Jade.
Estava sendo tão difícil cuidar da Laura... Por mas que eu tenha convivido com o Gabriel por pouco tempo, acabei me apegando a ele, querendo ou não, ele me trazia toda a confiança do mundo.
Todos os meus medos voltavam sem ele, me sentia desprotegida e totalmente vulnerável. Malu me disse inúmeras vezes para ir visita-lo porém eu não consigo, eu não iria conseguir encara-lo, me despedir e deixar ele lá naquela situação ruim e precária, diferente da que ele vivia aqui no morro.
- Ah amiga, vamos animar pô, sei que tu está mal pelo Gabriel mas a Laura precisa disso. - Malu disse pela décima vez tentando me convencer de fazer o aniversário de um ano da minha filha.
- Eu já disse que você é muito chata? - Dei a língua e ela deu de ombros. - Tá bom.
- Já vou na rua começar a comprar as coisa, beijocas. - Mandou beijos no ar e saiu da minha casa.
Nesse um mês que o Gabriel foi preso, eu tive o privilégio de conhecer a sua tia Sandra. Que doce de pessoa! Eu via amor e carinho apenas pela forma que ela falava dele, me lembrou muito a minha mãe.
***
Eu tinha uma novidade e tanta, Sara ( minha antiga chefe ) me ligou semana retrasada dizendo que iria abrir uma agência aqui no Brasil e que me queria mais uma vez como modelo. Fiquei de dar uma resposta mas eu não tenho dúvidas, eu aceitaria sem pensar duas vezes.
- Que saudade de tu Jadoca. - Caio me gira no ar e eu sorrio o apertando contra mim mesma.
- Tão bom te ver assim, bem... - Murmurei e ele sorriu abertamente.
- Não aguentava mais ficar naquele hospital. - Eu assenti.
- Imagino... - Me afastei dele o analisando. Não havia mudado quase nada, tirando o fato que a magreza reinou e seus músculos sumiram.
- Fiquei sabendo do Gabriel, vai ser foda comandar esse morro sem ele. - Abaixei a cabeça.
- Só de pensar que a culpa disso tudo é minha... - Ele me interrompe e levanta o meu queixo.
- Sua culpa nada... Isso aconteceu porque tinha que acontecer, morena. - Beijou minha testa. - Cadê a minha afilhada? - Perguntou curioso.
- Ela está la em cima com a Joana. - Eu disse e subi para pega-la.
Quando cheguei no quarto, Joana a olhava assustada. A mesma estava em pé se equilibrando, meus olhos se encheram de água. Meu neném estava aprendendo a andar!
- Vem até a mamãe. - Abri os braços e ela sorriu sapeca. Vacilou um pouco e deu dois passinhos se jogando em cima de mim. Derramei algumas lágrimas, orgulhosa da minha filha, parece bobo mas só quem é mãe sabe o tamanho da felicidade.
- Consegui tirar uma foto, depois te mando. - Joana riu e eu assenti descendo com a Laura no meu colo.
- Não é possível que ela já está desse tamanho... - Caio disse a olhando admirado.
- Eu cresci, dindo. - Falei com voz de bebê.
Ele pegou a afilhada como se ela fosse um pequeno vaso de vidro.
três anos depois.
Os anos se passaram muito rápido, era realmente muito assustador. Minha filha estava enorme com seus quatro aninhos, ela era muito esperta e linda.
Eu completei vinte anos, estou diferente, resolvi mudar um pouco. Meus cabelos crescerem novamete e eu continuei com castanho claro, criei bastante corpo, frequentei a academia durante um tempo mas depois desisti, essa vida não é para mim.
Mudou muita coisa na minha vida. Eu não morava mais na Rocinha, me mudei para uma cobertura em São Conrado. O trabalho como modelo fotográfica está dando super certo, viajo a todo minuto, tanto para lugares diferentes no Brasil, como para fora do país.
Malu está grávida de dois meses, Caio está todo bobão e ela mais ainda. Os dois nem sabem o sexo mas já compraram um enxoval da cor azul, diz Malu que sente que é um menino, seu pequeno Enzo. Eu digo para eles irem com calma, porque se não a criança vai nascer prematura de tanta a ansiedade, risos.
Eu criei coragem e visitei o Gabriel apenas uma vez. Porém ele disse que lá não era lugar para mim... Fiquei bastante chateada pois eu faria qualquer esforço apenas para vê-lo. Sinto muita repulsa, não tem um dia sequer que a Laura não pergunte dele, tenho que ter o maior jogo de cintura para explicar.
A cada dia que passa ela fica mais parecida. Não só na aparência, mas no jeitinho... Querendo ou não minha filha tem cara de princesa mas é marrenta que só, se eu não cortar, tem a resposta na pontinha da língua assim como o Gabriel.
- Mamãe, eu posso ir brincar na casa da Anna Beatriz? - Pergunta fazendo beicinho.
- Fez o seu dever de casa? - Perguntei e ela assentiu sorrindo. - Então vai, mocinha. - Apertei seu nariz e ela saiu saltitando.
Aproveitei que ela estava fora para entrar nas minhas redes sociais. Abri o meu Facebook e tive uma surpresa e tanta:
Notícias da Rocinha🔥
Será que o chefe da Rocinha está de volta? Boatos de que GT fugiu da cadeia e está de volta na área. Nós nos despedimos com essa notícia!💣
- Anônima's.
No começo da mensagem eu até me assustei, mas quando eu vi o nome do destinatário não liguei muito porque eu sei que quem escreve essas coisas são moradores caloteiros. O que mais esse povo põe é mentira para ganhar ibope. O Gabriel fugir da cadeia seria tecnicamente impossível pois pelo que o Caio diz dles já tentaram inúmeras vezes e sempre acontece algo ao contrário.
Gabriel.
- Porra P2, pega logo essa chave caralho. - Sussurrei para ele que tentava tirar a chave sem o guarda acordar.
- O gordo ta acordando... - Ele disse e mobilizou o cara que nem teve tempo para gritar ou pedir socorro.
- Caladinho... - Ele arregalou os olhos e desmaiou de ansiedade.
- Caralho! Precisei nem apagar ele. - P2 teve crise de risos e eu me contive.
Peguei a chave do bolso do guarda e abri a porta, que dava extensão a última sala do presídio. Entramos em um corredor, engatinhei tentando passar despercebido por um verme que falava animadamente no telefone.
- Pode vir. - Capivara acenou com a cabeça nos chamando para a área de segurança.
Ele abriu uma saída no chão, que nem eu sabia que tinha. Pulamos em uma distacia pequena do chão. Lá cheirava mal e dava para ouvir os barulhos que os ratos faziam a cada passo que nós dávamos.
- Conseguimos caralho! - P2 comemora com os outros soldados e os alarmes começam a apitar.
- Comemora não filha da puta, vamos logo. - Eu disse e comecei a correr até uma escada que tinha no final do túnel.
Jade atualmente:
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Traficante.
Teen FictionEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...