Capítulo 27

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• Marília

Depois dos dias que passamos na fazenda, eu e Henrique só tínhamos mais certeza de que queríamos estar juntos em segredo. Estava começando a fazer algumas apresentações pequenas e nos víamos menos que antes, mas com certeza isso só aumentava a paixão que havia entre nós. Nunca havia me entregado de corpo e alma para alguém como estava me entregando para ele, e sei que ele sentia o mesmo. Para a nossa maior surpresa, o desejo que tínhamos desde antes de ficar juntos se tornou realidade. Eu iria fazer uma participação especial no novo DVD deles com a nossa música, "Flor e o Beija-flor". Além disso, muitas músicas de minha autoria entrariam no repertório. Mais uma vez meu anjo da guarda interveio por mim, mais uma vez Henrique apostava suas fichas no meu talento para complementar o deles. Estávamos crescendo juntos.

Os preparativos para o show de gravação, que seria em Recife, passaram voando. Era muito trabalho para ser feito em pouco tempo. Todos no escritório se dedicaram de corpo e alma no projeto. Quando percebi, já estávamos a apenas algumas semanas do grande dia. Eu estava empolgada, mas muito nervosa. Era a primeira vez que cantaria para um público tão grande, em uma estrutura daquela dimensão. Minhas horas de sono se tornavam mais reduzidas a medida que o show se aproximava. Achava que o DVD de Brasília seria o auge do meu nervosismo, estava redondamente enganada.

Em um dia particular de ensaio, Henrique iria me buscar em casa como costumava fazer. Acordei animada, havíamos passado o final de semana longe e a saudade já batia forte. Quando desci para a cozinha, minha mãe preparava um café da manhã caprichado. Diversas frutas picadas, torradas com manteiga e um suco de laranja gelado me aguardavam sob a mesa de toalha florida. Me sentei na mesa com muito apetite.

- Bom dia, minha filha. - ela parou o que estava fazendo para me dar um beijo na testa.

- Bom dia, mãezinha. Que café delicioso, acordei com uma fome de leão.

- Que bom, vou preparar uns ovos mexidos aqui que sei que você gosta.

Adorava quando minha mãe resolvia me mimar assim. Comecei a comer, satisfeita. Não sei explicar bem o que aconteceu em seguida. Os ovos estalavam na frigideira e eu senti aquele cheiro que tanto adorava. Mas nesse momento um enjoo fora do normal tomou conta de mim. Tive que correr para o banheiro e colocar pra fora a comida que mal tinha engolido. Minha mãe bateu na porta, preocupada.

- Minha filha, tá tudo bem ?

- Tá sim, mãe. Só fiquei um pouco enjoada.

- Mas você estava tão bem, com tanta fome. Foi do nada isso ?

- Não sei, mãe. Deve ser alguma coisa que comi ontem, aí caiu mal agora que fui comer de novo. - não sei bem qual era o fundamento médico disso, mas fazia sentido na minha cabeça.

- Você não quer ir ao médico ? - ela disse, preocupada.

Abri a porta, sorrindo para ela.

- Fica tranquila, já passou. Tô ótima. Deixa eu correr que daqui a pouco o Henrique tá aqui.

Ela assentiu, um pouco contrariada. Acabei comendo apenas as frutas, com medo do enjoo voltar. Corri para escovar os dentes e terminar de me arrumar.

Henrique chegou logo. Entrou para dar um oi rápido para minha mãe e me puxou com pressa para o carro, dizendo que estávamos atrasados. Quando nos sentamos, prontos para ir, ele avançou em minha direção, me beijando com uma vontade fora do comum.

- Ué, pensei que você estava com pressa. - eu falei, rindo, quando ele finalmente me soltou.

- E estava mesmo. Uma pressa danada de matar a saudade do seu beijo. - ele começou a me dar vários selinhos rápidos enquanto falava.

- Esse é o efeito que eu causo nos homens. - eu disse, revirando os olhos e fazendo uma careta.

- Nos homens ? Que eu saiba só tem UM homem que tem direitos sobre sua boca. Aliás, sobre você todinha. - ele mordeu minha boca, puxando-a suavemente.

- Ah, é ? Olha, os outros não estão sabendo disso não. - eu provoquei.

- Ah, então eles vão saber agora. Vou deixar minha marca nesse seu pescocinho pra ninguém chegar mais perto. - ele deu um beijo molhado em meu pescoço, me fazendo arrepiar.

- Pára, Henrique. Você não é nem doido de fazer isso.

Ele riu.

- Vai brincando comigo, vai.

- Tá bom, seu ciumento. Você é O homem da minha vida. Feliz agora ? - eu passei meu nariz pelo dele carinhosamente.

- Muito ! - ele me roubou mais um selinho. - Agora vamos, porque conseguimos ficar realmente atrasados.

Chegamos no escritório, onde todos já nos aguardavam. Juliano, ao nos ver entrar juntos as pressas, não se conteve.

- Ué, se perderam no caminho ? Você saiu antes de mim, mano. - ele sorriu angelicalmente.

Henrique abriu um sorriso amarelo, impaciente.

- Parei na farmácia no caminho, véi. - ele pegou o irmão pelo pescoço, apertando-o contra seu peito. - Tava com saudades, é ?

Eu apenas ri. Era tão bom ver meus meninos felizes nessa cumplicidade.

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