Capítulo 26

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Jade.

Chegamos no camarote e encontramos Dimenor, P2, alguns vapores e mais algumas piranhas puxando o saco deles. Sentamos na mesa que tinha lá, eles conversavam animadamente e eu estava por fora de tudo. Me sentindo um peixe fora da água como sempre.

- Eu vou dançar. - Eu disse baixo e ele negou.

- Dança aqui para mim. - Sussurrou no meu ouvido me deixando arrepiada.

- Vai dar no mesmo. - Dei de ombros.

- Lá vão ficar te olhando... Aqui se alguém te olhar leva só um tiro na testa. - Me olhou sério e depois riu.

- Então tá bom. - Dei de ombros e levantei.

Algumas piranhas me olharam torto e logo depois saíram. Para a minha felicidade, começou a tocar "livinho não machuca".

Eu ia dançando conforme a música e mandando alguns quadradinhos, rebolando minha bunda até o chão. Ele lançou um olhar desafiador e eu sorri maliciosa, caminhei até ele e virei de costas, dancei encostada nele conforme a batida da música.

- Apaga a luz que no escuro nós discute... - Cantarolei e ele sorriu de lado.

- Tu adora me provocar, né? - Puxou meu cabelo e eu ri.

- Já virou hobby. - Continuei dançando. - Está todo mundo olhando, vamos parar. - Falei baixo quando percebi que tinha uma plateia olhando, Gabriel me olhou torto.

- Foda-se eles. - Disse e eu assenti.

***

Separei os meus lábios dos de Gabriel envergonhada. Ele desceu sua mão até minha bunda apertando. O encarei feio por conta das pessoas ao nosso redor e ele deu uma risada.

Muita gente nos olhava e toda vez que eu percebia Gabriel me apertava contra ele, transmitindo segurança.

- Gabriel? - Viramos na hora.
Era uma menina morena, dos olhos castanhos, tinha bastante corpo e era muito bonita.

- Camila? - Ele arregalou os olhos surpreso.

- Eu mesma, em carne e osso. - Riu se divertindo e ele levantou a abraçando.

O que eu perdi? Me senti completamente desvinculada. Eles conversavam animadamente e ela nem tinha percebido que eu era acompanhante do Gabriel. Bufei e levantei da cadeira, os dois olharam na minha direção.

- Vou ali em baixo, falar com uma amiga minha. - Eu disse e Gabriel assentiu.

Desci cheia de ódio, porra, que eu saiba ele me levou alí para fazer companhia e não para eu ser apenas um enfeite. Fui até o barzinho.

- Eai, gata? - O carinha sorriu.

- Qualquer coisa forte. - Eu pedi e ele assentiu.

Logo depois trouxe um copão de vodka com energético e me deu. Bebi o líquido e senti aquele gosto forte mas ao mesmo tempo maravilhoso indo de encontro com a minha garganta.

- Oi... - Uma menina loira brotou do meu lado e eu sorri amigavelmente.

- Oi. - Bebi mais um gole e fiz uma cara feia, logo ela acendeu um baseado e me ofereceu. - Não, obrigada, vou ficar só bebendo mesmo.

Eu estava no meu segundo copão e já estava animada demais. Via absolutamente tudo embaçado e mal conseguia andar direito, tudo era motivo de achar graça.

Eu dançava como uma louca, rebolando, misturando tudo quanto é passinho, nem eu mesma sabia o que eu estava fazendo.

- Porra! Você bebeu? - Ouvi uma voz de fundo, com certeza era Gabriel.

- Eu... - Apontei para mim mesma e olhei para a ponta do meu dedo rindo. - Eu não bebi, eu juro. - Balbuciei.

- Vem, vamos para casa. - Disse e me puxou pelo braço.

- Você está me machucando. - Pausei. - Volta lá para aquela mocreia, seu idiota. - Gritei.

- Quem? A Camila? Caralho, ela só é minha prima... - Dei de ombros.

- Isso não impede de você transar com ela.

Quando chegamos fora do baile ele me olhou, analisou meu corpo e depois me pegou no colo, como um saco de batatas.

- Me solta, mas que saco. - Gritei. - Nossa que homem forte. - Apertei o seu braço e ele continuou sério, parecia que estava se contendo para não explodir.

Ele me pôs no banco logo depois partindo. Acabei adormecendo, meu corpo todo latejava.

Camila Martins.

Ver meu "primo" me fez bem. Sua voz me acalmava muito, aliás qualquer coisa que ele fizesse me acalmava. Depois de quatro longos anos, eu voltei para ficar, para conseguir o que eu sempre quis, o Gabriel.

Antes de ser o chefe da Rocinha, ele era um garoto normal, que precisava de amor. Fomos criados juntos e desde pequenininha eu sou completamente apaixonada pelo mesmo. Porém ele nunca me deu muita bola, me tratava como uma irmã e quando o clima rolava, ele escapava de alguma forma.

Confesso que meu coração apertou muito ao ver ele abraçado com aquela mulher. Mas eu fico tranquila pois sei que para ele é só mais "uma".

O Gabriel vai ser meu, ou eu não me chamo Camila Martins.

Jade.

Acordei com a cabeça latejando. Olhei tudo a minha e volta e tentei me levantar mas não deu muito certo pois tudo a minha volta girou.

Logo depois ouvi o barulho da porta sendo aberta e Gabriel entrou.

- Como tu tá? - Perguntou seco.

- Estou tonta demais e minha cabeça está latejando. - Fiz cara de dor quando senti uma fisgada.

- Vamos descer para tu comer alguma coisa e tomar um remédio. - Ele disse e eu assenti.

- Que horas são? - Ele olhou seu relógio de Ouro.

- 14:30 - Ajeitou seu boné.

- Meu Deus, a Laura... - Levantei desesperada.

- Relaxa..minha tia trouxe ela,já está na sala vendo tv. - Assenti.

Fui para a sala me apoiando em tudo pois eu ainda estava bastante tonta por conta de tudo que eu bebi ontem. Vi minha filha e sorri para ela, a mesma abriu os braços quando me viu.

- Mama. - Gritou e eu a peguei ela no colo.

- Que saudades da minha banguelinha, meu Deus. - Ergui ela no alto e a mesma gargalhou se divertindo.

Pus ela no chão e ela voltou a atenção, no desenho que passava na tv. Levantei e fui até a cozinha,quando entrei, me assustei, lá continha um banquete, cheio de comidas que cheiravam muito bem por sinal.

- Iai, gostou? - Gabriel chega e fica apoiado na quina da porta.

- Estou com mó fome só de olhar... - Ri. - Você que fez? -Ele sorriu de lado.

-Não, mas foi eu que comprei na pensão da esquina. - Gargalhamos.

Peguei a Laura e nós três sentamos na mesa. Bem estranho como sempre, mas acabei acostumando em estar nessas situações inesperadas com ele. Comemos em silêncio, estávamos saboreando o tempero maravilhoso que aquela comida tinha.

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