Capítulo 49

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Os dias se tornaram semanas, e as semanas se transformaram em meses um tanto incomuns. Yugnir continuava se fazendo cada vez mais presente em minha vida, as vezes deixando seu trabalho e sua família de lado para me acompanhar. Eu não saberia dizer exatamente o que era, mas algo me prendia a ele; talvez meu medo de ficar sozinha unido ao cuidado extremo que ele tinha comigo. Chegava a ser até sufocante as vezes, mas no fundo eu sempre quis alguém que se dedicasse a mim com tanto empenho.

Eu tinha cada vez menos tempo para encontrar os amigos e isso incluía Henrique e Juliano. Mesmo tendo alguns festejas juntos, nunca mais um invadiu o palco do outro para fazer aquela surpresa que todos adoravam. Nos cumprimentávamos rapidamente nos intervalos, quando era possível. Algumas vezes não chegávamos nem a nos ver. Era uma realidade completamente diferente que eu nunca imaginei viver. Apenas sobravam as lembranças bonitas do que vivemos, não sabia se um dia algo seria igual entre nós. A dor da lembrança vinha com a mesma rapidez que passava, porque eu não deixava meus pensamentos passarem perto do Henrique. Eu sabia que ainda não estava curada por completo, mas um dia ainda ia olhar em seus olhos sem sentir meu coração acelerar loucamente.

Estávamos sentados no sofá da sala, Yugnir e eu; ele atento à televisão, assistindo um programa sobre carros, e eu entediada demais para tirar os olhos das minhas cutículas, que para uma cantora famosa, não estavam nem perto do ideal.

— Minha filha, isso chegou para você. — minha mãe entrou distraída na sala, com um envelope na mão.

Me levantei às pressas, animada por ter algo para me tirar dali. Qualquer coisa estava servindo para quebrar o tédio daquela tarde preguiçosa. Peguei o envelope, virando-o de todos os lados para saber do que se tratava. Em letras miúdas, ele apenas se endereçava "À Marília Mendonça e família". O abri sem cuidado algum, curiosa. Dentro se encontrava um belo convite em letras prateadas. Um casal simpático sorria na foto de fundo. Seria a comemoração do aniversário de casamento dos pais de Henrique e Juliano e eles convidavam para uma grande festa a ser realizada na fazenda dali a duas semanas.

Em um cantinho vazio sobressaltavam algumas palavras escritas em caneta preta. Meus olhos pularam para lá imediatamente, ignorando momentaneamente as instruções sobre como chegar ao endereço que eu já conhecia tão bem.

"Minha querida, sentimos sua falta. Gostaríamos muito de ter sua presença em nossa casa. Você e sua família são sempre bem-vindos. Esperamos vê-la em breve. Um grande beijo, Maria e Edson."

Aquela delicadeza toda era típica de Dona Maria. Sempre tive um carinho enorme por ela e uma grande admiração por ter criado tão bem os filhos.

— Coisa boa ver esse sorriso no seu rosto, meu amor. — minha mãe se aproximou, beijando meu rosto. — Que convite é esse aí, hein ?

— Aniversário de casamento do tio Edson e da tia Maria, mãe. Ela faz questão que eu vá.

— E eu também faço. Maria sempre cuidou de você como uma filha.

— Eu sei, mas tem gente que não vai querer que eu vá. — eu abaixei a voz, indicando o indivíduo sentado no sofá com a cabeça discretamente.

— E você lá é de aceitar ordem dos outros ? — ela me olhou surpresa. — Além disso, nada que um jeitinho feminino não resolva. — ela piscou para mim e saiu de fininho para seu quarto.

Eu andei lentamente até o sofá, calculando meus movimentos. Me sentei na beirada, ainda sem ter certeza se queria realmente fazer aquele convite.

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