Capítulo 11

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Acordei com o telefone tocando muito alto ao meu lado. Minha cabeça girava e eu me arrependia de cada gole de álcool que havia tomado na noite anterior. Me estiquei na cama para atender a ligação, quase caindo.

- Bom dia ! Aqui é da recepção do hotel, poderia falar com a Srta. Marília Mendonça ?

- É ela mesma. - eu respondo, com a voz rouca de quem acabou de acordar.

- Srta. Marília, foi entregue aqui na recepção uma encomenda no nome de Rodolfo Pimenta para a senhorita, posso autorizar a subida ?

Eu parei por um minuto, tentando entender quem poderia ser Rodolfo. Um flash veio a minha cabeça e eu me lembrei da noite passada, dos poucos momentos divertidos que passei na festa. Me bateu uma certa culpa, depois de toda aquela situação me esqueci completamente que estávamos conversando, e fui embora sem nem me despedir.

- Ah, claro. Eu estou aguardando a entrega. Obrigada.

Eu desliguei o telefone e sentei na cama, abraçando o travesseiro. Meu coração ainda estava pequeno, como se tivessem furado ele com uma agulha e ele fosse murchando aos pouquinhos até chegar àquele tamanho. Me observei no espelho e vi minha cara inchada e as olheiras gigantes que tinham se formado ali. Precisava urgentemente de um banho e de uma maquiagem destruidora. Já havia chorado lágrimas suficientes por uma vida, estava decidida a não pensar mais no fulano e nas barbaridades que fui obrigada a ouvir. Tinha o dia inteiro para passear por São Paulo, pois nosso vôo para Goiânia era tarde da noite, e queria aproveitar ao máximo e me animar como pudesse.

Ouvi uma batida discreta na porta e corri para atender. Um ramalhete imenso de rosas vermelhas e brilhantes surgiu na minha frente, antes que eu pudesse ver o rosto do entregador. Eu agradeci, tentando enxergar por cima das flores, e entrei no quarto novamente, apoiando o buquê em cima da mesa. Era um pouco clichê, eu sei, mas como a romântica incurável que sou, não podia deixar de apreciar a surpresa. Havia um bilhete preso no meio das flores; peguei o envelope e o abri, curiosa.

"Marília, espero que esteja tudo bem com você. Não tivemos a oportunidade de continuar nossa conversa ontem, mas adoraria ter a chance de te encontrar novamente. Meu número está no verso do cartão. Caso venha para São Paulo novamente e precise de um guia, estou à disposição. As flores são para alegrar seu dia, tentei escolher as mais bonitas para lhe fazer jus. Um beijo, Rodolfo."

Eu abri um sorriso, sentindo uma gratidão imensa por aquele gesto. Rodolfo parecia genuinamente interessado em mim e não tinha medo de demostrar isso. Era isso que eu precisava para o meu dia, alguém que me colocasse pra cima e não tivesse medo de assumir seus sentimentos.

Decidi imediatamente ligar para ele e ver se o convite para ser meu guia estava realmente de pé. Ele se animou muito ao ouvir minha voz, disse que tiraria a tarde para me levar para almoçar e depois dar uma volta pela cidade. Eu agradeci e disse que o aguardaria na recepção do hotel. Me senti animada com alguém pela primeira vez depois de conhecer o Henrique, talvez minha sorte estivesse finalmente mudando.

Liguei para o serviço de quarto e encomendei um omelete e um suco para o café da manhã. Todos os membros do escritório estavam hospedados naquele mesmo hotel e eu queria evitar um encontro desagradável logo cedo. Corri para tomar meu banho.

De café e banho tomados, pude escolher uma roupa com calma. Ainda tinha um bom tempo até o horário combinado com Rodolfo, então decidi ligar a televisão para me distrair. Me arrependi na mesma hora; um programa de palco que eu nem consegui identificar mostrava um casal se reconciliando e a música "Cuida bem dela" tocando ao fundo. Minhas mãos tremiam e eu me atrapalhei com o controle. Aumentei o volume sem querer, não conseguia encontrar o botão de desligar. Troquei de canal, mas a música ainda ecoava na minha cabeça. Respirei fundo e finalmente consegui desligar a televisão. Não é possível que isso ia acontecer comigo, parecia até piada. Ouvi uma batida na porta e gelei. Ele não ousaria aparecer ali, eu nem sei o que faria.

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