Seus Cicerones

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É a madrugada febril, quando todos ociosos
cantam - bajulados - nas suas próprias descrenças
Vou-me perder o tempo, pois quero viver
Em qualquer momento nas suas indiferenças

É a pobreza medir os nossos defeitos
procurando achar uma perfeição aos teus olhos
É o salário que mata a fome dos excluídos
É a criança que espera estar nas suas estatísticas
- das que não há braço a esticar, por alguém.

Ninguém, é. Ninguém...

Apagam-se as luzes. E lá fora, um suspiro.
São todas as moradas, forradas em jornais.
E o frio parece contiver os que estão protegidos.
E fingimos, assim. E vem uns dias a mais!
- e nos muros, reclamam-se a paz.

E, ao deitar a pedra na cabeceira;
- a consciência parece nos advertir.
Somos todos os seus cicerones
guiando os seus favores
trilhando os seus desamores
- pintando o sete em suas cores.

A manchete do meu desprezo
é contentar viver na tua fuga;
Enquanto descalços, perdemos unhas.
Enquanto palmos, perdemos dedos.
Enquanto dormimos, perdemos desejos.

E acordamos cedo, levantando os pobres de nossa alma.
- E olhando os despertos, sempre calmos.
E a rotina é a sua calma, os sonhos são seus depressivos
- contidos apenas. E ainda lamentar os vencidos.

As Crônicas de Uma Poesia AusenteOnde histórias criam vida. Descubra agora