Acordei com uma terrível dor de cabeça. Olhei pros lados e percebi que estava no chão do quarto. Minhas costas também reclamaram. Mas a dor maior que eu estava sentindo era no peito. Imediatamente lembrei da noite passada. Da discussão feia que tive com a Marília. Ela deve estar muito magoada comigo. Nossa, eu falei muita besteira pra ela. Não acredito que fiz aquilo. Pior, não acredito que disse aquelas coisas. Levantei devagar e fui pro banheiro tomar um banho. Meu irmão não estava mais no quarto. Provavelmente tinha ido encontrar a namorada. Durante o banho eu não conseguia esquecer aquelas duras palavras dirigidas a Marília e ela saindo da festa chorando por minha causa, por um péssimo motivo na verdade.
Assim que saí do banheiro escutei alguém batendo na porta. Era a Mayara. Ela entrou e disse que precisava tomar um banho e se trocar. Então eu resolvi esperar ela no saguão do hotel. Me arrumei e quando saí do quarto olhei na direção do quarto da Marília. O sentimento de culpa tomou conta de mim. Precisava ir até lá pedir desculpa. Caminhei em direção a porta. Parei na frente, tentei bater mas me contive. Estava com muita vergonha. Acabei desistindo e desci pro saguão. Assim que abriu a porta do elevador eu percebo que tem alguém na recepção com um buquê de flores. Continuei andando e ouço o rapaz mencionar o nome da Marília. Parei imediatamente e esperei ele falar de onde eram as flores. Assim que ele falou o nome fiz um esforço pra me lembrar quem era Rodolfo. Então me veio na memória o rapaz da festa. O motivo da minha discussão com a Marília. Senti raiva naquele momento. Como pode ele ainda mandar flores pra ela? Será que ele veio atrás dela? Será que ela ainda falou com ele? O que aconteceu? Essas perguntas começaram a me atormentar.
O recepcionista interfona pra Marília avisando que havia uma encomenda ali pra ela. Depois fala o nome da pessoa que enviou. A raiva me invadiu novamente. Assim que ele desliga, manda o rapaz subir. Senti vontade de ir atrás do rapaz, tomar aquele buquê e jogar longe. Mas apenas obeservei ele pegar o elevador e ir de encontro à Marília deixar o presente. Fiquei imaginando a reação dela ao receber aquilo. Ai, que raiva. Que raiva de mim.
Estava distraído em meus pensamentos quando a Mayara se aproxima me chamando junto com meu irmão, minha cunhada e minha mãe. Resolvemos sair pra dar uma volta e almoçar em algum restaurante. Durante o caminho minha mãe se aproximou de mim e perguntou se estava tudo bem. Eu apenas balancei a cabeça afirmando que sim.
- Eu te conheço melhor do que ninguém meu filho. O que te aflige? Por que você está triste?
- Tá tudo bem mãe, sério. Estou apenas chateado com algumas questões que preciso resolver.
- Henrique, Henrique. Está tentando enganar sua própria mãe??
- Não mãe. Não se preocupe comigo tá bom. Vamos aproveitar nosso passeio.
- Meu filho, se precisar conversar sabe que estou aqui pra te ouvir sempre. Eu te amo e sempre vou te apoiar em suas decisões. Sinto que algo não está bem com você, mas se não quiser falar a respeito vou entender e respeitar ok.
- Tá bom mãe. Obrigada por tudo. Também amo você. - Lhe dou um beijo na testa.
Passeamos um pouco pela cidade e paramos em alguns lugares. Na verdade era mais pra passar o tempo até o horário do almoço.
Seguimos para o restaurante. A essa altura não estava com a menor vontade de comer. Só pensava naquele bendito buquê e o recepcionista do hotel falando pra Marília de quem era. Fizeram o pedido e eu escolhi qualquer coisa do cardápio. Pra falar a verdade nem consegui ler direito o que estava escrito ali. Todos conversavam animados, falando de assuntos que eu nem me dei ao trabalho de querer saber. Estava no meu mundinho. Quieto, pensativo. Até que meu irmão fala meu nome me distraindo dos meus pensamentos. Tentei me distrair me esforçando pra prestar atenção na conversa. Comentei algumas coisas mas as palavras que saiam da minha boca eram as mínimas possíveis.
