Capítulo 33

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Me despedir do Henrique naquele dia não foi nada fácil. Ele pareceu aceitar a minha decisão, mas voltou atrás com uma mensagem que conseguiu terminar de dilacerar meu coração. Me mantive firme, apesar da constante vontade de desistir de tudo. Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas sabia que era o que eu precisava naquele momento.

Tchula estava sempre ao meu lado, pra todo canto que eu ia, e foi quem me manteve de pé até eu conseguir andar sozinha. Em um dos primeiros shows, percebi um rapaz na primeira fila parecidíssimo com o Henrique, o mesmo sorriso travesso me perturbando. No intervalo, eu corri para os fundos e desatei a chorar, sem coragem de voltar. Tchula veio ao meu encontro, pedindo para as outras pessoas se afastarem. Ele segurou minhas mãos trêmulas e falou, enérgico:

— Mana, você precisa ser forte ! Eu estou aqui por você, não vou deixar nunca que nada de ruim te aconteça.

Eu soluçava, inconsolável.

— Eu não sei o que tô fazendo da minha vida sem ele. — balbuciei.

— Marília, você nunca precisou de ninguém pra seguir sua vida em frente e não vai ser agora que vai precisar, eu sei da força que você tem ! — ele franziu a testa, bravo.

Aquilo foi como um tapa na cara, do qual eu precisava muito. Eu nunca dependi de homem nenhum para ser feliz e não seria agora que isso ia acontecer. A decisão foi minha e eu teria que aprender a viver com ela. Respirei fundo, limpando as lágrimas do rosto.

— Você tá certo. Meu compromisso agora é com meus fãs. Eu preciso voltar a ser a Marília de sempre. — me levantei, decidida.

Tchula me abraçou.

— Deixa que a vida se encarrega de vocês dois, quando é pra ser não tem vento que sopre contra. — ele abriu um sorriso sincero.

Voltei para o palco renovada. Minha energia era outra e o público recebeu a mudança com muita animação. Mas na minha cabeça apenas aquelas palavras continuavam. "Quando é pra ser...". É lógico que é pra ser. Eu tinha certeza disso. Esperava que ele também tivesse.

As semanas seguintes foram intensas. Inúmeros shows e fãs que sabiam mais da minha vida do que eu conseguia me lembrar, tive que abrir mão da minha privacidade e de tudo que eu conhecia muito rapidamente. O começo foi complicado, mas a loucura da vida na estrada me pegou de jeito e eu não tinha mais tempo para pensar no que passou, o que acabou me ajudando a não sofrer tanto. Cantar nossas músicas era sempre a parte mais difícil, mas me fazia lembrar com carinho dos momentos lindos que vivemos juntos e aquilo me confortava, me fazia ter certeza que o nosso amor prevaleceria.

Colocar a cabeça no lugar e focar no trabalho me curou por completo das dores passadas. Pude entender finalmente o quanto Henrique estava envolvido, para se dispor a estar comigo vivendo aquela mesma vida.

Em uma noite solitária, em um quarto de hotel, me peguei pensando nele. Havia algum tempo que não nos víamos. Será que a barba tinha crescido ? E o perfume, continuava o mesmo ? Será que o sorriso ainda hipnotizava ? Nos conhecíamos tanto, mas aquela distância me fazia ver uma nova pessoa. E meu coração batia como se ali surgisse uma nova paixão. Talvez fosse tempo de tentar de novo. Decidi ligar, despretenciosa. Ouvir sua voz sempre me fazia bem.

— Oi, mana ! Que milagre você me ligando essa hora. — ele atendeu, animado.

— Tava aqui lembrando de quando a gente passava o dia inteiro ouvindo música, deitados no chão da sua casa, fazendo nada. Me deu uma saudade. — eu desabafei.

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