Manuela

Capitulo 07.1

-Como é que é? -Olavo quase gritou e levantou- Isso não pode ser sério!

-Mas é! -ela não moveu um músculo, parecia já estar preparada para aquela reação. -Eu não quero interferir na vida de ninguém, mas também não quero mudar toda a minha vida por causa da morte do meu pai.

Era estranho pra Olavo,escutar mais alguém chamando o pai dele de MEU,ele olhou-a e passou a enxergar as semelhanças que ela tinha com Alfredo. Os mesmos olhos verdes profundos,o mesmo nariz,o contorno do rosto. Ou será que estava enlouquecendo? Só podia ser! Aquela mulher era uma golpista!

-Olavo,eu não me importo de continuar escondida,não me importo em manter as coisas do modo como sempre foram. Eu só preciso da minha estabilidade! Eu vivi assim por vinte e nove anos. O status de filha do grande empresário Alfredo Matos Guerra,não me interessa!

-Quando você soube que era filha dela?-Olavo voltou a se sentar, passando a mão nos cabelos, num gesto claro de frustração. Lembrou-se que o pai queria que ele a encontrasse, então talvez ela estivesse mesmo dizendo a verdade.

-Eu sempre soube! Ele sempre esteve presente na minha vida. Claro que ele não podia estar sempre comigo! Já que a sociedade não podia saber do seu relacionamento com a minha mãe e da filha bastarda!

Olavo encarou-a chocado com a naturalidade com que ela dizia aquilo.

-Você tem raiva de mim?

Manuela engoliu em seco,antes de responder. Tinha que mascarar muito bem as suas emoções e não podia demonstrar nem por um instante que sentia que a vida que ele levara até agora,era por direito dela! Então vestiu o seu melhor sorriso e respondeu.

-Por que eu teria raiva de você? Eu sempre quis conhecê-lo, nós somos irmãos!
-Porque eu tive tudo o que você não teve.

Manuela riu de canto.
Tinha que admitir que seu irmão era bastante sagaz.

-Não é bem assim, Olavo! Eu tive tudo o que eu quis e o dinheiro pode comprar.

-E afeto? Você teve?

Ele parecia disposto a testá-la ou desafiá-la. Manuela riu e acrescentou de novo com o seu melhor sorriso.

-Eu fui uma criança muito amada,irmãozinho!- ela relaxou na cadeira.-E então ,o que faremos?

-Bom! Tudo o que você me contou precisa ser comprovado.

-Eu sei! Eu sei! Estou disposta a passar pelo exame de Dna quando você quiser. -ela abriu a bolsa e retirou dela a certidão de nascimento, entregando-a a ele,que foi direto conferir a filiação.

-Manuela Souza Matos Guerra- ele leu em voz alta- Filiação Heloísa de Souza Lima e Alfredo Matos Guerra! -Olavo passou os olhos também por onde encontra-se o nome dos avós maternos e paternos e constatou o nome dos seus avós ali. "Talvez o documento pudesse ser falsificado" ele pensou,mas como ela teria acesso ao nome dos seus avós?
-Você pretende contar da minha existência pra sua mãe?

Olavo ergueu os olhos do papel sem saber o que responder,entreabriu os lábios,mas não emitiu nenhum som,suspirou e fitou seus olhos, ficaram durante um tempo se encarando e Olavo não pôde deixar de pensar em como os seus lábios grossos eram convidativos e como pareciam macios.

-Doutor Olavo!-Rita interrompeu aquele momento e intimamente Olavo agradeceu,aquele tipo de magnetismo,não devia ocorrer entre irmãos- O Doutor Bernardo está aqui para vê-lo. Posso mandá-lo entrar?

-Peça que aguarde cinco minutos, Rita! Daqui a pouco estarei com ele.

-Sim,senhor!- Rita deixou a sala nada satisfeita com a cena que acabara de presenciar. Pelo visto,se antes suas chances de ficar com Olavo eram mínimas,agora eram nulas.

-Tem uma caneta?-Manuela recolheu seu documento das mãos de Olavo,ele retirou uma caneta do bolso e entregou-a a ela- A caneta tinteiro do papai! Ele adorava essa caneta!

-Verdade! -Olavo sentiu um desconforto,ao vê-la falando de seu pai com tanto carinho e entendimento!- Você pode ficar com ela se quiser!- ele sentia como se precisasse compensá-la por algo.

-Não, Tudo bem! Papai dizia que você adorava essa caneta! Mas,se quiser me dar algo dele. Eu gostaria daquele cachimbo de marfim,que ele não largava.

-Você fuma?

-Vez ou outra! -ela anotou seu endereço e entregou a ele- Não vou tomar mais do seu tempo! Pode me procurar quando achar melhor! Vou estar aguardando!

-Nos encontraremos em breve! Agora eu tenho reunião com o advogado da empresa!

-Boa reunião! -ela levantou-se e deixou a sala.
               ***

Rita observou Manuela deixar a sala,sentindo-se verdadeiramente fracassada!
Manuela aproximou-se da mesa de Rita e sussurrou num tom audível apenas a ela.

-Você vai me ver muito por aqui agora! Entao sugiro que desamarre essa cara e me trate com um pouco mais de simpatia,ou talvez cabeças rolem,e por cabeças,eu quero dizer a sua!

Manuela saiu deixando Rita com um bolo na garganta e a sensação de que seu mundo estava prestes a ruir.