Capítulo 42

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Eu já não estava sozinha. Tinha alguém para cuidar de mim. Alguém que fazia de tudo pra me ver sorrir, que mudava seus planos para acompanhar os meus. Talvez fosse cedo para levar esse relacionamento tão a frente, mas eu precisava daquilo. Eu precisava finalmente ser mais amada do que amar, ser mais cuidada do que cuidar. Assumi um compromisso com ele e passamos a nos ver cada vez mais. E eu e o Henrique, cada vez menos. A agenda dos dois era cheia, eu já não podia mais acompanhá-los, tinha minha própria carreira para viver. Ele ainda não sabia que eu tinha outra pessoa em minha vida, eu estava me preparando para contar quando nos víssemos pessoalmente. Mas as coisas nunca saem como planejamos, aconteceu do pior jeito possível.

Quando Yugnir me dava um beijo de boa sorte antes do show, Henrique entrou pela porta do camarim. Sem avisar, ele e Juliano resolveram me fazer uma surpresa. Quando eu o vi ali parado, não conseguia mais sentir o ar passar por meus pulmões. E com certeza, pela sua expressão, ele se encontrava no mesmo estado. Sempre nos orgulhamos em dizer que a nossa amizade superava tudo, até a nossa relação conturbada, mas a verdade é que aquilo tudo era extremamente constrangedor.

Juliano, como sempre, tentou deixar o clima menos estranho, agindo como se nada tivesse acontecido. Mas, para minha surpresa, Henrique simplesmente surtou de ciúmes. Não me deixou nem apresentá-lo ao Yugnir, apenas me puxou de canto pedindo explicações. Bem típico dele, confortável com seu relacionamento, mas não com o meu. Aquela infantilidade estava me tirando do sério. Era fácil gostar de mim agora que outro alguém também gostava. Ele tinha feito a escolha dele, não precisava causar toda essa cena.

Quando saí de perto do Henrique, Yugnir não estava com uma cara muito amigável.

- Quem esse cara pensa que é pra falar com você assim ?

- Ah, é o Henrique, da dupla. Já te falei dele.

- Isso eu sei. Conheço o trabalho deles. Mas ainda não entendi porque ele ficou te questionando.

- Ah ele é ciumento, não liga não.

- E amigo lá tem que ter ciúme ? Nunca vi isso, o namorado sou eu. Ou vocês já namoraram e eu não tô sabendo ?

Ele pretendia ser irônico com essa ultima pergunta, mas a minha cara de espanto me denunciou imediatamente.

- Já namoraram ?! - ele franziu a testa preocupado.

- Ele só está sendo superprotetor, acha que ninguém é bom o suficiente pra mim. Quando vocês se conhecerem, ele vai mudar de ideia.

Yugnir não pareceu satisfeito com minha resposta, mas antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, fui chamada para entrar no palco.

Eu imaginei que Henrique não ia deixar as coisas só por aquela conversa breve que tivemos, mas quando ele e Juliano entraram no palco para me acompanhar em Impasse, eu soube que por ele a terceira guerra mundial começava ali. Logo agora que a existência dele quase não me matava mais por dentro. Eu tinha superado. Será mesmo ? Já repetia tantas vezes isso para mim mesma que acabei acreditando.

Aquela música, aqueles olhares. Henrique fazia tudo que podia para me provocar, ele sabia que meu namorado observava tudo atentamente lá de trás. E ao invés de me preocupar realmente com isso, eu só conseguia sentir saudade das tantas vezes em que cantamos juntos e dos momentos que vivemos. Ele estava ali, lindo e vulnerável, mordido por um ciúme que eu nem sabia que queria que ele sentisse. Nunca admitiria em voz alta, mas no fundo era bom. Pelo menos no palco eu podia dizer que era apenas encenação.

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