Capítulo 48

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Jade.

Assim que eu e Gabriel chegamos ao nosso ápice, caímos cada um para um lado da cama ofegantes. Fechei os meus olhos e espremi os lábios.

- Sabe o que eu estava pensando?- Ele perguntou.

- Hum? - Murmurei.

- Nunca tivemos um encontro, tá ligada?

- Encontro?!

- Sim... aquela víadisse toda. - Rimos.

- Podemos ter, agora teremos todo o tempo do mundo.

- Tu sabe que não se diz isso para um traficante. - Suspirou. - Amanhã ou depois posso não estar mais aqui. - Ele disse e eu apertei seu braço fortemente.

- Não diz isso... - Espremi os olhos. - Não existe essa hipótese para mim, Gabriel.

- Jade.

- Não faz isso comigo, eu não consigo mais viver longe de você. - Balancei a cabeça. - Sei que se eu te perder dessa maneira você nunca mais irá voltar. - Meus olhos lacrimejaram.

- Shhhh - Ele sussurrou e beijou os meus lábios com cuidado. - não vamos falar disso, vamos viver o hoje.

- Não gosto de pensar sobre isso.

- Então não vamos pensar. - Gabriel me olhou. - Me desculpe por ter tocado nesse assunto.

- Precisaremos falar disso alguma hora. - Acariciei seu rosto. - Temos a Laura agora, amor.

- Eu sei... - Ele murmurou pensativo.

Dois meses depois:   

Dois meses se passaram voando e por incrível que pareça, estava tudo na paz de Deus. O morro estava calmo, sem confrontos, fazia tempo que a Rocinha não esteve tão calma assim.

Não tenho o que reclamar quanto ao meu relacionamento com Gabriel. Ele parecia outro, quem o conhecia antes, não diria que hoje em dia virou pai de família, um cara centrado, com um objetivo só... Nos fazer feliz e se tornar uma pessoa melhor a cada dia.

Laura melhorou na escola com o tempo, tenho dado toda a atenção que ela merece, todos os mimos e carinhos que ela não teve durante todo esse tempo conturbado. Desde que a botei em aulas de balé a mesma não quer saber de outra coisa, vive girando e dando piruetas pela casa, ver minha princesa feliz era o meu porto seguro.

Maria luiza finalmente teve meu afilhado. Sempre brincávamos falando que a gravidez dela durou quase três anos. Malu e Caio são papais super babões, Enzo é uma graça, um amor de bebê, só trouxe alegrias para as nossas vidas. É o xodó de Laura.

Gabriel.

Eu queria, queria muito sair dessa vida para dar um futuro melhor para minha mulher e minha filha mas a Rocinha era toda minha vida, toda a minha história. Todo o meu suor foi dado nessa favela, consegui ela com as minhas mãos, sem a ajuda de ninguém.

Minha família era o mais importante sim, mas me doía, doía passar o meu cargo assim, sem mais nem menos. Sempre gostei de trampar nisso, de mandar e desmandar nessa porra, ter o respeito, porém isso não é mais para mim e eu precisava admitir isso.

Nem imagino o que eu falaria para minha filha quando ela ficasse maior. Que ela tem um pai bandido? Que mato pessoas ou que ganho dinheiro por base do vício dos outros? Não, aquilo precisava acabar. Eu queria ser referência para a Laura, queria que ela tivesse orgulho de mim, orgulho de me apresentar para os seus amigos. Queria que ela tivesse um pai trabalhador.

Eu faria qualquer coisa para Laura crescer em um lugar tranquilo e saudável. E quem sabe, os nossos próximos filhos também. Não queria para eles dos mesmos traumas que eu tive, não queria uma família quebrada como a que eu tive. Eu queria fazer tudo diferente.

Dei um último gole no resto de whisky que se encontrava dentro do copo de vidro. Acendi um cigarro de maconha e prendi a fumaça, logo depois soltei a mesma pelo boca. Ouvi alguém bater na porta e mandei entrar, era Dimenor, o mesmo estava branco que nem cera, parecia que havia visto um fantasma. Arqueei minhas sobrancelhas.

Ele fechou a porta e caminhou até minha mesa.

- Chefia, tu não vai acreditar... - Ele falou alto.

- Fala porra, que enrolação do caralho. - Eu disse sem paciência.

- O verme do RR tá ai... - Eu espremi os olhos e me levantei da minha cadeira.

- O que? Tá de brincadeira, viado?

- Não chefe! - Pausou - Ele chegou disfarçado, tomamos um susto, quase metemos bala nele,mas ele está desarmado, disse que só quer falar com tu.

- Onde ele está? - Perguntei.

- Aí fora.

Pensei para caralho. Podia ser uma puta de uma emboscada, mas eu estava curioso para saber o que o filho da puta queria comigo. Então apenas taquei o foda se e mandei Dimenor deixar ele entrar.

- Pode mandar entrar.

Alguns segundos depois o mesmo apareceu. Estava de cabeça baixa, sem expressão alguma no rosto. Assenti para Dimenor nos deixar a sós.

- Manda o papo. - Eu disse.

- Júlia me disse o que tu fez por mim. - Ele disse baixo.

- Uhum... - Murmurei.

- Por que fez isso por mim?! - Perguntou.

- Olha não me pergunte porquê eu fiz isso, nem eu mesmo sei o real motivo. - Joguei a cabeça para trás. - Foi parada de doido mesmo. Quando vi eu já estava lá, tirando o sangue.

- Eu só queria te agradecer, você salvou minha vida, morô? - Assenti. - Me deu uma segunda chance, terei uma dívida eterna contigo.- Eu assenti e dei um sorriso.

- Suave, já está mais do que na hora de nós resolver o nosso rolo. - Eu disse e me levantei. Tava cansadão dessa porra toda com ele. Já estava mais do que na hora disso tudo acabar.

Fiz um toque bandido com ele e o mandei sentar.

- Tu é sangue do meu sangue, não quero guerra e sim paz. - Eu disse e ele assentiu.

- Eu queria ter vindo antes mas eu estava criando coragem, não sabia como tu iria reagir, se me mataria ou não. - Murmurou.

- Já disse que tá tranquilo pô! Confia no pai aqui. Morreu tudo. - Lambi os lábios.

- Confio pô! - Ricardo respondeu.

- Meu papo com tu é outro.

- Manda.

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