Capítulo 01

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Capitulo I

Sentada na varanda,Manuela observava o cachorrinho da vizinha. Era um pequeno chihuahua castanho. O pai estava dentro da casa com a mãe, almoçando.
Ele havia lhe trazido uma linda boneca de porcelana com a pele clara e lindos cachos louros, que não agradara nem um pouco a pequena Manu. Ela detestara o fato do brinquedo se parecer tanto com aquelas patricinhas debochadas que a provocavam na escola.
A menina não pensou duas vezes, olhou em volta,os pais não davam sinal de que sairiam tão cedo,então ela aproximou-se da mureta que separava as duas casas e atirou o brinquedo ao cachorro,ficou parada observando enquanto o chihuahua desfigurava o rosto da boneca,pensando em como seria bom se o animal se engasgasse e morresse,assim se livraria de dois incómodos,mas logo que destruiu o brinquedo, o animal perdeu o interesse e voltou a latir pra ela.
-Cachorro maldito!- ela atirou uma pedrinha nele,que grunhiu e correu para longe da menina.

Ela só tinha nove anos,mas era madura demais para a idade e tinha uma raiva intensa dentro de si,de tudo e de todos a sua volta,principalmente de seus pais,queria vê-los mortos.

Manuela adentrou a casa,seus pais nem a notaram quando ela passou por eles,estavam ocupados demais. Heloísa estava de quatro no braço do sofá, enquanto Alfredo a penetrava em estocadas fortes. Manuela parou,olhando a cena enojada,depois seguiu para a cozinha,apanhou um pedaço de queijo na geladeira e o veneno de rato que a mãe escondia atrás das panelas,no armário. Temperou o alimento e voltou ao quintal,aproximou-se da mureta e chamou o animal,mostrando-lhe o "agrado" que tinha em mãos, o pobre cãozinho veio correndo até ela e ela jogou o pedaço de queijo para ele e sentou-se para observar o resultado.
Mas,aquilo estava demorando demais,ela sabia que o veneno demoraria pelo menos,trinta minutos pra surtir efeito.
Sabia disso,por que já tinha visto aquele efeito no gato de sua mãe,aquele animal detestável que a arranhara,e que ela fez questão de dar o seu "jeito" nele.

O cachorro foi deitar-se num canto,indício de que as dores já haviam começado,mas ela não estava disposta a esperar mais,não dessa vez. Estava com muita raiva e tinha que extravasar.

Ela tirou o cinto de sua saiinha levemente rodada e pulou a mureta,aproximou-se do cão sem que ele esboçasse reação.

-Não está mais tão valente agora,não é ?!-ele grunhiu de dor- Chegou a sua hora!

Ela abaixou-se atrás dele,tirou a coleira do seu fino pescoço e em lugar dela,enrolou o seu cinto,apertando com força,o animal grunhiu e ela apertou com ainda mais força. Em sua cabeça,vieram as imagens do rosto de seu pai,sua mãe e daquelas cretinas da escola,todas com sua aparência de Barbie,o que lhe dava ainda mais força e vontade de sentir a vida se esvair em suas mãos, sentiu o corpo do animal esmorecer e olhou para o pobre animal inerte em seus braços,sem nenhum remorso. Os olhos tinham saltado das órbitas, o sangue do cão respingara em sua blusa cor-de-rosa, e havia uma escuma branca em sua boca, misturada a sangue.

Finalmente, o silêncio!

Ela arrastou o corpo do animal até a frente da casa e deixou-o a porta,para que a vizinha o visse assim que chegasse.
Pensou em ficar ali na varanda,aguardando que a vizinha recebesse a surpresa,mas achou que seria arriscado demais. Não queria que ninguém associasse ela ao fato. Então ,saltou a mureta e adentrou sua casa.

O pai deveria estar no quarto dormindo e a mãe estava deitada no sofá com os braços pendendo para baixo,a garrafa de conhaque jazia no chão,vazia

-Onde você tava,Manu?- Heloísa perguntou erguendo levemente a cabeça,com a voz engrolada pelo efeito do álcool.

-Brincando com o cachorro da Dona Lourdes!-ela deu de ombros e subiu para o seu quarto.

ManuelaOnde histórias criam vida. Descubra agora