Capitulo 02

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20 anos depois

Sentado diante do notebook,em sua ampla sala,Olavo não conseguia se concentrar nas planilhas e relatórios que tinha para analisar. Não quando seu pai estava internado na uti de um hospital, respirando através de aparelhos,ligado a um monitor cardíaco e tendo que ser submetido constantemente a sessões de hemodiálise.
A sua insuficiência renal tinha piorado gradativamente nos últimos meses,e o fato dele não ser compatível para a doação e que por mais que buscassem não encontrassem ninguém que fosse,só provocava nele uma sensação de inércia e culpa.

-Olavo?- Rita adentrou a sua sala,quase escorando-se na porta,e ele conhecia-a bem o suficiente para saber que aquele gesto vacilante não era um bom sinal.

-Aconteceu alguma coisa,Rita?- ele fechou o notebook temeroso e percebeu Rita vacilar ao abrir a boca -Rita,ele não...

-Ainda não! -ela respondeu com sua voz serena- Mas,o estado dele se agravou! -ela respirou fundo- Talvez,ele não resista mais tempo,você precisa ir para o hospital agora. Ele levantou-se bruscamente, tomou Rita pela mão e correu com ela até a garagem,deixou-se cair sobre o capô do seu Kia Sorrento preto e esmurrou-o com todas as suas forças.

-Olavo,pare...-Rita chorava,tocando o seu ombro- Por favor, acalme-se... Nós temos que ir ao hospital

A sua voz transmitiu-lhe calma e ele parou,constatando que seu punho sangrava

-Entre no carro!-ele disse enérgico

-Me deixe dirigir!-ela pediu com doçura e suavidade

-Entre no carro!-ele gritou,mas ela não deteve-se

-As chaves,Olavo! Você não está em condições de dirigir.

Ele deixou-se vencer,  entregou-lhe as chaves do carro e tomou o lugar do carona.

Olavo era o presidente poderoso de uma companhia de laticínios, acostumado a ter sempre a última palavra e deter total autoridade sobre todos a sua volta. Mas,Rita com a sua voz serena que jamais se elevava e seu jeitinho doce quase sempre conseguia demovê-lo.

Conhecera Rita nos Estados Unidos,no seu primeiro ano em Harvard,enquanto trabalhava como garçonete num pub próximo ao Campus,para pagar o seu curso de intercâmbio. Lembrava-se que se encantara por seu jeitinho meigo e e em como ela parecia frágil. Era tão magra e pálida,com seus grandes olhos castanho-claros,nariz afiladíssimo,os lábios pequenos,róseos,e bem desenhados,e os cabelos louros ,ralos e extremamente lisos.
Ela parecia uma legítima garota norte-americana,mas era apenas uma imigrante tentando "ganhar a vida" no exterior.
Firmaram uma bela amizade e por duas noites,Olavo dormiu em seus braços, infelizmente Rita foi deportada,na época sua licença de estudante não permitia que ela trabalhasse.
Olavo tentou usar sua influência,que não era tanta na época,para que ela ficasse,mas não conseguiu. Então prometer-lhe que quando voltasse ao Brasil,a procuraria e ela trabalharia para ele.
Promessa esta que Rita não levou a sério e ignorou completamente, então sua surpresa foi tamanha quando três anos depois, ele bateu a sua porta para oferecer-lhe um emprego de secretaria executiva,o qual ela aceitou de prontidão, já que durante os anos de distância, nunca foi capaz de esquecê-lo, e mesmo depois de sete anos trabalhando juntos,nutrindo por ele o mesmo amor,nada mais havia acontecido entre ambos e ela lamentava por isso. -Como vai ser daqui pra frente,Rita?-ele não encarou-a,mas notou que ela apertou o volante com força- Eu não sei lidar com a perda,eu nunca perdi ninguém.

-Você tem que ser forte,Olavo! Sua mãe precisa que você seja forte.

-Eu sei,Rita!- Olavo deixou as lágrimas rolarem,não se permitiria chorar na frente de qualquer outra pessoa,mas era Rita- Eu sempre olhei pra ele como um mártir, como alguém imortal. Um herói! Ele era meu herói! -aquilo soou tão infantil que Olavo teve receio de soar ridículo

ManuelaOnde histórias criam vida. Descubra agora