Capítulo 20

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Jade.

Eu estava muito emocionada. Ver Gabriel e Laura naquela situação mexeu comigo de uma certa forma. Eu sempre quis um pai presente na vida da minha filha. Um pai para mimar, dar carinho e amor, para comprar presentes e ser presente. Laura precisa dele, sempre precisou mas se ele continuar assim não vai dar, ele precisa de responsabilidades, precisa ser homem pelo menos uma vez na vida.

Ele não pode ser frio a vida toda, me preocupo com ele também, um ser humano não consegue ficar assim por tanto tempo, não faz bem.

Estou cansada, confesso, foi muito difícil ser mãe cedo e perder a minha adolescência. Ao mesmo tempo fico feliz de não ter desistido da minha menininha. Hoje em dia é muito gratificante ver ela linda e cheia de saúde com seus dez meses.

Pela primeira vez na vida acho que meus pais se orgulhariam de mim, por quem eu me tornei, pela minha decisão correta envolvendo uma vida. E eu não me arrependo, muito pelo contrário, me sinto bem comigo mesma apesar dos desafios de cria-la.

- Chega né? - Olhei para Gabriel que brincava com a minha filha.

- Já estou indo mas antes eu quero falar com você. - Disse e eu assenti... Fazer o que? Se eu não aceitasse ele me ameaçaria, não duvido disso.

Peguei Laura de seu colo, a mesma já estava bastante sonolenta. Subi com ela e deitei a mesma na minha cama, pus alguns travesseiros a sua volta. Bati de leve em suas costas a movimentando. Coloquei a chupeta em sua boca e sorri ao ve-la adormencendo lentamente.

- Eu te amo, amor da mamãe... - Beijei sua testa, desliguei a luz e logo depois liguei o abajur.

Fechei a porta e tomei um baita susto com Gabriel na minha frente. Ele me encarava sério e estava estático escorado na porta.

- Quer me matar? - Ponho a mão sobre o peito.

- Foi mal. - Disse baixo, ele me olhava fixamente, seus olhos brilhavam.

- O que foi? - Pergunto.

- Você a ama muito, né?

- Se está se refirindo a Laura, claro que eu amo, ela é minha filha, saiu de mim, minha única família. - Suspirei e ele me olhou sério.

- O que eu tenho para te falar,é difícil para mim, morô? Nunca fui de papo contigo... Na verdade, nunca te dei moral e sei que fui um verdadeiro babaca por isso. Mas cara, é difícil para mim saber que tenho uma pessoa dependente da minha atenção. - Ele passou a mão sobre meu cabelo. - Quando eu soube que você estava grávida eu nem liguei, logo pensei que tu queria o meu dinheiro e vazar mas com o tempo eu vi que tu era apenas uma menina indefesa que não sabia cuidar nem de si mesma. Pela primeira vez na vida eu te peço desculpas, por ser um ogro 99% do tempo contigo, farei de tudo para recompensar tudo que eu perdi. Chegar aqui e te confessar é difícil pois não abro meus sentimentos com ninguém. - Suspira. - E eu também queria dizer que não vai ser fácil dar a atenção que a Laura merece, não sei o que é ter uma visão paterna, eu nunca tive. Vou me esforçar, vou te ajudar no "faz me rir" também, espero que um dia tu me perdoe. - Meus olhos se enchem d'água e minha única reação foi o abraçar.

Ele nem retribuiu, mas eu não me importava, seu cheiro me confortava assim como a aceleração do seu coração, ele segurou em meus ombros em sinal para eu o largar, mas não aceitei, eu não queria, suas palavras me emocionaram verdadeiramente.

Aos poucos ele pôs as suas mãos quentes na minha cintura, retribuindo o abraço. Não imaginava eu e ele naquela situação, intrigante até, mas fazer o que? Eu ia ficar a vida toda com essa mágoa?

Querendo ou não, Gabriel sofreu e muito... Claro que não justifica, mas todos nós temos problemas, alguns com mais intensidade e outros com menos. Sei bem o que é não ter uma visão paterna, perdi meu pai muito cedo... mas apesar disso, ele foi incrível no pouco de tempo que teve comigo.

- Que saudade de tu. - Beijou meu pescoço, fazendo todos os meus pelos se arrepiarem.

- Não confunda as coisas, não é só porque fizemos as pazes que vamos acabar na cama. - Digo me afastando do mesmo.

Não poderia deixar ele confundir a situação.

- Tu me nega e não é de hoje, qual é Jade? Vai dizer que tu não quer? - Ironizou.

- Tu não entende... - Digo baixo.

- Esquece o que aconteceu, só hoje... - Ele segurou na minha nuca e selou nossos lábios. Primeiro os umideceu com sua língua, logo depois pondo a mesma dentro da minha boca, cedi espaço, ele apertou minha bunda me fazendo arfar, envolvi meus braços em seu pescoço, o trazendo mais para mim.

- Porra. - Disse entre o beijo. - O que tu faz comigo? - Sussurrou.

- Hum. - Me separei do mesmo.

Quem era eu naquele momento? Eu estava prestes a ir para cama com Gabriel, que tipo de pessoa eu sou? Eu reclamo dessas mulheres que ele fica, mas no final de tudo, eu era apenas mais uma. Todas sabemos que Gabriel não quer nada sério, só quer fazer sexo e ir embora sem compromisso, não fui para Portugal e mudei de vida atoa.

- Acho melhor você voltar outro dia. - Suspiro e ele revira os olhos.

- Tu sempre faz isso. - Ele disse mais alto e eu bati em seu braço em sinal de reprovação.

- Minha filha está dormindo, abaixo esse tom. - Esbravejo.

- A filha não é só sua, é minha também! - Bufou. - Quer saber? Eu cansei disso tudo. Eu tento mas você é chata para caralho. - Pôs seu boné aba reta para trás e desceu as escadas. - Depois não adianta voltar atrás.

- Algum dia eu já fiz isso? - Ri irônica. - Na prima oportunidade de ir embora, eu fui, Gabriel. Não me confunda, aliás, isso é impossível, você sabe bem quem eu sou. - Pisquei.

Espremi os olhos ao ver Gabriel descer as escadas da minha casa com fúria.

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