Capítulo 45

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Levantei naquela manhã com muita dor de cabeça. Por mim, ficava ali na cama o resto do dia olhando pro teto, mas tinha algumas coisas para resolver no escritório. Contra minha vontade, me dirigi ao banheiro e deixei a água do chuveiro cair sobre minha cabeça. Encostei na parede e imediatamente veio em minha mente a imagem da Marília beijando outro. Pior, passeando com ele por aí como um casal de namoradinhos apaixonados. Soquei a parede com raiva. Eu não me conformava com aquilo. Era demais para mim. Fui direto pro escritório e me afundei nos trabalhos que haviam lá na tentativa de me distrair. Mais tarde, Vanessa me ligou dizendo que estava com saudade e que queria me ver.

— Amor ! Que bom que voltou. Vamos sair hoje ? Matar a saudade um pouco.

— Vanessa, eu não tô muito afim de sair. Vamos ficar em casa mesmo. Ainda nem descansei direito da viagem.

— Poxa amor. Tudo bem então. Mais tarde estarei na sua casa, tá ? Te amo. Beijo.

Pra ser sincero, eu queria ficar sozinho. Não estava bem com os últimos acontecimentos. Mas de que adianta se lamentar agora ? Nós escolhemos isso. Aliás, a Marília escolheu e eu só aceitei. Poderia ter insistido mais. Poderia ter lutado por nosso amor. Mas não. Fui um idiota. E agora a perdi. Pra sempre. A única coisa que me restava era seguir em frente. Quando anoiteceu, Vanessa chegou em casa. Tentei ser o mais atencioso possível, afinal, ela nem tinha culpa de nada. Estávamos no quarto assistindo filme. E ela começou a me beijar. O clima acabou esquentando. Nunca fiz amor de forma mecânica. Mas estava com raiva, triste. Depois de tudo, me senti mal pela Vanessa. Se ela percebeu algo diferente, guardou para ela. Dormimos juntos naquela noite. Tive um pesadelo horrível. Sonhei com a Marília casando na igreja com aquele homem insuportável. E eu assistindo tudo sem poder sair do lugar ou falar alguma coisa. Me esforcei tanto para impedir aquilo. Mas foi tudo em vão. Ela se declarando para ele e a cada palavra que ela dizia como promessa de amor, era uma lágrima minha que descia sobre o rosto. Acordei no meio da noite suando frio.

— Amor, o que foi ? — Vanessa imediatamente acordou perguntando.

— Tive um pesadelo.

— Calma, já passou. — ela se aproximou e me deu um abraço. — Mas com o que você tava sonhando ?

— Nada de mais. Vou tomar um copo com água.

Levantei e fui até a cozinha. Assim que voltei pro quarto, Vanessa já estava dormindo novamente. Sentei na poltrona e a observei por um tempo. Lembrei das vezes que fazia isso quando a Marília estava dormindo. Quantas vezes velei seu sono a admirando, analisando cada detalhe do seu rosto ? Senti uma pontada no peito ao lembrar disso. Ela era minha, e agora estava pertencendo a outro.

Os dias passaram e eu e a Marília não nos vimos mais. A festa da work estava se aproximando e seria um evento bem particular. Iriam apenas os funcionários do escritório. E finalmente mais uma vez eu iria encontrar a Marília, melhor ainda, sozinha. Não estava afim de cruzar com pessoas indesejadas em meu caminho.

Havia um tempo que eu estava pensando em escrever uma música. Imediatamente lembrei da Marília. Ela podia me ajudar. Resolvi ir até a casa dela, mas não avisei nada. Sabia que ela estava de folga. Assim que cheguei em sua casa, ela pareceu surpresa em me ver. Entramos e fomos direto pra sala. Falei para ela o real motivo de ir até lá e decidimos subir até seu quarto para ela procurar algumas composições que tinha guardadas. Então ela resolveu tomar um banho e me entregou uma caixa com alguns papéis enquanto ia pro banheiro. Comecei a mexer nos papéis. Achei algumas composições bem interessantes. E no meio dos papéis, um me chamou atenção. Não era uma composição. Era um exame. Fiquei intrigado. Peguei o tal papel e comecei a ler. Pelo que eu entendi, aquilo se tratava de um exame de sangue para comprovar gravidez. Meu chão sumiu naquele momento. Eu não podia acreditar. A Marília suspeitou que estava grávida ! O exame havia dado negativo. Senti uma dor enorme no peito. Como ela pôde ? Grávida de uma pessoa que acabara de conhecer. Como ela foi deixar isso acontecer ?

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