Jade.
Hoje completaria exatamente dez anos que os meus pais faleceram. Era um dia triste, um dia que acabava comigo em todos os sentidos. Se todos os dias eu já sinto falta, hoje então meu peito aperta de uma forma absurda.
Tenho um ritual de todo ano ir visitar eles no cemitério, depois volto para casa, fico quieta, no meu canto. Não sinto vontade de fazer mais nada depois disso! É o único momento que sinto eles comigo novamente.
Vesti uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa preta de alcinha, calcei meu all star branco e resolvi dessa única vez ir de cabelos soltos.
- Já vai, filha?! - Rosa pergunta.
Eu sabia que aquela data era muito importante para Rosa também, ela querendo ou não, era prima da minha mãe. No começo mamãe insistiu para ela não trabalhar aqui mas a Rosa estava precisando tanto que minha mãe acabou cedendo para ela ser minha babá. Nós não tínhamos quase ninguém da família além dos meus tios que moravam longe, minha mãe viu que ela era a pessoa de confiança e a pôs no papel para cuidar de mim.
- Vou sim. - Sussurro e saio de casa em passos largos.
***
- É tão difícil ficar sem vocês. - Suspiro. - Eu queria você aqui mamãe, para me ajudar nas minhas decepções, para me dar broncas e para cantar todas as noites que eu não conseguisse dormir, assim como fazia antes. E você papai, para as brincadeiras sem limite, do seu churrasco delicioso e das suas risadas histéricas fora de hora. - Fungo. - Eu não tenho ninguém nessa vida, somente a Rosa, eu não sei que rumo tomar, me ajudem, por favor.
E foi alí que eu passei a minha tarde inteira, matando a saudade das pessoas que eu mais amo nesse mundo. Do meu porto seguro, meu refúgio...
É algo inexplicável mas visita-los me faz um bem absurdo, eu me sinto extremamente protegida e amada. É surreal!
***
- Dessa vez não tem discussão. - Malu disse dando língua.
- Não tem mesmo não. - Júlia concorda e cruza os braços.
- Vocês são muito chatas. - Digo entediada.
Elas duas estão a dias tentando me arrastar para o baile. Tem sido todo o dia mesma coisa, elas dizem que eu sou careta e medrosa mas não entra na cabeça delas que eu simplismente não quero por livre e espontânea vontade.
- Tô indo, espero que se conformem que eu não vou e ponto final.
- Vamos ver então. - Disseram em uníssono.
Cheguei em casa e logo depois do almoço, caí na cama, estava morta de cansaço, tive três tempos seguidos de física, não tem quem aguente. Tenho estudado tanto, terceiro ano ficava cada dia mais difícil.
***
- Mais cinco minutos, Rosa. - Murmuro, me virando para o canto.
- Você achou mesmo que iríamos deixar de vir? - Arregalo os olhos e me viro novamente.
Malu e Júlia estavam alí, bem na minha frente.
- Já separei sua roupa, vamos te deixar linda.. - Júlia diz enrolando a ponta do seu cabelo.
- Eu não vou, será que vocês não entendem? Que saco - Grito irritada.
- Acho esse medo uma bobagem mas não vou te obrigar - Júlia diz.
- Esquece Júlia, essa daí tem medo até do ar que respira. - Malu diz e sai rebolando.
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Traficante.
Ficțiune adolescențiEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...