Capítulo 31

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Aqueles cinco minutos pareceram durar uma eternidade. Eu soluçava, sem me esforçar pra conter as lágrimas. Tchula me abraçou, deitando minha cabeça em seu ombro.

— Chora mesmo, chora tudo. Vai passar — ele acariciava meus cabelos gentilmente.

Eu mesma nem sabia o quanto queria aquilo. O quanto eu havia me envolvido nessa história com o Henrique. E só fui saber quando foi tirado de mim. No fim das contas, eu deveria estar feliz; um filho agora seria complicado demais. Mas eu não estava. Aquilo doeu como se eu houvesse planejado minha vida toda para isso. Me sentia sem chão. Chorei até minhas forças acabarem, até não ter mais lágrimas para derramar.

Levantei a cabeça, olhando para o Tchula, meus olhos vermelhos e inchados. Tentei falar, mas minha voz não saiu. Ele apenas me observava muito calado, absorto em seus próprios pensamentos. Pude ver uma lágrima discreta cair por seu rosto e ele se esconder rapidamente para limpá-la.

Doutor Guilherme voltou, tentando me animar de qualquer forma. Me indicou vários procedimentos e tratamentos que poderiam me ajudar. Ele não entendia que o problema não era aquele. O problema foi a esperança que eu criei em cima de tudo aquilo. Decidi por fazer o exame de sangue, mesmo sabendo que não mudaria muita coisa.

Saímos do consultório e fomos direto para minha casa. Tchula estava muito abalado também e permanecemos em silêncio o caminho todo, cada um concentrado em suas próprias dores. Quando chegamos, ele me abraçou demoradamente.

— Obrigada. Por tudo. Não iria aguentar sem você. — eu falei, tentando controlar a emoção.

— Eu te amo, mana. — ele me deu um beijo na testa. — Qualquer coisa que precisar, não vou largar o telefone.

Tchula sabia que, mais do que nunca, eu precisava de um tempo para mim. Um tempo para me recuperar desse choque. Nossa amizade tinha disso, um sabia muito bem do espaço do outro. E eu sabia que, a qualquer hora que precisasse, ele estaria lá, sempre.

Entrei em casa e fui direto para o meu quarto. Não tinha fome e nem vontade de fazer nada. Me enfiei embaixo das cobertas e liguei a televisão em um canal qualquer. Minha mãe pensou até que eu estava doente quando entrou para me ver, mas eu disse apenas que estava cansada. Tomei logo três comprimidos de um remédio forte para dor de cabeça e apaguei logo depois, dormi até a manhã do dia seguinte.

Quando acordei, vi que Henrique havia me ligado várias vezes durante a noite. Não queria vê-lo, não queria lembrar de tudo e sentir aquela dor tão grande novamente. Minha mãe bateu na porta e entrou no quarto.

— Bom dia, minha filha. — ela se aproximou e sentou na cama ao meu lado. — Estou preocupada com você, está tudo bem ?

Eu apoiei o travesseiro em suas pernas e deitei minha cabeça ali, fechando os olhos e suspirando.

— Preciso de colo, mãe.

Ela começou um cafuné gostoso que só mãe sabe fazer na gente.

— Tô aqui, meu anjinho. Você precisa se cuidar, não comeu nada desde ontem.

— Tô sem fome, mãe. — eu falei, desanimada.

— Nada disso, não pode se derrotar assim, minha filha. Não sei o que aconteceu, mas tudo nessa vida tem solução. A gente precisa enfrentar as dores como lições. — eu abri os olhos e ela me encarava do alto. — Vou preparar alguma coisa e venho comer com você.

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