Capítulo V

34 1 0
                                    

– Boa noite, papai falou que você é nossa nova vizinha e eu achei que ia ser legal dar um pouco desses doces pra ti. É brigadeiro, eu que fiz! Uns tens formato estranho mas é pra ser redondo ok? Boa noite e bem vinda! – A menina que Ana deduziu ser a filha de Marcelo, a abraçou e saiu correndo para dentro da casa do pai. Que sorriu e deu um tchau a distância para Ana, que sorriu envergonhada pela situação de mais cedo, retribuiu o aceno e fechou novamente a porta.

Como aquele doce era bom! Como não havia em outros países aquela coisa maravilhosa que fazia a boca salivar? Já experimentaram tomar com leite? Ana estava incrédula com o sabor daquela gostosura que até então não conhecia. Acabou comendo todos os brigadeiros, o que ocasionou uma dor de barriga na menina, que não se arrependerá sequer. No dia seguinte, Ana acordou triste. Havia sonhado com Miguel. Ela só tinha amado uma vez e foi Miguel, uma mistura boa de sensação de segurança e amor, mesmo depois de anos, não entendia como ele podia ter feito tudo aquilo com ela. Miguel fazia juras de amor e Ana acreditava, quem não acredita em amor eterno aos 17 anos? Com Ana não foi diferente. Ela queria poder acreditar que um dia alcançaria essa sensação de novo, mas tem muito medo de se entregar e alguém quebrar o coração dela de novo. Não aguentaria mais uma dor de amor e ela não têm disposição para ser o plano B de ninguém! E assim passou o dia, chorando e vendo filmes de comedia romântica, enquanto comia qualquer porcaria da geladeira. Por volta das 19:40, bateu na porta do seu vizinho. Nem ligará se sua cara estivesse inchada de choro, de fato, só queria agradecer pelo gesto carinhoso da noite passada. Vestindo um vestido preto soltinho de verão, arrumava seu cabelo pelo reflexo do espelho, se sentia a bagunça em pessoa. Quem atendeu a porta foi Marcelo, usando apenas um calção e chinelo, com sua filha do lado curiosa querendo saber quem era. E que corpo ele tinha! Para quebrar o transe, só Mariana falando para salvar a situação constrangedora. Ela não tinha o costume de ter pensamentos pecaminosos, mas o corpo de Marcelo era um pouco inevitável não ter. Nada mais sexy que um homem bem resolvido, professor e ainda por cima, inteligente.

– Oi tia! Que carinha é essa? – A menina a abraçou novamente e dessa vez, Ana a abraçará de volta, um abraço acolhedor que encheu o peito de Ana de força –

– Oi linda, não é nada não, a tia tava vendo filme. Só isso. – Ela sorriu, dando por sequência um longo suspiro – Queria agradecer pelo brigadeiro, estava uma delícia! – Marcelo fitou aquela carinha de choro de Ana e se perguntou o que teria acontecido –

– De nada, mamãe que me ensinou. Se quiser te ensino também, queres jantar? Papai fez macarrão com almôndega, apesar de não cozinhar muito bem, macarrão ele sabe.

– Acho melhor não doçura, amanhã acordo cedo e não quero atrapalhar.

- Você não atrapalha, entre por favor, estou convidando também.

Marcelo abriu um sorriso enorme para Ana, fazendo com que ela se sentisse bem vinda. Na noite anterior, foi dormir pensando naquela situação conflitante e do nervosismo aparente dela ao se recusar a entrar em sua casa. Era um medo evidente ao qual Marcelo não conhecerá antes. Primeiro pensou que tinha cara de tarado ou talvez alguém que poderia cometer alguma ruindade, mas depois acabou dando-se conta que na verdade era só um medo natural, provavelmente, de qualquer mulher. Ana observou cada parte da casa, da pintura até os retratos que ele tinha. O que deixou Marcelo constrangido e sentindo-se avaliado constantemente. Ele não trazia mulheres para a sua casa, normalmente preferia passar a noite na casa da ficante do momento. Ele colocou mais um prato na mesa e deliciou-se ao ver sua pequena sorrindo ao querer mostrar todos os brinquedos e desenhos para Ana. Amava demais aquela menina e ultimamente, era só Mari que fazia Marcelo querer levantar da cama, andava muito estressado com seu trabalho e principalmente, com seus alunos.

– Quer mais? – Ele pegou mais um pouco e ofereceu para Ana. –

– Ah, não sei, sinto que se eu comer mais eu vou explodir. – Ana deu um sorriso sincero, o que fez com que ele risse. Ela ficava boba com aquele sorriso branco que o rapaz tinha, sem falar nas covinhas... E no cabelo... E nos olhos castanhos... E no sorriso?! – Quer ajuda pra lavar a louça? – Ela disse assim que saiu do transe –

 E no sorriso?! – Quer ajuda pra lavar a louça? – Ela disse assim que saiu do transe –

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

– Valeu, mas não precisa. Hoje a louça é da Mariana.

– Mas pai...

– Sem, mas, guria! Senão não ganha sobremesa.

– Tá vendo tia?! Ele vai me tirar a sobremesa se eu não fizer. Mamãe não faz isso!

– É claro que não doce, sua mãe mais te cria com a babá do que por ela. Agora, já! – Disse dando um beijo na testa da menina que emburrada, deu-se por vencida. Agora voltando sua atenção para Ana – É, ter filhos é assim.

– Eu não sei se um dia quero ter filhos, mas sua filha é uma gracinha.

– Ela é mesmo, né? Bah Ana, ter filhos é muita responsabilidade. Ela veio sem querer pra ser sincero, eu não tinha nem terminado a faculdade ainda, estava na metade. Namorava há mãe dela há uns dois anos e não tinha planejado nem casamento. Mas aconteceu e foi a melhor coisa que me aconteceu. Só sinto muito que ela tenha sempre que ficar dividida entre mim e a mãe dela, eu até tento fazer com que ela não se sinta pressionada, mas a mãe também não ajuda... – Ele deu um longo suspiro – E eu sinto muito pelo desabafo.

– Eu não sou boa conselheira, mas sou boa ouvinte. Fique a vontade. – Ela sorriu –

– Você é sempre simpática assim?

– Só quando é recíproco. E desculpa por ontem, não quis dar a entender que te acho um maluco ou sei lá o que.

– Que isso, tá tudo bem! Mesmo. Mas me conta sobre ti.

– O que você quer saber?

– Sinceramente? O que uma mulher de 22 anos que nunca esteve no Brasil veio se mudar justamente pra essa vizinhança. E o porquê de estar aqui. – Marcelo disse sem conter a sinceridade, o que fez Ana dar um largo sorriso –

– Precisava de um lugar pra me estabelecer. Acho que tenho medo de raízes e preciso mesmo me acentuar a algum lugar... Me mudo com muita freqüência toda vez que me sinto triste por longos períodos ou vazia. Deve ser medo de encarar meus problemas. – Ana deu de ombros e olhou para os seus dedos, que estavam mexendo novamente. Marcelo a deixava nervosa. –

– E aquele homem na sua casa ontem pela manhã?

– Era meu pai, o nome dele é George.

– Hum. Desculpa a intromissão, sou metido e nem percebo.

– Só estará perdoado se eu ganhar sobremesa também.

E assim foi a conversa que durou quase até a meia noite, quando perceberam do horário e Marcelo a levou até a porta de sua casa. Onde se despediram com um beijo no rosto e um agradecimento novamente pela parte de Ana.

– Ei, você pode me chamar de Lucia se quiseres.

– Como assim?

– Ah, meu nome é Ana Lucia Franco!

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora