Capítulo 54

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"— Marília, você aceita ser minha esposa e ficar para sempre ao meu lado ?

— Sim, meu amor ! Mil vezes sim, você é o homem da minha vida !"

Eu conseguia imagina-los dizendo isso, ela pulando em seus braços e beijando-o entre lágrimas e um sorriso escancarado em seu rosto. Ele estaria de joelhos ? Foi um pedido intimo ou a família toda estava presente ? O anel era delicado e simples, como ela sempre me disse que queria? Ou ele quis lhe dar a maior e mais brilhante pedra que encontrou ?

Eu tentava tirar todos esses flashes da minha mente desde que soube que ela havia aceitado, fazendo questão de mostrar isso pra todo mundo. Não que ela tenha vindo me falar pessoalmente, tive que descobrir por fotos e conhecidos que me perguntavam incessantemente sobre esse assunto, sem perceber o quanto eu queria falar sobre qualquer outra coisa nesse mundo além disso.

Imaginar toda a cena doía de uma forma quase física e insuportável. Mas eu precisava. Minha mente não iria descansar até desvendar o porquê dela ter feito isso comigo. Onde eu errei a ponto de entrega-la numa bandeja para um cara que nunca iria amá-la nem metade do quanto eu sei que amo?

Nós não conversávamos mais, mal nos encontrávamos em shows e até no escritório, parecia que éramos apenas dois conhecidos que se cumprimentavam com um tchauzinho bem de longe, por mera formalidade. Ela não sabia que eu passava de mulher para mulher num desespero de encontrar um pedacinho dela em alguém. E eu não saberia dizer se ela estava genuinamente feliz ou se ainda pensava em mim antes de dormir como eu pensava nela. Toda nossa história estava sendo levada pela correnteza, se afogando na brutalidade das nossas ações, e nada que eu fizesse parecia ser capaz de salva-la.

Estávamos juntos no camarim depois de um show exaustivo e ela parecia finalmente ter baixado a guarda e deixado eu me aproximar. Claramente porque estávamos rodeados por nossos amigos mais próximos e eu não tentaria nada ali no meio de todo mundo, mas ainda assim enxerguei como um avanço. Mas o álcool e a raiva falaram por mim antes que eu pudesse me dar conta. Eram meses de frustração reprimidos que apenas saíram da pior forma possível.

— Você devia tirar essa coisa ridícula do seu pescoço.

— Ridículo é você ! E pára de querer mandar na minha vida !

E lá fomos nós de novo, ela com a cara emburrada e um desconforto nítido de quem não queria estar ali. E eu, calado, nervoso, sem saber como fazê-la enxergar o erro enorme que estava cometendo, sem conseguir dizer que tudo aquilo era só porque eu a amava mais que a mim mesmo e que, sem ela, nada mais teria sentido.

Enquanto Marília tentava acordar um Tchula muito embriagado, Juliano me empurrou para um canto sem muita cerimônia.

— O que você tá fazendo, cara ?

— Eu não consigo me conformar, Juliano !

— Já foi um sacrifício convencer a Marília a ficar aqui no camarim com a gente, já que o "mozão" não veio. — ele revirou os olhos e eu ri de nervoso. — Faz um esforço, pára de implicância, segura esse coração... ou vamos perder ela de vez. — ele apertou meu ombro tentando demonstrar apoio, mas sua expressão era triste.

— Eu... eu vou tentar.

Eu estava tentando algo novo. Nunca fui o cara mais ligado nas tecnologias, apesar de estar sempre dando uma olhadinha aqui e outra ali nas redes sociais. Mas pelos fãs a gente acaba fazendo muito e confesso que foi bom mostrar um pouco do que éramos... só eu, meu irmão e nossa família, um violão, uma cerveja e milhares de pessoas com quem eu queria compartilhar aquele momento. Mas daquelas milhares de pessoas que nos assistiam, apenas um nome fez meu coração dar um salto ao aparecer.

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