Capítulo 56

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• Marília

Eu andava de um lado para o outro na sala de casa sem parar.

— Marília, você está me agoniando, filha. Daqui a pouco vai fazer um buraco no chão, de tanto vai e volta. — minha mãe passou pela quinta vez por ali e se sentiu na obrigação de dizer algo, vendo que eu continuava fazendo a mesma coisa há mais de uma hora.

— Eu preciso colocar meus pensamentos no lugar, mãe. Parece que vou esquecer tudo que eu tenho para falar.

— Mas menina, você acha que é ficando nervosa desse jeito que você vai pôr as ideias em ordem?

Quando ela terminou de falar, o barulho da campainha ecoou pela casa.

— Ele chegou. — eu falei baixo, para mim mesma.

— Você quer que eu abra? — minha mãe perguntou, já se dirigindo para a porta de entrada.

— Não, mãe. Pode deixar que eu mesma vou, não tem como adiar mais isso. — eu falei, surpreendentemente calma depois de todo aquele drama, me sentindo o ser mais maduro da face da Terra.

Depois da minha conversa com Tchula, eu estava determinada a dar um fim no meu relacionamento com o Yugnir, mas não seria tão simples assim. Ele teve uma perda na família que me fez adiar meus planos, afinal que tipo de pessoa eu seria se o dispensasse em um momento como aquele? Yugnir estava me acompanhando há algum tempo em praticamente todos os meus shows, era um verdadeiro companheiro, leal e dedicado, e não merecia menos de mim. Me sentia na obrigação de apoiá-lo e nesse tempo tentei fazer o nosso relacionamento funcionar, ainda que meus sentimentos permanecessem os mesmos. Mas isso só fez com que Henrique e eu nos afastássemos ainda mais. Ele havia me pedido para tomar uma decisão e, aparentemente era o que eu havia feito. Eu não podia explicar meus motivos e não esperava que ele me entendesse.

Me joguei de cabeça no trabalho, aproveitando que minha agenda estava cada dia mais lotada, e procurava me manter afastada das redes sociais e até dos nossos amigos em comum, mas era impossível não ouvir notícias sobre ele. Vi muitas coisas que me magoaram, fotos e vídeos do Henrique com diferentes garotas no camarim dos shows, coisas que eu sabia que eram inteiramente culpa minha, mas que no momento eu não podia fazer nada a respeito. Fui levando essa vida por meses, sofrendo calada e sem a coragem de colocar minha felicidade em primeiro lugar. Até o dia em que encontrei com Henrique em um show.

Nos encontrávamos a todo momento para dizer a verdade, sempre nos evitando a qualquer custo, só que dessa vez foi diferente. Yugnir teve que ir embora logo depois que meu show acabou para resolver algumas questões da sua produtora, e Tchula viu uma boa oportunidade ali. Insistiu para que eu fosse até o camarim dos nossos amigos curtir um pouco. Eu sentia muita falta de tudo, do pessoal, da bebedeira até tarde, das rodas de violão, e acabei caindo na tentação de ir dar aquela passadinha que a gente sabe que vai demorar bem mais que 10 minutos. Henrique e eu acabamos discutindo antes do que eu podia prever, ele estava extremamente magoado e sentia urgência em jogar toda a sua frustração em cima de mim. E eu queria aceitar tudo aquilo calada, sabia que merecia, mas ao mesmo tempo meu orgulho não me permitia baixar a guarda. Fiz a única coisa que desejava mais do que socar a cara dele, o beijei com tanta vontade que perdi até o fôlego. Mas não seria suficiente para resolver o abismo entre nós, ele tinha trauma dos meus beijos repentinos e inexplicáveis que sempre terminavam comigo indo embora de mãos dadas com o meu namorado.

Quando saí do camarim, Tchula me esperava do lado de fora com uma cara preocupada.

— Mana do céu, passou um furacão aí dentro? O Henrique saiu que nem um foguete daí, nem me respondeu quando eu falei com ele. E agora você sai assim, com a maquiagem toda borrada e esse cabelo parecendo um ninho de passarinho. Deus me livre vocês dois, não podem passar cinco minutos juntos que o mundo vira de cabeça pra baixo.

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