Impasse

Capítulo 53

A correria que sucedeu o show de Boston não me deixou pensar muito bem sobre o que tinha acontecido comigo para beijar o Henrique daquela maneira. Apesar de ter bebido muito, eu sabia o que tinha feito e não conseguia sentir o menor remorso por isso. Nem mesmo quando Yugnir decidiu esquecer as suas implicâncias e voltar a me tratar bem. Nas poucas vezes que parava para lembrar daquela cena no elevador, eu só conseguia suspirar feito uma adolescente.

Eu estava uma pilha de nervos, dormindo pouco, não conseguia colocar nada no estômago sem enjoar. Estava ficando cada vez mais comum eu enlouquecer a qualquer hora e passar do humor "doce e tranquila" para "uma louca psicopata". Minha equipe já estava aceitando bem essas mudanças e depois de um tempo eles apenas me abraçavam até passar ou empurravam um chocolate na minha boca.

Yugnir estava lá comigo desde o primeiro dia em Manaus, mas não ajudava muito nessas situações. Na verdade ele preferia se esconder atrás do celular e me ignorar até eu voltar a ser eu novamente. Nessas horas eu não podia deixar de lembrar do Henrique.
Como ele se preocupava comigo. E como eu estaria mais calma se tivesse ele ao meu lado.

Quando os meninos chegaram, eu mal pude vê-los. Eram tantas coisas para organizar, tantos problemas para resolver, tantos fãs para atender. O sonho da minha vida estava se realizando e eu não conseguia nem perceber isso acontecendo. Apenas pude sentir a emoção quando tiramos algum tempo para ensaiar nossa nova parceria no quarto do Pepato.

Estávamos apenas eu, Henrique, Juliano e o próprio Pepato. E ali eu me lembrei o porquê isso era um sonho. Porque a música era minha vida e cantar me fazia bem como nada mais nesse mundo. Exceto talvez estar ao lado dele. Ver aquele sorriso de criança se abrindo fez a minha alma leve. Eu esqueci onde estava, esqueci o que estava acontecendo. Me acalmei pela primeira vez em dias e apenas sorri também. Ele percebeu que eu o observava e piscou para mim. Eu senti meu rosto corar e me escondi, envergonhada. O que estava acontecendo comigo ?

Senti meu celular tocar no bolso da calça. Olhei rapidamente o visor e vi que Yugnir me ligava. Olhei para frente e Henrique me observava, curioso. Decidi desligar, eu estava ocupada no momento. Quando íamos repassar a música, meu celular vibrou novamente. Mais uma vez eu desliguei. Queria me concentrar ali, em nós e em nossa música. Mas quando comecei a cantar, o celular vibrou pela terceira vez. Estava impossível se concentrar daquele jeito. Resolvi atender de uma vez. Pedi licença e me afastei o máximo que consegui. Sabia que Henrique ainda me observava.

— Oi Yugnir. Aconteceu alguma coisa ? Estou um pouco ocupada.

— Não aconteceu nada. Só queria saber onde você estava, porque cheguei no quarto e não te encontrei.

— Eu vim ensaiar aqui no quarto do Pepato com os meninos. Eles chegaram muito em cima e foi o único jeito que encontramos de ensaiar nossa música.

— O Henrique está aí ?

— Sim.

— Então eu vou aí.

— Não precisa. Nós estamos acabando, você vai ficar entediado aqui.

— Você quer ficar sozinha com seu namoradinho, é isso ?

— Sozinha ? Você sabe muito bem que o Juliano e o Pepato estão aqui também. Pára com essa implicância, por favor.

— Não é implicância. Foi só esse cara chegar que você já me deixou sozinho pra ir ver ele.