Impasse

Capítulo 18

Após conversar com o Wander no escritório resolvi ir dar uma volta. Queria organizar meus pensamentos. Saí dirigindo sem rumo. A todo momento lembrava daquele beijo. Aquelas sensações que tive foram surreais. Nunca havia sentido isso antes. A Marília realmente mexeu demais comigo. Era a pessoa que eu amava de verdade. Mas será que ela não se deixou levar apenas pelo momento? Será que realmente sentia o mesmo que eu? Ou eu estava imaginando coisas? Mas e a nossa amizade? Construímos algo tão bonito em cima disso. E se isso mudasse? E se a gente tivesse que se afastar? E o trabalho? Nossa parceria? Meu Deus. Cada vez eu ficava mais confuso. Eu não queria perder o que já tinha com ela. Mas também não tinha certeza do que seria se eu tomasse uma atitude e a pedisse em namoro. Como seria depois disso? Será que o pessoal no escritório iria aprovar? Ainda tem a Mayara. Preciso conversar com ela. E agora tem o tal Rodolfo. Nossa, não pensamos em ninguém mesmo. Só pensamos na gente. No que estávamos sentindo naquele momento. Isso não pode ficar assim. Resolvi ir pra casa e assim que cheguei subi tão rápido pro quarto que nem vi se tinha alguém na sala. Entrei no quarto e me joguei na cama. Após uns minutos ouço meu irmão batendo na porta. Falei pra ele entrar. Precisava desabafar com alguém.

- Mano, você tá bem? Você subiu tão rápido que nem prestou atenção no que eu falei lá embaixo. Aconteceu alguma coisa com você e a maninha?

- Aconteceu mano. A gente se beijou. Aliás eu a beijei.

Meu irmão me olhou espantado.

- Eita. Como foi isso? Perguntou.

- Ah, a gente tava ensaiando a música nova e eu acabei me empolgando. Quando fui beijá-la ela retribuiu e foi a melhor sensação que eu tive na vida. Senti que ela também gosta de mim.

Falei olhando pro teto.

- Só você que não precebia isso mano. Todo mundo já enxergou isso faz tempo. Mas e aí. O que vai ser agora? O que você vai fazer?

- Não faço a menor idéia. E pra completar o namorado dela tava lá.

- E ele viu alguma coisa?
Meu irmão perguntou nervoso.

- Não. Ninguém viu. O Tchula estava com ele mostrando o escritório.

- É mano. Você tá numa situação complicada demais. Pelo menos agora você sabe que a Marília sente a mesma coisa por você né. Só falta resolver agora sua situação com a Mayara.

- É... Vou ter que resolver isso mesmo.

- Então. Vou deixar você aí com seus pensamentos. Já vou indo. Vou sair com a Mohana. Qualquer coisa tô aqui viu.

- Tá bom mano. Vai lá, se divirta.

Meu irmão saiu do quarto e me deixou sozinho, pensando.

Não quis mais sair de casa naquele dia. Passei o dia no quarto. A Mayara ligou pra mim várias vezes mas eu não atendi. Queria ficar só. Resolvi ligar pra Marília. Estava com saudade de ouvir sua voz. Ela me atendeu imediatamente. Parecia um pouco tensa. Eu disse que passei o dia pensando nela. E ela pelo visto também. Queria muito vê-la. Perguntei se podia ir até sua casa e ela disse um não bem nervosa. Imediatamente lembrei que o Rodolfo estava lá. Fiquei desapontado, mas tentei entender, afinal, ela ainda precisava conversar com ele. Ela desliga dizendo que vamos nos encontrar no próximo show. Tudo bem, eu aguento isso, eu acho. Mas confesso que fiquei arrasado. Esqueci completamente daquele cara e ele tava lá com ela. A raiva tomou conta de mim novamente. Eu não aceito a Marília com ele. Não aceito ela com ninguém. Desci e resolvi caminhar pelo jardim.

Pensei em tudo que havia acontecido entre eu e Marília até aquele beijo. Tentei me colocar no lugar da Mayara. Lembrando do dia da festa em que ela me disse que eu trato a Marília diferente. Realmente ela tinha razão. Eu não estava sendo justo com ela. Precisava resolver isso. Voltei pro quarto, deitei na cama e acabei dormindo.