Capítulo 07

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Acordei com a cabeça pesada e o coração leve, ainda estava aconchegada naquele abraço gostoso. Mal conseguia abrir os olhos com o sol brilhando acima de nós. Henrique ressonava tranquilo, em um sono profundo. Tentei me mexer o mais delicadamente possível, mas acabei acordando-o mesmo assim. Vi seus olhos se abrindo lentamente. Ele deu um suspiro e esticou os braços, se espreguiçando, então sorriu para mim.

- Bom dia, princesa !

- Bom dia ! - eu disse animada, beijando sua bochecha.

- Que delícia acordar com esse sorriso. - ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

Eu apoiei o rosto em sua mão e sorri ainda mais.

- Não faz assim que eu apaixono ! - ele disse, contraindo os lábios.

Eu ri. Não dava pra levar o Henrique a sério nunca.

- É muito bobo mesmo. - sentei de frente para ele, tentando me ajeitar na rede. - Vamos acordar aqueles dois fracos ? - eu me empolguei, com cara de arteira.

- Só se for no nosso estilo. - ele sorriu maliciosamente.

Eu adorava quando ele liberava aquela criança interior, tão espoleta e brincalhona quanto a minha. Ele sempre apoiava minhas ideias e eu as dele, um colocava pilha no outro, e aí ninguém segurava mais.

Entramos na sala, silenciosamente, andando na ponta dos pés. Juliano ainda dormia no mesmo lugar que o deixamos; Tchula não se encontrava mais no chão, havia deitado em um outro sofá menor, mas dormia tão profundamente quanto antes.

Seguimos para a cozinha, onde cada um pegou um copo vazio. Retornamos em direção ao cooler cheio de água e algumas pedras de gelo remanescentes. Henrique encheu meu copo primeiro e depois o dele, muito lentamente, fazendo o mínimo barulho. Ele se dirigiu para perto do irmão, e eu para perto do Tchula. Contei até três com meus dedos.

TCHÁAAA! Os dois deram um pulo do sofá, com uma cara assustada, a água escorrendo pelo rosto todo.

- HENRIQUE eu vou te matar, seu filho de uma égua !!!!! - Juliano saiu no encalço do irmão, que corria pela sala dando gargalhadas.

Tchula me olhava com cara de sofrimento.

- Minha cabeça dói. - ele declarou.

- Tá aí o melhor remédio pra ressaca, num instantinho você tá bom. - eu falei, em apoio.

- Tá toda feliz né ? Eu vi o porquê hoje cedo. - ele disse discretamente.

Eu arregalei os olhos, espantada. Como assim ? Tchula não me esperou perguntar.

- Eu acordei no chão todo dolorido, muito obrigado, e resolvi tomar um copo d'água. Fui te procurar pra saber se estava tudo bem e vi vocês dois dormindo juntos.

- Não aconteceu nada. Ele só disse algumas coisas sobre o show, sobre querer me proteger.

- Uau, que avanço ! Se continuar assim, em 2050 vocês dão o primeiro beijo.

Eu soltei um riso abafado.

- Nós somos amigos, as coisas são complicadas.

- As coisas não são, vocês sim. - ele me abraçou, tentando se secar em mim. 

No fundo era verdade. Eu tinha muito medo da amizade mudar, dele estar apenas brincando como sempre e eu interpretar as coisas de outra forma. Ele eu não sei do que tinha medo. Mas a culpa era só nossa de estar vivendo aquele impasse.

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