Capitulo 03

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             O enterro

Se havia um lugar no mundo onde Olavo podia ter certeza que não há mais nada depois da vida,e que toda a vida está por um triz ,era num cemitério.
Apesar das árvores frutíferas e frondosas,da grama verde e muito bem aparada,de toda a variedade de flores de cores vibrantes e dos arbustos devidamente podados, a áurea de morte no local era algo gritante.
Todas aquelas lápides talhadas em mármore da melhor qualidade,devidamente alinhadas e impecavelmente conservadas. Só faziam com que ele se sentisse triste e angustiado.
Ele caminhava entre as lápides pensando que logo seu pai estaria sendo colocado em um buraco com uma lápide daquelas por enfeite.

Alma não entendia, porquê assim como todo mundo, Olavo não ficava próximo ao caixão. A questão é que ao contrário das outras pessoas ,a pregação daquele padre não lhe dizia nada e era absolutamente maçante.
Olavo nunca foi um homem de fé, para ele Deus era um invencionismo de pessoas alienadas,contribuía para as obras assistenciais da Igreja que a mãe frequentava,para não ter que suportar a ladainha do padre em seu ouvido,implorando por migalhas. Enquanto a mãe era uma católica fervorosa,com uma capela com várias imagens no quintal da mansão onde viviam. Olavo não tinha a menor inclinação religiosa,ainda que a mãe o obrigasse a acompanhá-la a igreja,e exigisse que ele se prostrasse de joelhos todas as manhãs para rezar um Padre-Nosso,uma Ave-Maria e um Credo quando criança.
Olavo jamais sentiu florescer em si aquela fé. Do contrário! Odiava aquela capela, odiava imagem do Cristo pregado numa cruz e sempre se perguntou como as pessoas poderiam se prostrar diante daquele objeto de tortura que matou o seu Deus!

Olavo cansou-se de caminhar e abaixou-se diante de uma lápide.

       Ana Luísa
    1992-2000

Não conhecia quem estava naquele túmulo, mas sabia que sua vida tinha se ceifado cedo, apenas 08 anos de idade ela tinha quando morreu.

-Olavo! -a voz de Rita tirou-o de seu devaneio.

-Não é estranho todo o mistério que cerca a morte? Ela só tinha 08 anos quando perdeu a vida e está a mais de dez enfiada nesse buraco.

-Ela quem?-ele apontou para a lápide e ela compreendeu

-Será que os ossos dela ainda estão intactos? Ou já viraram pó?

-Olavo...- ela não soube o que dizer então suspirou,sabia que ele estava mascarando o sentimento- Eles já vão enterrá-lo,Dona Alma pediu pra que eu o chamasse.

-Se eu não quis acompanhar o velório,por que você acha que eu quero vê-lo ser coberto de terra.

-Ele está num lugar melhor agora...-ela tocou o seu ombro e ele afastou-se bruscamente

-Dentro de uma caixa? Você também não,Rita!

-Ao menos ele descansou,não sente mais dores- ela apanhou sua mão- Vamos,sua mãe precisa de você!

Ele observou a mãe a distância, no seu vestido preto impecável! A legitima viúva de um homem poderoso! Decidiu fazer o que Rita lhe aconselhou,acompanhou-a sem deixar sua mão e notou o ar de soberba e desaprovação da mãe,diante da cena,mas não importou-se.
  Estava concentrado no caixão quando um perfume forte e adocicado invadiu suas narinas,então ergueu o rosto e encarou-a junto a todos os olhares que se voltaram para ela.

Uma mulher alta,de longos cabelos cacheados e negros,curvas sinuosas num vestido vermelho gritante,trazia nos lábios carnudos um batom na cor do vestido e nos pés saltos altíssimos. Sua presença era marcante e sua pele morena bronzeada irradiava um certo brilho,que era uma afronta a toda a morbidez que os cercava.
  Alma petrificou-se ,como se a reconhecesse,então ela ergueu um pouco o chapéu e seus olhos verdes encontraram os negros de Olavo,ele deu a volta no caixão parando diante dela.

-Quem é você?

-Manuela- sua voz doce invadiu seus ouvidos como um som quase hipnótico.

-Venha comigo!- ele não esperou autorização e arrastou-a para longe.

-Nossa! Como você é grosso!-ela disse num tom divertido

-Você era amante dele?

-Eu?- ela levou a mão ao peito e esboçou um sorriso cínico- Não! Eu não era amante dele! -o cheiro dela era inebriante e a voz incrivelmente sedutora.

-Quem. É. Você? -Olavo perguntou pausando as palavras.

-Olha! Eu não quero te causar transtorno- ela olhou na direção de Alma que a encarava,sem piscar,tinha certeza que apesar de nunca tê-la visto a socialite sabia exatamente quem ela era,ela sorriu- Eu só queria prestar uma última homenagem!- ela voltou a encará-lo -Bom! Nós ainda vamos nos encontrar,temos assuntos pendentes. Foi um prazer apesar das circunstâncias!

Ela voltou-lhe as costas e tomou a direção da saída do cemitério, adentrando um Sedan vermelho e partindo.

ManuelaOnde histórias criam vida. Descubra agora