Caio.
Estava tudo muito confuso na Rocinha. Demoramos muito para entender que a invasão era uma emboscada para levar o Gabriel para o Alemão.
Estávamos bolando para invadir o morro mas não será possível pois o RR é esperto e já deve ter imaginado que seria a nossa primeira alternativa.
E como diz o Gabriel, o plano B ás vezes pode dar mais certo que o A.
- É o seguinte, eu vou escolher aproximadamente 50 soldados para ir comigo até o Alemão buscar o chefe. Espero que não tenha nenhum mimimi.
Gabriel.
Acordei com uma puta dor de cabeça. Abri os olhos lentamente e olhei ao meu redor. Eu estava em uma sala fechada e bastante escura, sem ventilação alguma.
- Olha só quem acordou Juninho! - Uma voz surgiu e eu olhei para trás tendo a visão de RR.
- Seu filho da puta, o que tu fez? - Perguntei levantando.
Me aproximei dele ficando cara a cara. Dei uma sequência de dois socos em seu rosto. Ele alisou sua mão no local do impacto e sorriu.
- Amarra ele. - Disse para Juninho que assentiu.
Dois soldados me seguraram e eu me debati. Me botaram em uma cadeira, amarrando os meus braços atrás da mesma. RR me analisou e pôs a mão em seu queixo.
- Não sei nem o que fazer com você. - Disse olhando no fundo dos meus olhos.
- Seja homem caralho, resolve comigo no punho. - Travei o maxilar.
- Eu quero te torturar aos poucos, isso sim! - Sorriu largamente. - Podem acabar com ele. - Abriu a porta deixando aproximadamente 10 soldados entrarem naquela pequena sala.
Dois vieram até mim e rasgaram a minha roupa, me deixando apenas de cueca. Juninho caminhou até mim e deu chutes no meu estômago me deixando sem ar, acabei cuspindo sangue
Eles distribuiam socos, chutes e eu não podia fazer absolutamente nada. Eu me sentia um viadinho por não reagir mas não tinha nada a se fazer.
***
Eu estava todo fudido, mal conseguia enxergar pelo inchaço dos meus olhos. Meu punho já estava ficando roxo por conta de eu tentar desamarrar as cordas.
A porta foi aberta e quem entrou junto com RR dessa vez foi... Camila?
Ele segurava ela pelos cabelos e a mesma estava com uma expressão indescritível.
- Larga ela! Seu filho da puta, deixa a mina em paz. - Me exaltei.
- Acho que alguém aqui está bastante confuso não é mesmo, patricinha? - Ele pergunta para Camila ironicamente.
- RR... - Ela suspira e franze os cenhos. - Não era esse o plano,eu confiei em você! Eu confiei! - Ela gritava desesperada.
- Olha só o que dá confiar em um bandido. - Riu. - Fala para ele! Fala logo, ô sua puta! - Ele a chaqualhava e ela chorava descontroladamente.
- Me perdoa Gabriel! Me perdoa, eu imploro... - Soluçou.
- O que tu fez porra? - Esbravejei.
- Foi tudo por amor a ti, fiz isso porquê te amo... - Ela disse desesperada.
- Como tu foi burro! - RR gritou. - Tinha uma X9 em baixo do seu próprio nariz.
Eu não tinha reação alguma, não acreditava naquilo. Eu nunca fiz nada de ruim para Camila, muito pelo contrário, sempre a defendi de tudo e de todos como se fosse a minha própria irmã, eu não entendo, eu só queria saber o tal motivo.
Que eu saiba ela é bem de vida, nunca lhe faltou nada, sempre sobrou. Não vejo necessidade alguma dela fazer isso por dinheiro, não faz sentido.
- A troco de quê, Camila? - Sussurrei e ela abaixou a cabeça.
- A troco do que tu nunca me deu! Amor! - Retrucou.
- Como tu pode dizer isso? Nós crescemos juntos... Eu nunca demonstrei mas tu é importante para mim caralho! - Gritei irritado.
- Eu não sou importante para você do jeito que eu queria Gabriel, Eu não sou. - Pausou. - Você sempre ficou com outras piranhas na minha frente, sem nem ligar para os meus sentimentos, sempre fugia de mim, sempre!
- Como eu nunca liguei para os seus sentimentos se eu nem sabia que eles existiam? Tu é uma traíra filha da puta, isso sim.
- Cansei dessa viadisse de vocês dois. - RR disse e arrastou Camila pelos cabelos até fora do quarto. Ela gritava pedindo para que ele parasse.
Alguns minutos depois Juninho chegou com uma pistola em mãos. O encarei e o mesmo estava com a expressão completamente séria.
- Finalmente esse dia chegou. - Murmurou. - E eu tenho certeza absoluta que ele vai ficar para história do Alemão... Vou amar ver a sua cabeça pendurada no meio da praça de enfeite.
- Só assim mesmo né? Comigo amarrado, vocês não se garantem, bando de arrombado, pau no cu! - Eu disse.
- Olha como tu fala comigo!
Esfreguei os meus punhos doloridos mais uma vez. Aproveitei o ferro que estava por trás de mim e cerrei a corda tentando desfaze-lá. Juninho olhava para mim a todo instante desconfiado.
Fiquei aproximadamente dez minutos tentando cortar a primeira corda, para a minha sorte, ela não era tão resistente como eu pensava. Senti o alívio assim que ela se desfez no chão. Desamarrei com uma mão a outra parte da corda e consegui me soltar.
Continuei com as minhas mãos para trás,para não chamar atenção. A porta foi aberta e RR adentrou a sala. Ele caminhou até mim, ficando perto do meu rosto.
- Hoje você terá muitas surpresas inesperadas! - Ele disse e eu cuspi em seu rosto, ele sorri e limpa balançando a cabeça.
- Tu só vai ter moral para falar comigo desse jeito quando resolver as coisas no mesmo nível, babaca. - Eu disse e parti para cima dele.
- Ele ta solto Juninho! - Gritou e logo senti minha perna arder.
Ele tinha disparado em mim.
Caí no chão e pus a minha mão no local do disparo para estancar o sangue que não parava de escorrer. Minha perna ardia para caralho, eu mal podia sentir.- Levem ele para o barraco. - RR gritou para os soldados.
- Ué chefe? Essa não era a última coisa a se fazer?
- Juninho, cala a porra dessa boca e só me obedece! - Ele disse irritado e Juninho engoliu seco assentindo.
Um segurou meus braços e o outro minhas pernas. Caminharam rápido até um Siena preto me jogando lá dentro. Eu até pensei em imobilizar quem estava dirigindo mas a parte de trás era completamente fechada e não dava para ver os dois bancos da frente.
Cinco minutos depois eu senti o carro parar e logo a porta foi aberta. Me fizeram levantar a força, eu estava com muitas dificuldades para por os pés no chão pois a minha perna ardia e escorria muito sangue.
Enfim quando eu consegui ficar em pé fui mancando até o tal barraco. A porta foi aberta e todos já estavam lá Ricardo, Camila e Juninho.
Camila estava com a cabeça abaixa. Por um instante me deu pena de vê-lá assim, mas logo passou ao lembrar de toda a sacanagem que ela fez comigo.
- Está faltando somente uma pessoa para o circo ficar completo, não acha Gabriel? - Ele pergunta e eu levanto uma sobrancelha. - Manda ela entrar Tavinho!
Quando a sombra se formou e adentrou aquele lugar, eu não pude acreditar.
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Traficante.
Novela JuvenilEle vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam. Ele buscava sempre de forma fria ser calculista, e ela lindamente sonhava. Não eram bons uns com os outros, e não sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos sem...