Gabriel.
Sinto que não tenho dado tudo de mim em relação a minha filha, ela precisa de mim mais do que nunca nesse momento e o mínimo que eu deveria fazer era dar as devidas atenções. Mas a boca me chamava... Mais do que nunca o cargo como o dono da Rocinha me chamava.
Malu sempre me ajuda mas ela tem sua vida, está grávida, tem uma família. As vezes acho que abuso muito da mesma, Laura vive em sua casa e isso é o que me deixa mais preocupado, nunca foi minha intenção ser um peso para alguém.
- Gabriel, eu já disse, minha afilhada nunca será peso. - Caio disse.
- Isso está errado Caio, você tem uma família para cuidar, Malu tem que ter todo cuidado, ela não pode viver para cima e para baixo com aquela criança na barriga. - Eu disse pela milésima vez, isso tudo já estava me cansando.
***
Após dois meses turbulentos, Jade receberia alta. Durante esses meses, ela foi preparada psicologicamente e fisicamente para lidar com sua nova vida. Nunca mais fui vê-la a pedido do seu médico, ele disse que ela não estava preparada.
Joana me ajudou com isso, ela cuidou da Jade em todo momento e foi a mesma que contou nossa história para a mesma, do dia do baile até seu último momento naquele acidente. Jade não reagiu bem, teve um ataque de pânico, a enfermeira teve que ceda-la, ela dormiu durante horas, segundo Joana.
Me doía ver minha filha sentindo falta da mãe. Suas notas caíram, ela não tem mais ânimo para comer e passa a maior parte do tempo chorando pelos cantos da casa. Nem mesmo ir dormir na casa de sua amiguinha ajudou. Mãe é mãe, não existe forma de substituir! Me sinto mal por só ter percebido isso agora.
Joana segurou na minha mão tentando me tranquilizar, eu estava nervoso, não sabia como Jade iria reagir a isso tudo. Fechei os meus olhos, levantei do banco do carro e entrei no hospital.
Jade.
Eu ainda tentava assimilar que eu era mulher do chefe da Rocinha e que também tenho uma filha de cinco aninhos. É tudo muito assustador, eu não me reconheço mais, não sei nem quem eu me tornei.
Saber que Rosa virou as costas para mim me deixou confusa e extremamente decepcionada. Logo ela que sempre cuidou de mim, que me tratou como sua própria filha e que acima de tudo prometeu nunca me abandonar.
Me sinto burra também...Por ficar com um cara perigoso assim, mas sei lá, dizem que por amor fazemos loucuras e por tudo que Joana me contou, eu realmente estava perdidamente apaixonada.
***
Eu esperava Joana vir me buscar, não aguentava mais ficar nesse inferno. Foram os meses mais longos da minha vida, os minutos passavam lentamente, não aguentava mais ver pessoas morrendo bem na minha frente.
Me livrei dos meus pensamentos ao sentir uma mão no meu ombro, me virei assustada e Joana deu um sorriso, retribui e respirei fundo.
- Vamos? - Ela perguntou e eu assenti.
Caminhamos até fora do hospital. Dei dois passos para trás assim que vi Gabriel a nossa espera. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram e meu coração acelerou, eu estava com medo.
- Relaxa, ele não vai te tocar.. - Joana disse.
- Tudo bem, eu só estou insegura. - Murmurei.
Gabriel direcionou seu olhar a mim e eu desviei. Sentei no banco de trás, enquanto Joana ia no de acompanhante ao lado de Gabriel. O clima estava tenso, ninguém arriscava pronunciar um pio, eu faria de tudo para estar em outro lugar mais confortável.
Por mas que Joana fosse um porto seguro para mim, ela não iria me proteger de tudo por muito tempo... Esse sem dúvidas é o meu maior medo.
Chegamos em menos de vinte minutos. O caminho era desconhecido por mim, a única coisa que eu sabia é que havíamos chegado na Rocinha.
Paramos em frente a uma casa, saímos do carro e adentramos a mesma. Não pude evitar o susto ao ouvir uma voz fina gritar mamãe.
A pequena sorriu de orelha a orelha e correu até mim. Não pude evitar o meu sorriso, ela era uma boneca, havia traços meus em seu rosto, como também de Gabriel. Abaixei ficando da sua altura e abracei seu corpo pequeno ao meu.
- Eu estava com muita saudadi. - Ela disse baixo e eu beijei sua cabeça.
Eu não reconhecia minha própria filha, era agonizante. Por um minuto eu fiz uma esforço absurdo para tentar lembrar de cada momento que vivi nos últimos cinco anos, mas foi em uma tentativa falho.
- Filha.. - A voz grossa de Gabriel soou por aquela sala. - Sua mãe quer descansar, depois você mata as saudades, tá bom? - Ela assentiu triste e abraçou o pai.
Minha boca abriu em formato de O e eu arregalei os olhos ao ver aquela cena. Gabriel beijava sua testa e acariciava seus cabelos, a mesma estava em seu colo com a cabecinha apoiada em seu ombro. Era incrível a conexão dos dois e até mesmo a forma que se pareciam. Era notável todo o amor que ele tinha por ela, dava para ver seu zelo apenas pelos seus gestos espontâneos e cuidadosos.
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Traficante.
Teen FictionEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...