Ricardo. (RR)
A mina foi boazinha. Ficou com bastante medo mas quando soube que se tratava de uma negociação foi bem mais esperta do que eu imaginei. Ela não tinha sede de vingança ou algo do tipo como eu. Foi fácil convence-la.
- Eu não sei. - Entortou os lábios. - Seria muita maldade... - Suspirou pesado.
- Qual foi patricinha? Vai amarelar? A faca e o queijo já está em suas mãos. - Ela me olhou por alguns segundos e logo me estendeu a mão.
- Eu topo... - Sorri. - Mas com uma condição! - Revirei os olhos.
- Lá vem. - Cruzei os braços e esperei a sua resposta.
- Se o bagulho der errado, tu não vai por meu nome no meio disso! Eu, Camila, não tenho nada a ver com esse plano louco. - Ela disse e eu assenti.
- Tudo bem. - Dei um gole no meu whisky. - Tu é gostosa até... - A analisei.
- Meu plano era te ajudar e não ser a sua amante. - Bateu o pé e saiu da minha sala.
Balancei a cabeça, saí daquela sala e fui para o baile curtir, também sou filho de Deus porra! Fui direto para o camarote, sentei na mesa e algumas mulheres vieram dançar para mim.
Olhei para baixo e vi Júlia, ela bebia e falava sozinha que nem uma louca. Gargalhei admirando aquela garota... Porra, por que tanta areia para o meu caminhãozinho? Juninho é que tem uma puta sorte... Tem uma mina gostosa e fiel ao lado dele e caga e anda para isso.
- Eai. - Tavinho fala comigo me passando o base.
- Qual foi? - Cumprimentei ele com um toque de bandido.
Jade.
Deitei na cama cansada. Logo depois Gabriel passou apenas de toalha. O olhei e mordi os lábios, mas desviei o olhar me contendo quando o mesmo olhou para mim.
- O que foi? - Riu e sentou na cama.
- Nada ué... - Murmurei e ele me olhou com cara de desconfiado.
Me ajeitei na cama e ele deitou ao meu lado. Estávamos em um silêncio profundo, nenhum dos dois ousava a se manifestar. Resolvi quebrar o silêncio com uma pergunta:
- Me conta sobre você? Eu não sei absolutamente nada da sua vida! - Eu disse e me virei para ele que ficou sério com a minha pergunta.
- Não gosto de falar sobre minha história... - Murmurou.
-Gabriel. - Segurei o seu rosto. - Já está mais do que na hora de você confiar em mim... - Ele sorriu.
É, eu acho que eu estou completamente apaixonada...
- Tá, eu vou te contar! Mas saiba que eu nunca falei isso para ninguém, tá ligada? Então se eu estou te contando é porque eu botei toda a minha confiança em tu. - Eu assenti feliz.
- Obrigada... - Eu disse e cheguei mais para perto dele.
- Como você já deve ter percebido quem me criou foi minha Tia Sandra, mas eu morei com a minha mãe até os meus oito anos de idade. Minha mãe dizia que ela e o meu pai se conheceram em uma tal festa que eu suponho ser um baile, ficaram durante quatro meses mas depois desmancharam, minha mãe só queria curtir, estava em pleno a sua adolescência, tinha apenas quatorze anos. Dois meses depois ela teve a descoberta que estava supostamente grávida de mim... Mas ao contrário do que tu pensa, ela não me amou no primeiro instante, muito pelo contrário, me odiou assim que descobriu. Minha vó era muito de boa, então cuidava dela e a prendia dentro de casa para ela não fazer nenhuma burrada com o bebê, no caso eu. Enfim, ela me teve com seus quinze anos, uma "criança" imatura que não tinha um pingo de responsabilidade com si mesma imagine com um bebê... Muito das vezes quem me livrava de tomar uma bela sua surra era a minha vó. - Suspirou pesado e continuou. - Ela fazia coisas horríveis comigo, quando eu chorava, ela me puxava a força, ia até o fogão, ligava o fogo, o desligava e depois botava todos os meus dedos. - Mostrou seus dedos, cheios de marcas, meus olhos lacrimejaram. - Era horrível ouvir ela dizer que "deveria ter abortado" e que estava de saco cheio de mim.
Sabe o que é?chegar da escolinha cheio de fome e a sua mãe te dar apenas farinha com água para "encher"? Eu dormia apenas com aquilo na barriga. Mas fiquei crescido e comecei a ser mais idependente, mal falava com a minha mãe estando no mesmo teto que ela. Um dia, ela saiu de casa e não voltou nunca mais, minha avó já havia falecido de câncer nos rins. Minha tia morava ao meu lado e sabia de toda a situação, tentou me levar três vezes para morar com ela mas minha mãe tinha um orgulho besta e não deixava eu ir... Quando ela foi embora, essa foi a única chance para eu morar com a minha tia. Esperamos dias pela minha mãe mas ela não chegou, tempos depois descobrimos que ela foi morar com um cara cheio da grana. Fiquei com a minha tia até os meus quinze anos e depois me rendi a vida do crime que me proporcionou o que eu sempre quis ter, dinheiro, carro, mulheres e o poder. - Disse e naquela altura eu já chorava de soluçar.Eu não sabia que ele tinha passado por essa barra toda. As vezes somos tão egoístas... Só pensamos nos nossos próprios problemas e não amparamos o nosso próximo. Me senti um lixo e na necessidade de dar todo o meu amor e carinho a ele.
- Vem aqui. - Chamei ele. - Eu não sei nem o que te dizer... - Ele me interrompe.
- Ninguém nunca sabe, é complicado. - Coçou a nuca e eu acariciei o seu rosto o encarando. Me doí tanto ver uma pessoa que eu amo assim.
- Eu te amo. - Eu disse sem pensar e ele me olhou completamente assustado.
- Você tem certeza disso? - Perguntou e eu assenti tímida. - Isso está errado, tu não pode dizer isso, Jade, não mesmo. Eu não mereço ser amado, não mereço um pingo do seu amor. Você ainda não se ligou? Eu gosto de tu Jade, gosto para caramba, mas infelizmente sei que você é muito para mim, eu não te mereço. - Seus olhos se encheram de lágrimas fazendo meu coração apertar.
- Não diz isso! Olha sua filha aí, ela te ama tanto mesmo te conhecendo a tão pouco tempo... Não vê a felicidade que ela tem quando você chega? Sua tia também, que te criou e foi como uma mãe dando todo o amor que tu precisava. Fora eu que acabei de admitir que te amo, o que não é nada fácil. - Ele me olhou e eu o abracei.
Ele chorou. Sim, Gabriel chorou no meu colo como se não houvesse o amanhã. Eu só ouvia o seu choro baixinho ecoando por todo o quarto, aquilo estava acabando comigo, me deixando completamente fraca. Eu havia tocado
em seu ponto fraco.- Eu não posso ser vulnerável assim na sua frente. - Fungou e eu revirei os olhos.
- Conta comigo, tá bom? - Beijei sua cabeça.
Ele selou nossos lábios, depois aprofundando o beijo, pediu espaço para sua língua e eu sedi, segurou o meu cabelo me trazendo mais para ele. Sentei em seu colo e ele fez eu entrelaçar as minhas pernas na sua cintura, por incrível que pareça, ele continuou com suas mãos na minha nuca deixando o beijo cada vez mais envolvente. Pela primeira vez não era nada malicioso, parecia que nós tínhamos posto todos os sentimentos alí, pelo menos eu pus.

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Traficante.
Novela JuvenilEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...