Capítulo 14

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Assim que avisaram que a van havia chegado pra nos buscar, todos descemos pro saguão do hotel. Quando cheguei encontrei a Marília com o Tchula. Ela nem notou minha presença e, se notou fingiu que não me viu. Fomos chamados, entramos na van e seguimos até o aeroporto. Ficamos aguardando o avião. A Marília não me dirigiu uma palavra sequer. Até que o telefone dela toca e ela se afasta pra atender. Fico observando seu jeito, estava Alegre e descontraída ao telefone. Deve estar falando com aquele cara, pensei. A raiva começou a tomar conta de mim. Não queria mais ver aquilo então me afastei e fui pra um canto. A Mayara foi até lá e perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim e lhe dei um abraço e um beijo rápido. Até que ouço aquela voz no aeroporto avisando que o vôo já estava disponível. Seguimos pro avião.

Quando chegamos em Goiânia, a Mayara precisou ir pra casa pois tinha alguns assuntos do trabalho pra resolver. Então deixamos ela primeiro e fomos pra casa. Queria me isolar de tudo naquele momento. Assim que me acomodei no quarto, peguei meu violão e comecei a tocar. E no meio das canções eis que me vem uma na memória. Cuida bem dela. Comecei a tocar e imediatamente lembrei daquele beijo que tinha visto no hotel horas antes. Senti um aperto no peito. Uma tristeza me invadiu. Resolvi beber pra tentar esquecer aquilo tudo. Fiquei ali no quarto sozinho, com meu violão e um copo de cerveja. Começo a tocar a música "cuida bem dela" de novo. E quando chego na parte "se ela quis ficar contigo, faça ela feliz, faça ela feliz". Não resisti. Peguei o telefone e resolvi ligar pra Marília. Chamou até cair na caixa postal. Meu Deus, ela ainda estava magoada comigo, eu não ia suportar mais aquilo. O que eu vou fazer? Eu não quero mais isso, não aguento mais. Senti meus olhos encherem de lágrimas. A todo momento lembrava que havia prometido a ela que sempre iria protegê-la, que sempre estaria do seu lado e agora estávamos assim, tão distantes um do outro. Por quê? Culpa minha que fui um idiota. Por quê não falei logo o que estava sentindo? Por quê deixei ela fugir daquele jeito? Isso estava me atormentando. Resolvi deitar um pouco e tentar afastar esses pensamentos. Acabei dormindo.

E no outro dia teria show. Imaginei que seria uma ótima oportunidade de falar com a Marília. Mas pra minha decepção ela não foi. Encontrei apenas o Tchula e logo perguntei por ela. Ele me disse que ela não estava se sentindo bem, por isso não compareceu. Isso não poderia ficar pior. Será que ela vai mesmo se afastar de mim? Não é possível.

Passado alguns dias, o Wander me liga e diz que vai fazer uma reunião na work. Mandou todos comparecerem. Quando cheguei no escritório avistei a Marília conversando com algumas pessoas na recepção. Quando ia me aproximar pra falar com ela o Wander nos chamou. Entramos todos na sala e ele começou falando que vai fazer a gravação do DVD da Marília. Ela ficou muito feliz. Abraçou o Tchula, o Wander, meu irmão e depois veio me abraçar. Como estava sentindo falta desse toque, desse cheiro. Mas ela logo se soltou e foi se sentar numa cadeira. Eu fiquei olhando pra ela chateado. O Wander explicou como seria o processo que eu já conhecia bem afinal, já havia gravado dois DVD's. Mas era a primeira vez da Marília e ela estava muito entusiasmada. Fiquei muito feliz por ela. Era um sonho dela prestes a ser realizado. A melhor notícia do dia. Então o Wander diz que eu e meu irmão vamos fazer uma participação especial no DVD. Eu fiquei surpreso e ela pelo visto também, me olhou com uma cara de espanto. No fundo eu estava adorando aquilo. E aí eu pergunto do Wander qual a música que vamos cantar juntos. E ele passa um papel pra mim, pro meu irmão e pra Marília. Eu li o que estava escrito ali e não podia acreditar. Aquela música era perfeita. Olhei pra Marília esperando alguma reação. Ela ficou um tempo calada e depois disse:

- Essa música é perfeita. Eu adorei!

O Wander me perguntou o que eu achei e eu respondi:

- Achei ótima. Essa música é muito boa mesmo. Descreve o que muita gente passa na vida né... Acho que as pessoas vão se identificar com ela. - Falei isso olhando pra Marília e ela ficou sem jeito. Sentia falta de deixar ela assim, com vergonha.

