Jade.
Acordei de madrugada sentindo um peso sobre mim, olhei para o lado e vi Gabriel dormindo tranquilamente com as suas mãos pousadas na minha cintura, dei um sorriso bobo.
Lembrei da Laura e um desespero tomou conta de mim. Levantei correndo e fui para o quarto em que ela estava dormindo, olhei para a cama e a mesma dormia que nem um anjinho com sua chupeta na boca.
- Que susto que a mamãe levou, filha. - Murmuro e beijo sua testa.
Deitei com ela, até porque se ela acordar e eu não estiver aqui é capaz dela até cair da cama. Eu tinha muita preocupação quanto a isso pois ela ainda era muito pequenina.
Vi uma sombra se aproximar da porta, era Gabriel, com a maior cara de sono.
- O que houve? - Sua voz grossa soou pelo quarto.
- Fiquei com medo dela acordar e não ter ninguém aqui. - Eu disse e ele assentiu.
- Vou dormir então. - Ele disse e eu o encarei.
- Fica aqui. - Minha voz falhou e sua expressão foi surpresa.
- Hum... tá, vou pegar o meu travesseiro. - Saiu e foi para o seu quarto.
Eu queria saber o que estava acontecendo comigo? Tudo que eu pensava ficava na ponta da língua e as palavras saíam instantaneamente.
Continuei sentada e quando ele chegou me acomodei na cama. Ele tirou Laura de sua posição e a pôs deitada contra o peitoral dele, beijou a cabeça dela e adormeceu aos poucos. Sorri com a cena...meus olhos pesaram e acabei pegando no sono também.
O dia seguinte acordei e continuei com os olhos fechados, deslizei minha mão pela espaço ao meu lado da cama e Gabriel não estava. Um ponto de interrogação surgiu na minha testa.
Levantei e fui até o banheiro, fiz minhas higienes, tomei meu banho e escovei os dentes com a escova do Gabriel mesmo. Fui para a sala e vi Laura sentada no chão em frente a tv, ela gargalhada vendo bob esponja.
Uma mulher loira, já de idade apareceu sorrindo docemente para mim, retribui o sorriso.
- Boa tarde, Jade né? - Perguntou e eu assenti sorrindo. - Sou a Catarina, a empregada do Sr.Gabriel.
- Ah sim. - Peguei minha filha no colo. - A senhora sabe onde ele está? - Perguntei.
- Ele saiu logo cedo e pediu para eu cuidar da neném, uma graça por sinal, não dá trabalho algum. - Elogiou.
- Ela é um amor, né filha? - Levantei ela no alto e a mesma gargalhou.
Maria Luíza.
Eu não podia mais fugir dessa responsabilidade. Caio precisava de mim mais do que nunca e eu não estava lá para ajudá-lo, me sinto um monstro por isso. Mas, eu simplesmente não consigo o ver naquela situação, logo ele, que sempre foi responsável e cuidadoso. Isso só me fez ter mais raiva da vida no crime, ao mesmo tempo que ela dá luxo, moradia, dinheiro, ela tira a vida, o que é o primordial.
Só de ver ele respirando através de tubos me deixa nervosa. Perder o amor da minha vida assim seria tão injusto e cruel. Estou tentando ter fé que ele vai voltar para mim, vai voltar para me perturbar e me beijar da forma que só ele sabe.
Como a Jade disse ele é forte e pode aguentar uma coisa tão difícil assim. Eu espero que ele volte para mim..pois não aguento mais viver sem a sua presença, sem as suas piadinhas fora de hora e do jeito carinhoso que me tratava.
***
Pus uma calça jeans, uma blusa de manga branca com bolinhas pretas, nos pés calcei um tênis simpmes preto, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e estava pronta.
Suspirei criando coragem de sair de casa. Enfim saí e peguei um moto-táxi até a portaria da Rocinha. De lá peguei um ônibus e fui para o hospital. Demorei muito para chegar e isso aumentou mais ainda a minha tensão. Quando cheguei, entrei na recepção e logo a recepcionista deu check e disse que eu poderia subir.
Abri aquela maçaneta devagar e quando me deparei com aquela cena, não medi um terço das minhas lágrimas. Me aproximei dele lentamente e toquei no seu rosto,que estava tão pálido, aquele não era o meu Caio sorridente e cheio de saúde. Eu só queria ele de volta para mim, ele estava tão feliz, tão realizado..a vida às vezes me assusta..
-Porra, Caio, está sendo foda demais sem você. Tem noção do que é chorar todas as noites por ti? Estou com tanta saudade... do seu carinho, do seu beijo e até das suas palhaçadas sem medidas, que me irritam ao extremo. Você não merece ficar assim. Todos nós precisamos de você, o morro precisa de você. Volta, para que todos sejam preenchidos com esse coração bom que você tem, que não limita pessoas, que não pensa duas vezes antes de ajudar o próximo. Eu quero ter uma família contigo, quero casar, morar, tudo o que você quiser, sem se importar com a minha família, ou me importar com aquilo que as outras pessoas pensam. Por você eu acabo com o meu orgulho. Eu sei que você nunca ouviu essas palavras saindo minha boca mas tu foi o único homem que eu amei de verdade! Volta para mim. - Beijo seus lábios e uma lágrima solitária caí na minha bochecha.
Se alguém falar "ah sua boba, tu acha mesmo que ele vai acordar com sua voz e sair andando como se não tivesse em coma algum?", eu responderia "sim, eu acho, pois acredito em um Deus extraordinário, que cura as pessoas e é capaz de mudar qualquer coisa tecnicamente impossível". Deus iria curar ele, eu tinha a certeza mais absoluta por mais que Caio estivesse nessa vida horrível do crime, que não é justa, Deus o ama, idependente de errar ou não. E isso me fazia crer e ficar de pé toda vez que viesse uma forte tempestade.
Gabriel.
Cheguei na casa da minha tia para tomar café da manhã. Ela como sempre estava na cozinha preparando o café gostoso que só ela sabe fazer. Beijei o seu rosto e a mesma sorriu e beijou minha testa demonstrando todo o seu afeto de mãe.
- Está tão carinhoso hoje... oque aconteceu? - Expremeu os olhos e me olhou desconfiada.
- Nada, ué... não posso ficar de bom humor não? - Mudei de assunto rapidamente.
- Ram. - Me olhou de rabo de olho. - Tem mulher nisso aí, meu menino está apaixonadinho? É isso mesmo? - Perguntou e eu ri.
- Só tu mesmo tia. - Ri e peguei um pão de queijo.
- Cadê a Lara? Não vejo ela faz tempo. - Digo com a boca cheia.
- Fecha essa boca, garoto. Ah, a Lara está na casa da tia dela, tu sabe que a família do pai dela cismou de ficar a pegando para sair. - Revirou os olhos e eu bufei.
- Tu fica de olho hein! Não quero irmã minha na mão de gente escrota assim!
- Eu sei o que estou fazendo, Gabriel. - Segurou na minha mão.
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Traficante.
Teen FictionEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...