Após o almoço resolvemos procurar alguns pontos turísticos da cidade. Meu irmão e a Mohana resolveram registrar os momentos e lugares que visitávamos. Me chamavam pra tirar foto mas eu sempre dava uma desculpa. Não estava com cabeça pra tudo aquilo. A Mayara estava quieta também. Trocamos poucas palavras durante o almoço e o passeio. Ao menos ela estava respeitando meu espaço. Passamos a tarde inteira assim. Indo de lugar em lugar. Minha mãe resolveu voltar mais cedo pro hotel, estava cansada e queria descansar pra mais tarde pegar o avião. Compramos algumas coisas pra levar na viagem de volta pra casa também. Que saudade me deu de casa. Da fazenda. Dos meus bichos. Mas no fundo sentia falta mesmo era de falar com a Marília. O que será que ela estava fazendo? Será que ela ainda estava com raiva de mim? Será que eu devia ligar pra ela? Achei melhor não. Tinha que dar um tempo pra ela também. Resolvemos voltar pro hotel cedo afinal, o nosso vôo seria naquela noite.
Assim que chegamos na entrada do hotel, avistei a Marília com um rapaz. Fomos nos aproximando do elevador. Então prestei bem atenção e logo lembrei quem ele era. Ele estava segurando a mão dela. Não podia acreditar no que estava vendo. Parei imediatamente e os outros que estavam comigo ficaram sem entender, até avistar a cena que eu estava presenciando. A Marília abraçou ele e ele a beijou. Não pode ser. Ela retribuiu. Eu não poderia ter presenciado nada pior. Uma raiva enorme tomou conta de mim. Senti meu corpo começar a tremer. Meu rosto ficar vermelho. Fechei as mãos com tanta força que nem sentia se havia machucado. Fiquei ali imóvel, vendo ela ser beijada por outro. Não, isso não podia estar acontecendo. Ela me olhou surpresa. Ficou sem jeito mas continuou ali, nos braços daquele cara. Senti vontade de partir pra cima dele e lhe dar uma surra e ao mesmo tempo senti vontade de sumir dali. Aquilo era demais pra mim. Enfim o elevador chegou e entramos. A Mayara ficou num canto. Meu irmão e minha cunhada estavam abraçados e surpresos com tudo aquilo. Percebi que ele me olhava com julgamento e um tanto chateado. Assim que chegamos em nosso andar, meu irmão me chamou pra uma conversa. A Mayara e a Mohana foram pra um quarto e eu e meu irmão seguimos pro outro. Assim que fechou a porta meu irmão fala.
- Mano. Eu sinceramente não sei mais o que te dizer. Você nem se dá ao trabalho de disfarçar seu ciúme da Marília. Ela não é sua propriedade. E você parece que as vezes esquece que tem uma namorada. Ontem eu me exaltei com você, te peço desculpa. Depois que fui refletir sobre isso tudo. Sou seu irmão e vou tá do seu lado sempre. Sei que não deve tá sendo fácil pra você toda essa situação, mas vou te dar um conselho. Se você não gosta mais da Mayara, conversa com ela e coloca um ponto final nessa história. Ela te ama e tá sofrendo com tudo isso. Ontem, quando eu estava chegando no quarto depois da festa, ouvi você dizendo que ama a Marília. Isso é verdade mano?
Olhei pro meu irmão surpreso, mas não conseguia esconder nada dele. Acabei falando a verdade.
- Mano, não sei o que fazer. Eu gosto da Mayara mas não como gostava antes. Depois que a Marília apareceu na minha vida eu mudei. Ela fez surgir algo diferente em mim. E eu admito, sinto ciúmes demais dela. Quero protegê-la mas as vezes me sinto incapaz disso. Ontem nós discutimos feio na festa. Falei algumas besteiras pra ela, sei que a magoei e nunca vou me perdoar por isso. Mas perdi a cabeça quando a vi com aquele sujeito.
- O tal sujeito da festa era aquele que estava com ela lá embaixo? - Meu irmão perguntou.
- Sim. Respondi cabisbaixo.
- Nossa mano. Tá complicado as coisas pro teu lado. E parece que ela gostou do sujeito. Pela cena que a gente presenciou no saguão.
Eu arregalei os olhos pro meu irmão. Eu não queria mais saber daquilo. Falei pra ele que precisávamos arrumar nossas malas, mudando de assunto. Ele entendeu e deu o assunto por encerrado.

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Impasse
FanfictionE quando tudo ao seu redor te impede de viver o amor. E quando você pensa que vai dar certo e dá errado. E quando você luta, desiste, luta de novo, desiste mais uma vez pois não sabe se esse amor é pra ser vivido ou não. E quando o amor é recíproco...