Capítulo III

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– Você já disse isso. Meu nome é Marcelo Andrade. Quer ajuda para levar as compras?

– Gostaria sim. Você mora aqui há muito tempo? – Disse Ana entregando algumas das sacolas aos quais levava, estralando suas costas doloridas por ter levado tanta coisa. Ela odiava ter que abdicar sua magia para tantas coisas que eram corriqueiras, mas era questão de princípio e teimosia. –

– Caramba guria, tais fazendo rancho? Que sacolas pesadas! – Marcelo acompanhou-a até sua casa, que ficava na frente da sua. Deu um sorriso sincero pela atual moradora ter escolhido aquela casa. Ele namorava o lugar há anos e nunca teve coragem de perguntar sequer o preço. – Eu moro nesse bairro há alguns anos, acredito que uns cinco anos, desde que minha filha fez um ano... É, seis anos! – Marcelo deu um sorriso largo, lembrando de Mariana –

– Uau, como você é adulto. – Ana Lucia disse incrédula, fazendo o rapaz rir. Ele percebeu só naquela hora o quão bonita a menina era. –

– Tens quantos anos, Ana?

– Vinte e dois! Por quê?

– Não querendo te desmerecer, é que você parece muito nova para estar morando sozinha numa casa. – Marcelo disse e logo se arrependeu pelo olhar de Ana – Nossa, eu fui um babaca. Desculpa-me. Não quis falar que tu é nova demais pra nada. Foi mal.

– Poxa, tudo bem... Mas me diz, o que é guria?

– Como assim?

– Usasse essa palavra pra se referir a minha pessoa, não sei o que é.

– Não é daqui? Guria é um termo pra menina, mulher, moça, garota.

– Mujer... Eu sou de um pouquinho de cada lugar. Nasci no México mas não sou filha de mexicanos, meus pais são aventureiros. De fato, acredito que eu também. Me mudei hoje e não conheço nada por aqui. O mercado é tão longe!

Depois de ter colocado as compras em cima da mesa de Ana, Marcelo reparou na mobília da casa, estava tudo tão organizado e bem feito que sentiu uma espécie de admiração e inveja pela disposição daquela atual desconhecida. A menina fitava os braços fortes por cima da camisa branca enquanto ele observava a casa, era quase impossível não notar aquela beleza verdadeiramente brasileira. Ela deu um suspiro longo e sentou-se numa poltrona rosa que tinha na sala.

– Aceita um café? – Ela disse enquanto se aconchegava cada vez mais naquela poltrona que naquele momento, parecia ser o lugar mais confortável do mundo pra um corpo cansado. –

– Na verdade eu tenho que ir embora, acho que nem tranquei o carro. Prazer em conhecer, Ana. Espero que gostes do lugar, apesar da cidade não ser uma das maiores se tu estás acostumada a viajar, acredito que vá gostar daqui. Os vizinhos são muito queridos também, mas cuidado com dona Carmem, ela é venenosa e não deixa ninguém pisar na grama dela! Ah, precisando só chamar. – Marcelo sorriu enquanto olhou de relance para a menina, que adormeceu na poltrona de boca meio aberta, ele sorriu pensando que falou tudo em vão, mas ao mesmo tempo, apreciou a boniteza que era essa nova vizinha. Ana tinha os cílios longos e pretos, junto com sua sobrancelha marcante e cabelos ondulados castanho escuro. Com a pele branca como neve e sardinhas marrons cobrindo parte do seu rosto. Marcelo sentiu uma força muito grande naquela menina-mulher que tinha pelo menos quinze centímetros a menos que ele de altura. "Ela parece uma de minhas alunas formandas", suspirou, pensando no quão nova ela era em relação a ele. Saiu dali trancando a porta e deixando a chave por debaixo.

– Bom dia querida. – George acordou sua filha com uma xícara de café recém feita – Nunca vi, pode ter mil camas, sempre irá preferir um sofá, desde pequena com essa sua mania de ficar desconfortável.

– Pai? O que o senhor está fazendo aqui? Que horas são?

– Hora de ir pra casa. Volte comigo para Madrid. O clima lá esta muito agradável esse ano.

– Não vou embora, mas agradeço o café. – Ana pegou o café e tomou um gole e com a outra mão, abriu a imensa cortina de sua sala, que dava pra frente da casa do seu novo vizinho. –

– Ah, querida. Não vi nenhuma graça nesse bairro pacato. Tirando aquela vizinha Carmen, muito bonita ela é. Será que é casada?

– Pai! Não de em cima de minhas vizinhas. Não quero problemas. E como chegou tão rápido?

– Eu sou um bruxo, filha.

– Eu sei, mas... – Foi interrompida por seu pai –

– É preciso ser feiticeiro por muitos anos para adquirir certas habilidades e simpatias nesse mundo, você chegará lá, querida.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora