Jade.
- Eu vou lá buscar a Laura, tá? - Sorri para Gabriel.
- Eu vou contigo. - Levantou pondo sua bermuda e eu arqueei minha sobrancelha.
- Claro que você não vai. Tu está foragido da polícia, lembra? Sem condições.
- Então tá. - Suspirou fundo. - Vou lá na boca resolver umas paradas. - Eu assenti mesmo contra gosto, ele me deu um selinho e depois entrou no banheiro.
Logo depois ele saiu do banho e eu entrei. Tomei um banho rápido e troquei de roupa, por incrível que pareça, lá ainda tinha algumas peças minhas. Fiz um coque no cabelo e coloquei o meu óculos de sol.
Peguei minhas coisas e fui embora. Cheguei no colégio em menos de trinta minutos. Minha bebê já me esperava abraçada com o seu ursinho cor de rosa. Ela estava com uma carinha triste e sorriu de lado assim que me viu.
- O que foi meu amor? - Perguntei.
- Ah mãe, eu tô com fome... - Abaixou a cabeça e eu gargalhei.
- Mas tu não lanchou? Eu coloquei tudo na sua lancheira. - Perguntei e ela assentiu dando de ombros.
- Sim, mas eu ainda estou... - Disse e eu sorri.
- Então vamos tomar um sorvete gostoso, o que você acha, fominha? - Ela sorriu de orelha a orelha.
- Eu acho muito bom. - Assentiu rindo e eu a peguei no colo distribuindo beijinhos pelo seu pescoço.
Passei em uma lanchonete e comprei sorvete de morango para Laura, já eu preferi tomar um suco de melancia. Depois fomos de uber para o meu apartamento. Abri a porta e ela já foi correndo na minha frente.
-Vai tomar banho porquinha. - Gritei e ela murmurou ta bom.
Preparei carne assada, arroz, feijão, salada e para acompanhar, um suco de maracujá natural. Sentamos na mesa juntas. Era uma das regras daqui de casa, sempre comermos na mesa juntinhas. Quebrei o silêncio falando com a Laura.
- Hoje vamos lá na nossa antiga casa, tenho uma surpresa para ti. - Murmurei e ela me olhou curiosa.
- O que é? - Ela deu pulinhos.
- Não posso falar, se eu te contasse não seria surpresa, né mocinha?!
***
Chegamos na Rocinha e fomos direto para a casa do Gabriel. Assim que cheguei com a Laura, bati na porta. A pequena ainda estava estranhando a nossa ida até ali. Mal sabia ela que lembraria desse dia pelo resto de sua vida. Passei a mão sobre o rosto, estava nervosa. Tinha medo de Laura não se dar bem com o Gabriel, ou que ele não fosse um bom pai para ela.
Alguns minutos depois, Gabriel atendeu, sem camisa, com os cabelos desgranhados e uma cara de sono. Dei um sorriso fraco. Laura olhava para ele com curiosidade.
- Quem é esse, mamãe? - Sussurrou no meu ouvido.
Gabriel.
Acordei de um cochilo rápido no sofá com a porta batendo. Pus uma bermuda que estava dobrada perto do sofá e fui atender.
Quando abri a porta, Jade me fitava sorrindo. Olhei para a criança do lado dela e a minha única reação foi arregalar os olhos. A pequena me olhou e abraçou a Jade ainda tímida.
Dei espaço para elas entrarem. Jade se sentou no sofá e a pegou no colo. Ela tinha um cuidado único com ela e eu admirei isso para caralho.
- Filha... - Chamou a pequena que a olhou confusa. - Sabe esse moço?
- Sim, mamãe.
- Ele é o seu papai, meu amor. - Laura arregalou os olhos.
- Meu papai? - Sua voz doce e meiga soou pela sala.
- Sim, meu amor. - Jade disse com toda a paciência do mundo.
- Eu pensei que ele estivesse viajando... - Murmurou baixo e se encolheu no sofá.
- Ele voltou só para te conhecer, só para te ver. - Laura olhou para mim e eu não pensei duas vezes antes de sorrir para ela.
Ela estava linda, grande. Sua beleza era muito delicada, dava vontade de ficar a admirando durante horas e horas. Ainda se parecia muito comigo mas tinha toda a meiguice da Jade. Parecia uma princesa em seu vestido cor de rosa.
Eu estava feliz para caralho, meus olhos brilhavam, porra. Eu sentia amor por aquele pedacinho de gente, sentia a necessidade de protege-la de tudo e de todos. Não queria deixar ela passar por nada de ruim.
- Oi. - Eu disse baixo a analisando.
- Oi... - Ela sorriu lindamente.
- Vem aqui! me dá um abraço filha. - Eu disse e ela olhou para a Jade pedindo permissão, Jade assentiu e ela caminhou até mim em passos curtos.
Abracei aquela coisinha pequena e a levantei do chão. Que sensação gostosa! Era surreal como ela me passava tanta paz e tranquilidade. Sorri ao ouvi-la gargalhando em meus braços.
- Você é linda... - Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as engoli, antes que colocasse tudo que estava sentindo para fora.
- Obrigada. - Disse tímida e me abraçou novamente.
- Eu estava com saudades de você, princesa. - Ela brincou com o meu bigode.
- Seu bigode é muito engraçado... - Gargalhamos e eu beijei sua bochecha.
- Você acha? Estou pensando em tirar.
- Não tira, eu gostei. - A pequena murmurou.
- Você quem manda, baixinha.
- Eu gostei de você papai... e você? Gostou de mim? - Perguntou curiosa.
- Claro que eu gostei de ti. Eu nunca deixei de gostar, meu anjo. - Ela assentiu. - O pai nunca mais vai embora, tá bom? Eu prometo.
- Tá bom... - Murmurou e eu olhei para Jade. A chamei com o dedo e ela veio até nós, abracei as duas.
- Eu amo você demais. - Jade disse.
Aquela era a hora de dizer. Chega de ficar vulnerável a sentimentos ativos em mim, foda-se. Aquela era a minha família. Minha mulher e a minha filha.
- Nós também te amamos. - Eu disse e ela olhou para mim surpresa. Eu apenas ri e ela me deu um selinho rápido.
- Vocês vão casar? - Laura perguntou meio distraída e Jade a repreendeu com o olhar.
- Quem sabe... - Eu disse e Jade balançou a cabeça rindo.
- Não, meu amor, não vamos nos casar.
- Por enquanto. - Respondi e Jade revirou os olhos.
- Só tu mesmo, minha gatinha. - Já disse enquanto fazia cócegas na Laura. A nossa filha se contorcia gargalhando.
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Traficante.
Novela JuvenilEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...