Capítulo 46

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Acordei ainda deitada no peito do Henrique, seus braços me envolvendo como se alguém fosse me tirar dele a qualquer momento. Aquele turbilhão de emoções na noite passada nos fez vulneráveis aos nossos sentimentos, que tinham a mania de falar alto, tão alto que o coração não dava ouvidos a mais nada. Antes que eu tivesse tempo de absorver por completo o que havia sido a nossa noite de amor, meu celular começou a tocar no criado-mudo. Me desvencilhei com cuidado dos seus braços e corri para atender, antes que Henrique acordasse. Ele apenas agarrou meu travesseiro com vontade e continuou no seu sono profundo. Saí do quarto às pressas, falando um "alô" afoito para quem quer que fosse.

- Bom dia, meu amor !

- Yugnir ?

- E tem mais alguém que te chama de meu amor ?

- Ah, é o sono, acabei de acordar. - eu desconversei. Mas essa era fácil, a única outra pessoa que me chamava assim estava nesse momento adormecida no meu quarto.

- Foi dormir tarde ontem, mocinha ?

- É, acabei vendo filme até tarde. - eu sentia minhas bochechas esquentarem e minhas mãos começarem a suar. Odiava mentiras. - E a sua noite, como foi ?

- Cheio de coisas do trabalho pra resolver, fiquei mal por não conseguir te ligar, ainda mais sabendo que você estava sozinha aí.

Eu engoli em seco. Me sentia a pior pessoa do mundo nesse momento. Se tem algo que eu não aceitaria nunca, é uma traição. Porque achava justo fazer isso com alguém ?

- Não precisa se preocupar assim comigo.

- Marília, eu te amo demais. Você sabe que eu não acreditava mais no amor depois do meu último relacionamento. Aí você apareceu e mudou tudo isso. Eu não posso deixar de me preocupar com você, porque você é minha vida. Não sei o que faria sem você, de verdade.

- Nossa, eu não sabia que você sentia isso com tanta intensidade. - as palavras dele me impressionaram de verdade.

- Eu não digo isso pra qualquer pessoa. Sei que você é a mulher certa pra mim.

Respirei fundo.

- Eu fico muito feliz em ouvir isso. - sentia meu peito carregado de culpa, mas estava sendo sincera.

O silêncio pairou por alguns segundos. Ele esperava que eu dissesse que o amava também. Mas ainda não estava pronta para essas palavras.

- Eu preciso ir agora. Podemos nos falar mais tarde ?

- Tudo bem. - ele respondeu um tanto decepcionado. - Amor...

- Diga.

- Se eu estiver fazendo algo errado, você pode me dizer. Quero ser o homem que você merece.

- Você está indo muito bem. Obrigada por cuidar de mim. - eu abri um meio sorriso.

- Eu te ligo antes da festa. Se cuida.

- Você também.

Apertei o celular contra o peito assim que desliguei. A angústia se tornava quase uma dor física e eu não sabia fazê-la passar. Corri para o quarto na esperança de encontrar Henrique já acordado, mas ele ainda estava na mesma posição que o deixei, sonhando despreocupado. Fiquei o observando por alguns segundos, esperando que acordasse, mas ele continuou com os olhos fechados.

Acorda, meu amor. Eu preciso ver seus olhos. Preciso ver a verdade neles. Ou vou acabar tomando a decisão errada. - eu pensava, andando de um lado pro outro inquieta.

O celular do Henrique apitou na cadeira, em cima de toda a sua roupa, e eu me virei automaticamente para olhar. Vi de relance o nome Vanessa escrito. Diversas mensagens seguidas e a última que dizia:

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