei dos meus pensamentos negativos e estacionei a minha moto. Passei direto pelos seguranças, Dimenor tinha dado um jeito, com certeza tinha a ver com faz me rir vulgo grana.
Assim que cheguei,avistei uma moça loira de jaleco branco, deduzi que era uma médica ou enfermeira do hospital. Toquei em seu ombro e ela virou com uma expressão séria.
- Boa noite, no que posso ajuda-lo? - Ela sorriu simpática.
- Eu queria saber da minha mulher, Jade Albuquerque, ela deu entrada no hospital agora pouco. - Ela assentiu.
- Ela foi internada a alguns minutos atrás, aguarde uns minutos, irei checar qual é o seu estado. - Ela disse e se retirou.
Sentei em uma cadeira que tinha por perto e pus a minha cabeça entre minhas mãos. Alguns minutos depois a médica chegou, sua cara não era das melhores.
- O que houve, doutora? - Perguntei curioso.
- O acidente dela foi muito violento. Ela teve alguns ossos quebrados, como o fêmo e o braço esquerdo, infelizmente ela sofreu um concussão, sinto muito. - Meu coração acelerou.
- O que seria uma concussão?
- Lesão cerebral causada por uma pancada na cabeça, os sintomas podem concluir em perda de memória, entre outras sequelas.
Meu nariz ardeu e logo senti as lágrimas chegarem na minha bochecha.
- Isso está errado doutora, Jade tem uma filha para cuidar, não pode perder a memória. - Eu aumentei o meu tom de voz.
Ela mordeu os lábios e murmurou um sinto muito. Isso não podia estar acontecendo, eu preciso da minha mina aqui, preciso do meu ponto de paz. Não vamos ser hipócritas, sem ela sou uma pessoa vazia, sem história. Minha vida ganhou um novo sentido quando eu vi aquela morena no baile, quando eu fudi com tudo, quando ela me perdoou. A vida nos fez ter inúmeros encontros e desencontros e eu não sei como consegui ficar tanto tempo longe dela, longe dos seus carinhos, dos seus beijos e abraços.
Ela me mudou, enxergou o que tinha de melhor em mim e isso não tem preço. O que vale ter mil amantes se nenhuma vai continuar contigo quando tu estiver fudido? O que adianta se não vai ser seu maior ponto de paz nas horas precisas?
Ela não merecia isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Traficante.
Teen FictionEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...