Então o Wander explica que precisamos começar logo os ensaios pois vai ter muito trabalho pela frente. A reunião se encerra, a Marília se levanta e sai e eu resolvo ir atrás dela. Assim que me aproximo pergunto se podemos conversar. Ela diz que tudo bem.

- Vamos pra outro lugar mais calmo tudo bem?

- Ok. -ela responde.

Aviso pro meu irmão que vou conversar com ela e peço pra ele pegar carona com o Tchula. Ele concorda.

- Espero que vocês se resolvam de uma vez porque eu não aguento mais ver você daquele jeito. Boa sorte mano. -Juliano fala e vai atrás do Tchula.

Pego a Marília e a levo pro carro. Sempre sendo cavalheiro, abro a porta e seguro sua mão pra ela entrar. Aquela sensação, que havia sumido a tempos voltou. Entrei no carro e perguntei pra onde ela queria ir. Ela me olha sem dizer nada. E passa um tempo assim, me encarando como se quisesse dizer algo ou fazer alguma coisa. Então eu faço. Lhe dou um abraço bem apertado e um beijo na bochecha. E ficamos assim, abraçados sem dizer nada um tempo. Aquilo parecia mais uma vez um pedido de desculpas. Quando a soltei ela estava com lágrimas nos olhos. Enxuguei todas e beijei seus olhos molhados. Encostei minha cabeça na sua e fechei os olhos. Ah Henrique, era isso que estava faltando em você. Você precisa dela mais do que tudo nessa vida. Ela faz parte de você. Ela te faz bem. Minha consciência dizia isso a todo momento. Abri os olhos e ela estava me olhando com aqueles olhos castanhos. Abriu um pequeno sorriso e passou a mão na minha barba. Essa sim era a Marília que eu conhecia e queria por perto.

Fomos pra um restaurante pois já era quase hora do almoço e eu estava com fome. Não comia direito a dias. Mas naquele momento meu apetite voltou com tudo. Assim que chegamos, fizemos o pedido e também pedimos uma bebida enquanto aguardávamos a comida.

- À você. À essa nova etapa na sua vida. Que seu DVD seja um sucesso.- Levantei o copo pra brindar. Ela fez o mesmo e bebemos.

- Como você está? - Perguntei pra começar a conversa.

- Estou bem e você?

- Estou bem também. -Menti.

- Posso te contar uma coisa?

- Claro.

- Senti muito a sua falta esses dias. -
Ela me olhou surpresa.

- Eu também senti. -Ela confessou.

- Marília eu.... Por favor, me perdoa por tudo que eu falei na festa. Eu estava fora de mim. Estava muito nervoso e estava tentando te proteger. Eu prometi que ia fazer isso e falhei. Não era minha intenção te magoar. Eu fiquei muito triste por ter fazer chorar daquele jeito. Aquilo acabou comigo. Você é importante demais pra mim. Não quero mais me afastar de você. Nunca mais. Eu a...

- Tudo bem Henrique. -Ela me interrompe. - Eu também falei muita besteira. Estava muito estressada com toda aquela tensão que estávamos no dia da festa. Sinto que falei coisas que não deveria e acredite, isso doeu em mim também. Também senti muito a sua falta. Afinal, somos amigos não é. Você me desculpa?

Olhei pra ela incrédulo. "somos amigos". Sim, somos amigos. Mas o que eu sinto por você não é algo que se sinta por amigo. Respondi que sim. Que a desculpava. Peguei sua mão e beijei. E ela abriu aquele sorriso lindo pra mim de novo. Ah menina, olha só o que cê tá fazendo comigo...

Após o almoço deixei a Marília em casa. Assim que chegamos, abri a porta do carro pra ela sair, do mesmo jeito que fiz na primeira vez que deixei ela em casa. Ela deu uma risada e segurou minha mão.

- Obrigada pelo almoço. Eu gostei muito mesmo.
-Me deu um abraço e um beijo na bochecha.

- Eu que agradeço meu amor. Foi a melhor refeição que tive há dias. E com uma ótima companhia então, ficou muito bom. -Retribui o abraço e lhe dei um beijo na testa.

- Então, até os ensaios da nossa música. -Ela falou animada rumo ao portão.

Eu respondi. - Até. Acenei e entrei no carro.

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