Henrique teve que ir muito antes para Recife resolver todos os assuntos do DVD junto com o irmão. Eu fiquei em casa, com muito tempo para pensar e pouco emocional para lidar com tudo sozinha. Tchula passou a maior parte do tempo comigo, sendo o melhor amigo que eu precisava. Consegui me segurar apenas por causa dele, todos os dias pensava em ligar e contar tudo para o Henrique imediatamente, mas sabia que não era o certo. Precisava olhar em seus olhos e sentir o que isso ia significar na vida dele. Precisava que ele estivesse bem e sem outras preocupações, essa já seria suficiente. Tchula concordou finalmente que, depois da gravação, seria o melhor momento para contar. Ele iria no médico comigo e eu poderia, então, compartilhar a notícia com o Henrique depois de saber que estava tudo bem.
O dia do show demorou a chegar. Já acordei uma pilha de nervos. No avião tive mais enjoos, o que me deixou mais nervosa ainda. E se eu passasse mal no palco ? Não conseguia imaginar o que fazer. Comprei um remédio na farmácia e decidi passar o resto da tarde no quarto do hotel, repousando. Não vi nem sinal do Henrique nesse tempo. Havíamos nos falado na noite anterior e ele não dormia direito a dias, devia estar descansando um pouco depois de finalmente tudo estar pronto.
Já estava anoitecendo e eu continuava deitada na cama, a televisão ligada em um canal qualquer, insuficiente para me distrair. Ouvi uma batida discreta na porta. Talvez alguém da produção para me dizer que estava na hora de ir. Abri, tentando disfarçar a cara amassada.
— Boa noite, flor do meu jardim. Seu beija-flor não aguentou de saudade. — Henrique sorria, fazendo charme, encostado na parede do lado de fora.
Me joguei em seu pescoço, o abraçando como se não o visse a anos. Enterrei meu rosto em seu pescoço e ele me aninhou como costumava fazer, me escondendo em seus braços. Suspirei, aliviada por finalmente vê-lo.
— Meu amor, que saudades. Não quero nunca mais ficar longe de você tanto tempo assim. — eu falei, com os olhos marejados.
— Ô meu amor, eu sei que você ainda está sensível, mas eu estou aqui agora. — ele acariciava meus cabelos. — E hoje vamos estar juntinhos naquele palco, como a gente sonhou.
— Nem me lembra, estou tão nervosa.
— Vai dar tudo certo, você é incrível e o público já te ama. — ele beijou minha testa.
— Já está na hora de irmos ? — eu perguntei, olhando meu relógio.
— Já, queriam vir te chamar e eu falei que eu mesmo vinha. — ele piscou pra mim.
— Quer dizer que vamos chegar juntos lá ? — eu sorri, animada.
— Lógico ! Hoje você é estrela, tem maquiador, figurinista e tudo que tem direito.
— Não vai se apaixonar se eu ficar gatinha, hein ? — eu dei as costas pra ele, entrando de volta no quarto.
— E dá pra se apaixonar de novo ? Porque se der eu sei que vou, duas, três, quatro vezes, vou continuar me apaixonando por você todos os dias. — ele abraçou minha cintura por trás, beijando minha bochecha. — E você já é linda.
Eu me apertei em seu abraço.
— Eu te amo. E estou muito feliz por tudo que estamos vivendo juntos.
— Eu também, meu amor. Sou o cara mais feliz desse mundo.
Henrique aguardou enquanto eu terminei de arrumar minhas coisas, então seguimos para encontrar a equipe que nos esperava na recepção do hotel. O elevador parou em um andar abaixo do nosso e uma moça entrou de mãos dadas com uma criança. A garotinha não devia ter seus cinco anos completos ainda, mas quando viu Henrique pareceu reconhecê-lo na mesma hora. Seus olhinhos permaneceram vidrados nele, com um brilho intenso. A mãe, também atônita, sorriu emocionada.

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Impasse
FanfictionE quando tudo ao seu redor te impede de viver o amor. E quando você pensa que vai dar certo e dá errado. E quando você luta, desiste, luta de novo, desiste mais uma vez pois não sabe se esse amor é pra ser vivido ou não. E quando o amor é recíproco...